Há uma criança na Rua

Armando Tejada Gómez – Há uma criança na rua

A esta hora, exatamente, há uma criança na rua.

É dever do homem proteger o que cresce,

Cuidar para que não tenha uma infância dispersa pelas ruas,

Evitar que naufrague seu coração de barco,

Sua enorme vontade de pão e chocolate,

Caminhar por seus países de bandidos e tesouros

Pondo-lhe a esperança no lugar da fome.

De outro modo é inútil ensaiar na terra a alegria e o canto,

De outro modo é absurdo porque de nada vale se há uma criança na rua.

Importam duas maneiras de conceber o mundo:

Uma, ser alguém como as outras pessoas ou

Arrancar cegamente dos demais a bolsa.

E a outra, um destino de salvar-se com todos,

Comprometer a vida até o último náufrago.

Como se pode dormir de noite se há uma criança na rua?

Exatamente agora, se chove nas cidades,

Se desce o nevoeiro gelado no ar

E o vento não é nenhuma canção nas janelas,

Não deve andar o mundo com o amor descalço

Levando um diário como uma asa na mão.

Trepando nos trens, provocando-nos o riso,

Golpeando-nos como um anjo de asa cansada,

Não deve andar a vida, recém nascida, já lutando,

A meninice arriscada a um pequeno ganho,

Porque então as mãos são dois fardos inúteis

E o coração, apenas uma má palavra.

Eles esqueceram que há uma criança na rua,

Que há milhões de crianças que vivem na rua

E uma multidão de crianças que cresce nas ruas.

A esta hora, exatamente, há uma criança crescendo.

Eu a vejo apertando seu coração pequeno,

Ohando para todos com seus olhos de fantasia,

Percorrem e olham para o homem rico,

Um relâmpago forte cruza seu olhar,

Porque ninguém protege essa vida que cresce

E o amor se perdeu como uma criança na rua.