O Preconceito Racial como empecilho de aceitação do negro na sociedade contemporânea, nas relações de gênero, à luz da obra, Otelo, O Mouro de Veneza, de Shakespeare

O preconceito racial é uma forma de exclusão social bastante comum no mundo e o Brasil apesar de ser um país com uma população em sua maioria negra os registros históricos provam que o negro sempre foi discriminado em todos os aspectos.

Para entender essa asserção é necessário voltar ao período de colonização do país, para perceber que a discriminação se perpetua através da história. De acordo com a socióloga Maria das Dores Silva, professora da Universidade de Uberaba – MG, a sociedade contribui para que o preconceito seja voltado para os negros. Durante a colonização do Brasil, as terras foram tiradas do poder dos índios, que se viram obrigados a trabalhar. Como não se adaptaram bem, por recusarem a escravidão, foram substituídos pelos escravos africanos, Os negros foram arrancados de sua pátria e trazidos para as Américas – um continente desconhecido, onde não lhes ofereceram nenhuma vantagem.

Mesmo depois da abolição, no dia 13 de maio de 1888, os negros não se libertaram data daí, de acordo com a socióloga, o período da intensificação do preconceito. “O conflito pessoal começa quando a raça branca faz algum tipo de comentário sobre o passado dos índios ou negros, por causa da escravidão”, aponta Maria das Dores. Segundo ela, é necessário também recorrer à biologia para que o racismo não seja sinalizado somente no campo ideológico. “Existe uma parte da ciência, também chamada de racismo, que estuda a mensuração das espécies humanas. São comparados ossos de homens negros com os brancos, amarelos e vermelhos, para indicar quais são as diferenças entre cada raça”, explica.

É exatamente a mistura dessas raças que pode causar mudanças na sociedade. O Racismo ou Etnocentrismo é a característica de um grupo racial que cria conflitos, tentando mostrar-se melhor que os outros. A Sociologia classifica racismo como uma discriminação ideológica, na qual um grupo considera ter mais qualidades que o outro. “O preconceito é um relativismo individual que resulta em conseqüências graves. As pessoas por acharem que são melhores começam a desmerecer as outras”, esclarece.

Para a Psicologia, o racismo pode gerar certos tipos de patologias nas pessoas discriminadas. A psicóloga Osimar Beatriz Tura, cuja experiência soma-se nove anos de atendimento clínico na cidade de Conquista/MG explicou que as pessoas, quando discriminadas sofrem certo isolamento, podendo ter como conseqüência a violência. “Quando alguém está sendo inferiorizado, seja por causa de sua cor ou por sua crença, passa a desenvolver problemas psicológicos. Com isso, fica doente ou até mesmo desenvolve um sentimento de raiva, tornando-se violento”, explica.

Pode-se dizer que a obra de Shakespeare, Otelo o Mouro de Veneza, que gira em torno da traição e da inveja e tem o preconceito racial como norteador da história do início ao fim está inserido nesse contexto. Essa asserção é confirmada, quando Brabâncio, uma das personagens, rico senador de Veneza, deixara a filha Desdêmona livre para escolher o marido que mais a agradasse, acreditando que ela escolheria para seu conjugue, um homem da classe senatorial ou semelhante. Ao tomar conhecimento de que a filha havia fugido para se casar com o Mouro, foi à procura de Otelo para matá-lo. Esse trecho do início da obra, no primeiro ato, deixa clara manifestação de atitudes racistas. A liberdade para que a filha escolhesse o seu marido foi completamente tolhida quando soube tratar-se o escolhido de um negro.

Ainda no primeiro ato da peça, numa reunião, Brabâncio acusou sem provas, o Mouro de ter induzido Desdêmona a casar-se com ele por meio de bruxarias. Otelo, que era general do reino de Veneza e gozava da estima e confiança do Estado por ser leal, corajoso, destemido, fez um relato em sua defesa o que fora confirmado pela própria Desdêmona. Por isso e por ser o único capaz de conduzir um exército no contra-ataque a uma esquadra turca que dirigia-se à ilha de Chipre, Otelo foi inocentado e o casal permaneceu junto.

Mais uma vez, nesse ato, a atitude de Brabâncio configura-se como racismo, quando ele não concebe que sua filha, sendo branca, possa apaixonar-se livremente por um negro e atribui a paixão de Desdêmona pelo Mouro, como um ato de bruxaria (o que acreditavam que os negros faziam para conseguir o que desejavam) praticado por Otelo com o intuito de enfeitiçá-la, e tenta incriminá-lo, o que Otelo, com a ajuda de Desdêmona consegue contornar e livrar-se da acusação. Nesse aspecto, também é detectado racismo por parte do estado que livra Otelo da acusação não por ter se convencido da inocência dele perante a acusação do pai de Desdêmona, mas por ter Otelo como o único capaz de conduzir o exército contra os turcos e salvarem-se. Será que teriam a mesma complacência se a situação fosse oposta?

Shakespeare traz o preconceito racial muito presente na sua obra conforme relata o escritor Sergio Cardoso no seu livro Os sentidos da paixão (1987p.232):

No fim do século XVII, Thomas Rymer, que deixou comentários sobre o teatro de Shakespeare, considera que a moral da peça é a seguinte: “uma advertência para que as moças de boa família não fujam com mouros sem o consentimento dos seus pais”. Essa pérola mostra como, desde sempre, por detrás do amor, do ciúme, da tragédia, se encontra em Otelo, latejante, o fato ineludível de se trata da paixão recíproca de um negro por uma branca.

Fato ineludível, se considerarmos o texto shakespereano, que é perfeitamente explícito sobre esse ponto. Mas seria possível fazer uma longa história da má-fé com a qual tentou-se negar a cor da pele do mouro.

Sérgio Cardoso (1987p.233) ainda descreve o que outros autores da época escreveram sobre a obra de Shakespeare:

Coleridge, nas Conferências sobre Shakespeare, diria “seria monstruoso pensar que essa bela e jovem veneziana se apaixonasse por um verdadeiro negro”. Lord Derwent, em sua excelente biografia de Rossini, conta que tenor Tacchinardi, intérprete de Otelo, fez imprimir, num programa de 1819, as seguintes indicações: “Poder-se-á perguntar por que Otelo não aparecerá no palco maquilado como um mouro, como pode, por razões que nos escapam o texto inglês. Mas como parece impossível que uma jovem amável, cortejada por moços atraentes, caia apaixonada por um mouro cujo aspecto só pode ser considerável horrível e aterrador, o que nos parece mais plausível, pois, afinal de contas, nem todos os filhos da África são marcados por um rosto negro”. E Tacchinardi representou um Otelo de tez imaculamente branca.

As razões do tenor – que evidentemente hoje nos parecem infames e ridículas – são, no entanto, alguns dos argumentos que Iago destilará nos ouvidos de Otelo, fazendo com que o mouro assuma e admita sua própria animalidade monstruosa. Diz Iago: “Assim, para vos ser franco – ter recusado tantos partidos que se ofereciam a ela, de seu próprio clima, de sua raça, de sua posição – como vemos a natureza preferir em todas as coisas – bah! Pode-se perceber nisso um desejo corrompido, uma desproporção imunda, pensamentos contra a natureza”.

Na opinião de Sérgio Cardoso (1987p.233) o racismo fica caracterizado na obra de maneira explícita e apresenta a visão de Vitor Hugo, que era apaixonado por Shakespeare, para com a obra Otelo, O Mouro de Veneza:

O racismo parece ser tão mais insuportável quanto ele exprime numa relação de ordem carnal. O corpo alvo e luminoso de Desdêmona contra a pele escura de Otelo: eis o que podia horrorizar. Vitor Hugo, cujo amor por Shakespeare e o afeto pelas vítimas era imenso – e que também não conseguia resistir a antítese -, escreveu: “O que é Otelo? É a noite. Imensa figura fatal. A noite está apaixonada pelo dia. O negro ama a aurora. O africano adora a branca. [...] Ele tem o brilho de vinte vitórias, esse Otelo; mas ele é negro”. Aqui não há preconceito: ao contrário, a cor da pele é elevada à metáfora literária, e Otelo, o negro, adquire uma grandeza cósmica. Mas, ao mesmo tempo, sua união com Desdêmona perdeu todo o caráter físico. Para que Victor Hugo possa aceitar esse casal, ele precisa afastar toda substância corporal, tudo o que possa nos levar à sexualidade. Ora, em Shakespeare essa sexualidade inter-racial, carregada de preconceitos, está presente desde o início da peça – e, em contrate com a espiritualização hugoana, cito as palavras de Iago, quando anuncia a Brabâncio, o pai de Desdêmona, o casamento de sua filha com o mouro: “Agora mesmo, nesse momento, um velho bode negro está cobrindo vossa ovelha branca... o diabo vos fará ficar avô”.

No Brasil, assim como na peça de Shakespeare, o preconceito racial é exercido também em relação à aparência da pessoa, é uma violência racista do branco em relação ao negro, tirando os seus valores e implantando o ideal de brancura. Na peça essa analogia é identificada na personagem Cássio, que era branco e bonito, o “partido ideal” pode-se dizer para Desdêmona, ao contrário de Otelo, negro, que não tinha os atributos desejáveis pela sociedade.

A auto-estima que é a capacidade que o ser humano tem de se valorizar, de se aceitar e desenvolver o seu amor próprio, também é um fator positivo na luta do negro pela igualdade racial. Junta-se a ela o empoderamento como ferramenta capaz de despertar as suas potencialidades. Otelo, na peça era um homem forte, corajoso, sábio, honesto e de boa índole, o que lhe rendeu um auto cargo de confiança no estado comandando um exército, com os seus subordinados, sendo aceito e respeitados por uns, como Cássio e invejado por outros a exemplo de Iago e Rodrigo.

Para o Professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, José Romero Araújo Cardoso, ser negro no Brasil é na verdade provação das maiores:

Negro, filho de pais considerados “brancos” enfrento constantemente, e cotidianamente, o significado desse desafio. Não conto os momentos de constrangimento que já passei, e ainda passo, devido a cor da minha pele. Até ameaça de morte já sofri, em Pombal, quando namorava moça de cor “branca”. E, Mossoró, berço das idéias abolicionistas, também já sofri descaso racista. [...] O negro, em geral, no Brasil, a exerção dos poucos que galgaram projeção em diversas áreas, ainda é considerado cidadão de pouca proeminência, mas, concientizando-se de que há saída para o impasse, sobretudo a “alma negra” para sua afetiva valorização, conseguiremos traçar novos horizontes em que a dignidade impere de forma afetiva.

No Brasil existem várias manifestações de racismo atualmente que podem ser facilmente identificadas. Uma delas é a ausência da comunidade negra na estruturas de governo, da economia e dos meios de comunicação. O que se vê, por exemplo, nas ruas do país não se reflete nas instâncias de poder, nos meios de comunicação, pois nas ruas a maioria da população é negra e no poder maioria é branca. Percebe-se, no entanto, que há um esforço do atual governo na luta contra o racismo, criando estruturas que dêem subsídios para isso como a SEPPIR (Secretaria Pela Igualdade Racial) com políticas afirmativas, dentre elas as do âmbito jurídico, mostrando uma vontade de acabar com o racismo.

Segundo o jornalista negro Cláudio Henrique Faustino trabalhador negro brasileiro ainda é discriminado com relação ao trabalhador branco:

“cotas para negros e feriado da Consciência Negra” são medidas necessárias perante as estatísticas que comprovam que somos muitos, mas vivemos ainda em piores condições de vida. O trabalhador negro brasileiro mesmo com boa qualificação profissional ainda não garante salário igual ao branco. O povo brasileiro precisa saber mais sobre a realidade do negro no Brasil antes de criticar as chamadas “ações afirmativas” que visam incluir os negros em universidades, empresas públicas e até em algumas particularidades através do sistema de cotas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando da cerimônia de formatura da Unipalmares no estado de São Paulo, que tem 87% dos alunos afrodescendentes, criticou o preconceito racial e a falta de espaço que os negros têm na sociedade brasileira. Lula disse que existem poucos advogados ou médicos e que teve dificuldade para indicar um negro como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Na avaliação do presidente, a formatura dos 126 alunos, sendo 110 negros, demonstra que o Brasil começou a mudar.

A gente tem que acreditar que o Brasil começou a mudar, porque a gente não via um negro no banco há muito tempo, a não ser se fosse para depositar dinheiro para o seu patrão. A gente não via negro dentista nem médico. Poucos são os advogados. Eu lembro o esforço que fiz para encontrar um negro para levar para a Suprema corte desse país” afirmou Lula, em uma referência indireta ao ministro Joaquim Barbosa, o único negro a integrar o STF.

O presidente também criticou o fato de a imprensa sempre mostrar o negro em situações constrangedoras. “Quero que a imprensa consiga retratar a beleza e a cara desses jovens que estão recebendo seus canudos. Porque, muitas vezes, o povo não consegue nem conquistar a auto-estima porque algumas pessoas não querem deixar. Ou seja, quando mostram um negro na TV, normalmente, é sendo preso pela polícia”, afirmou.

Para Cláudio Henrique Faustino, jornalista pela PUC-Campinas, autor de reportagens e documentário sobre o negro, mesmo depois de formado o negro enfrenta resistência no mercado de trabalho e que só agora a mídia está tendo consciência de que o negro consome: come, veste, escova os dentes, usa sabonete, mora e estão investindo na imagem publicitária do negro para valoriza-lo como consumidor potencial. Chama a atenção o fato de que em atividades elitizadas o negro não está presente, devido a falta de oportunidades, por isso o estardalhaço quando o Heraldo Pereira foi o primeiro negro a apresentar o Jornal Nacional, e Netinho virou apresentador na Record. Na televisão do inteiro a presença do negro é praticamente inexistente, mesmo sabendo que a audiência e o consumo dos produtos veiculados numa emissora dependem também do cidadão negro.

Eu autor dessa matéria sou jornalista, negro, formado pela PUC, roterista treinado pela Rede Globo, com documentário no acervo da TV Cultura numa ocasião fui convidado por uma emissora do Sul de Minas para um teste e a chefe de Rh (Recursos Humanos) se surpreendeu que eu tivesse tal currículo, liguei para saber a resposta do teste e fui mal tratado. Ainda hoje atuo como jornalista freelancer.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou ano passado os números da desigualdade racial, no Brasil: O Atlas Racial Brasileiro, estudo desenvolvido pelo PNUD em parceria com o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da Universidade Federal de Minas Gerais, com base nos censos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 1991 a 2002. Para o jornalista, advogado e poeta, ativista do Movimento Anti-Racista Brasileiro e presidente da Ong ABC sem racismo, Dojival Vieira, trata-se de uma radiografia ampliada dos males que explicam as causas da exclusão social do Brasil e a assimetria secular entre os dois “brasis” que nunca se encontram: o rico, incluído, de uma classe média com alto padrão de consumo, que manda seus filhos passarem férias em Miami; e o pobre, excluído, cujos filhos já nasceram em desvantagem, por terem tatuada na pele as marcas da descendência africana.

Os dados apontados na pesquisa contrariam os adeptos da democracia racial que dizem não existir racismo no país. Vejamos os números revelados pelo Atlas:

1. Uma criança negra no Brasil tem 66% mais chance de morrer no primeiro ano de vida do que uma criança não negra;

2. O atendimento médico está mais disponível para a população branca na proporção de 83,6% contra 69,7% para a população negra;

3. O número de negros que passou alguma vez na vida por um dentista é duas vezes menos que o de brancos, o mesmo ocorrendo com o acesso a Plano de Saúde;

4. Os negros representam 65% da população que vive abaixo da linha de pobreza e 70% da população que vive em condições de indigência. Ou seja, de cada dez miseráveis no Brasil, sete são negros; No cômputo geral, 50% da população negra vivem abaixo da linha de pobreza, contra 25% da população branca;

5. E, por fim, uma pessoa negra nascida em 2000, viverá, segundo o Atlas Racial Brasileiro, 5,3 anos menos que uma pessoa branca; no caso da mulher negra, 4,3 anos menos.

Em resumo, diz o Estudo que a população negra tem hoje, em média, os níveis de qualidade de vida que a população branca tinha no começo dos anos 90, um déficit de dez anos. Dojival Vieira afirma que esses números nada mais fazem do que confirmar outros dados e estudos de instituições como o IBGE, IPEA, DIEESE, além de trabalhos de pesquisadores e acadêmicos renomados, não faltam os que recorrem às explicações mais disparatadas e “criativas” para negar o que salta aos olhos: que tais desvantagens para a população negra estão umbilicalmente associadas ao nó da herança maldita do escravismo, dívida jamais assumida pelo Estado Brasileiro.

A Constituição Brasileira de 1988 tornou a prática do racismo crime, sujeito a pena e prisão inafiançável e imprescindível; A Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo I preconiza que: “todos nascem livres e iguais em direitos e dignidade e que sendo dotados de consciência e razão devem agir de forma fraterna em relação ao outro” e a Constituição da República Federativa do Brasil consagra referidos princípios (igualdade, liberdade, fraternidade) no artigo 5º. Portanto a lei assegura a igualdade de direitos, mas em contracenso, a aplicação dessa legislação não acontece na prática.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Pesquisa e Informação da Universidade Federal Fluminense com o objetivo de analisar a relação de convivência entre negros e brancos no estado do Rio de Janeiro, indica a dificuldade de relação entre ambos. De todas as pessoas que foram entrevistadas 77% indicaram ter problemas de convivência. Um outro dado apresentado pelo estudo aponta um índice de 93% de pessoas que afirmam a existência de discriminação racial do país.

Manolo Florentino, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o tratamento do negro como vítima nos livros de História do Brasil reforça o preconceito racial: “O padrão ainda é de redução, nos livros didáticos, do negro à vítima da história brasileira, vítima da sanha colonizadora, vítima da sanha do branco”, afirmou Florentino, em entrevista à BBC Brasil. “Isso dificulta o processo de identificação social das nossas crianças com aquela figura que está sendo maltratada o tempo todo, sempre faminta, maltrapilha”. Segundo Florentino, não se trata de negar os abusos aos quais o negro foi submetido durante a escravatura, mas de mostrar como, apesar desse contexto, também participou, de maneira positiva, da formação do Brasil”.

Uma lei federal de 2003 tornou obrigatório o ensino sobre a História e cultura Afro-Brasileira, “no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira”. Embora pouco aplicada na prática, algumas escolas promovem programas de valorização da cultura afro-brasileira, com apoio do governo federal. Essa também é uma iniciativa positiva no combate ao preconceito racial.

Muitas manifestações culturais brasileiras estão identificadas com a população negra. O samba, caboclinho, maracatu, movimento mangue beat, capoeira e outras são lembradas como parte da grande contribuição dos negros para a cultura nacional. Dentro dessa diversidade, o movimento Hip Hop tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil e atraído muitos jovens, especialmente aqueles que moram nas periferias. É um movimento com várias tendências internas, mas que pauta-se pela denúncia da exclusão e pela discussão de questões

relativas a história e à identidade dos negros.

O historiador, autor de livros como Em Costas Negras, sobre o tráfico de escravos, destaca, por exemplo, que, dentre todas as sociedades escravagistas americanas, a brasileira foi a que conheceu os maiores índices de alforrias. “Isso não é devidamente tratado pela grande parte dos nossos livros”, disse. Por outro lado, figuras que, por serem mestiças, conseguiram se libertar do legado da escravidão e se destacar na vida pública passaram para a história como brancos. Esse fenômeno faz parte da chamada “ideologia do branqueamento”, pela qual indivíduos de ascendência negra tentavam passar por brancos para ascenderem socialmente. Florentino sustenta, porém, que a ideologia do branqueamento e o preconceito racial vêm perdendo força na sociedade brasileira, principalmente nas camadas menos favorecidas. Uma prova disso, diz ele, é a composição dos chamados casais mistos. Se até 30 ou 40 anos atrás, a maioria deles era formada por homens brancos ou mais claros e mulheres negras ou mais escuras, hoje, a composição típica se inverteu, com mais mulheres claras e homens escuros. “Tradicionalmente, desde a época colonial, o veículo de branqueamento tem sido as mulheres. Eram elas que buscavam branquear as suas gerações, quando podiam, através do casamento com homens brancos. Hoje, é a mulher branca que busca homens negros”.

A obra de Shakespeare Otelo, O Mouro de Veneza, destaca entre outras temáticas o preconceito racial nas relações de gênero, quando Otelo, negro, casa-se com Desdêmona, branca e de família abastada na época. No terceiro ato quando o perverso Iago começa a incutir na cabeça de Otelo a suposta traição de Desdêmona, percebe-se que a estima do mouro com relação a sua cor é baixa quando ele diz: “O nome dela, antes puro como a face de Diana, vejo-o agora enegrecido, escuro como meu próprio rosto”, dando a entender que para ele a pureza estava para a brancura e era positivo, enquanto a traição e a infidelidade estavam para a negritude como atitudes negativas.

Conclui-se que a Obra de Shakespeare, Otelo, O Mouro de Veneza, suscita várias reflexões acerca do relacionamento do ser humano dentre elas o preconceito racial tema desse projeto, mostrando, que infelizmente, ainda continua presente na sociedade contemporânea interferindo negativamente na interação dos indivíduos, inclusive nas relações de gênero. É preciso que as leis e as ações afirmativas no combate ao preconceito racial sejam postas em prática com o intuito de bani-lo da sociedade.

REFERÊNCIAS

CARDOSO, Sérgio,[et al] . Os sentidos da paixão.São Paulo:Companhia das Letras, 1987.

Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal.1988.292p.

SHAKESPEARE, William. Otelo, O mouro de Veneza. Rio de janeiro: Otto Pierre Editores,1979.

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Angela Santana
Enviado por Angela Santana em 12/02/2012
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