CASOS CRIMINAIS DISPARAM A COMPETITIVIDADE PELO FURO DE REPORTAGEM

A abordagem dos veículos midiáticos no último mês sobre o caso criminal do jogador de futebol, Rafael Silva, da Portuguesa, adéqua-se ao padrão jornalístico adotado pela imprensa para alcançar o “furo de reportagem”. A indústria da informação cria a concorrência pela matéria e a competitividade para primeira aparição da notícia, nem sempre checada, tornando-se motivo de discussão entre especialistas e autoridades.

As questões mais relevantes indagaram sobre o papel de jornalistas e mídia em coberturas de violência social e a passividade da população, enquanto “plateia”, de um grande espetáculo exposto, aparentemente, sem questionamentos. A psicóloga Iara Pereira, há 23 anos na área, opina a respeito: “Infelizmente, a essência de se fazer jornalismo costuma ser deixada de lado, buscando sempre o enfoque fantástico com excessos do fato, como a última ocorrência sobre o atacante Rafael, atraindo facilmente as pessoas e aumentando a audiência, a primeira regra da imprensa”. A profissional de psicologia afirmou, ainda, que há veiculação de informações não confiáveis, que geram expectativas, insinuações, expondo as vítimas e suas famílias com a criação de pseudos-ídolos delinquentes e réus como “coitados”. E enfatiza: “O alto grau de exposição, que transforma “bandido em mocinho”, inocente em culpado, vem influenciando comportamentos similares, onde pessoas vulneráveis de psíquico geram estímulos pelo crime e pelo agressivo”. A especialista analisa que, dessa maneira, nascem recursos para o desenvolvimento de novas e velhas doenças mentais nos seres humanos. Para exemplificar sua citação, relembrou também do assassinato de Eliza Samúdio, uma vez que a história acarretou diversas especulações, além de várias capas de revista com manchetes dramatizadas sobre a “carreira de sangue” do goleiro do Flamengo, até então, aclamado.

Para ilustrar o cenário criminal atual, o sargento do Comitê de Política Monetária (COPOM) há oito anos na base, Felipe Lustosa, comenta a respeito: “A imprensa vive de escândalos. Uma frase, mal interpretada, será mal veiculada e poderá desestruturar todo trabalho investigativo da corporação. Se houvesse menos holofote da mídia, o desfecho de um caso poderia ser diferente, assim como a relação estabelecida entre eles e nós, policiais. Se fosse de cumplicidade, seríamos fortes aliados. Os limites nem sempre são respeitados”. O advogado Dr. Tiago Pavani complementa sobre o assunto: “Os repórteres, no geral, tentam ser mais que policiais. Em situações que geram comoção pública, fazem suas próprias investigações na ganância de conseguir informações exclusivas para que sua carreira ganhe notoriedade. Há notícias não confirmadas, que deixam a população apavorada com o noticiário”.

A morte da namorada de Rafael, atacante da Portuguesa, é mais um caso assiduamente tratado pelos veículos midiáticos como outros passados. O assassinato da advogada Mércia Nakashima é um exemplo de que não somente pessoas famosas ganham destaque em tragédias noticiadas. Os veículos utilizam o viés condizente à intenção de público que querem atingir. Trazem proximidade para o leitor e telespectador do ocorrido, despertando a preocupação para que haja o acompanhamento do caso. A estudante de Relações Internacionais, Rafaela Verdiani, de 22 anos, contempla a situação com sua visão: “Penso que a imprensa usa estas ocorrências de violência para abafar assuntos piores relacionados ao governo e corrupção. Armam um verdadeiro cenário por semanas, testando a memória da população”. Finaliza ressaltando que os impulsos das pessoas, antes reprimidos em casos semelhantes a esses, libertam-se para um mundo estereotipado.

PUBLICADO PELA MINHA FILHA - NATALYA BEATRIZ - ESTUDANTE DE JORNALISMO.

BIA MARTINS
Enviado por Helenynha em 03/09/2011
Código do texto: T3198367
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