AVENIDA PAULISTA - PROJETADA PARA SER GRANDIOSA

Principal símbolo do poderio econômico de São Paulo, a Avenida Paulista completa 120 anos com a mesma pompa com que foi inaugurada em 1891

Projetada para ser grandiosa, não em extensão territorial – aproximadamente 2,8 km–, mas na questão socioeconômica e cultural. “Será Paulista em homenagem aos paulistas”, declarou, na ocasião de sua inauguração, o idealizador Joaquim Eugênio de Lima (1845-1902). Um nome tão convidativo que de nada adiantou, três décadas depois, tentarem mudar para Avenida Carlos de Campos; a pressão popular pela manutenção do logradouro original foi mais forte. Se hoje o agrônomo – uruguaio de nascimento e paulistano de coração – tem sua face esculpida em bronze no Parque Trianon e seu nome imortalizado numa das alamedas que emergem da mais famosa das avenidas de São Paulo, há 120 anos ele via seu projeto se tornar realidade; exatamente no dia 8 de dezembro de 1891, com festa e farta distribuição de doces, era inaugurada a Avenida Paulista, cujo tempo se encarregaria de transformar no principal ícone do poderio financeiro e corporativo da América Latina.

Algo até então jamais visto: palacetes de poderosos barões erguidos em imensos lotes de acordo com padrões urbanísticos previamente definidos; arquitetura eclética, incorporando vários estilos como um enorme museu a céu aberto; vias separadas por magnólias e plátanos; e o orgulho de ser a primeira via pública asfaltada e arborizada de São Paulo. Enfim, a exuberância da Paulista já se configurava desde os rabiscos no papel e o assentamento dos primeiros tijolos de seus casarões. Esse perfil estritamente residencial perdurou até meados da década de 1950, quando teve início o processo de verticalização, com as primeiras casas sendo substituídas por prédios comerciais e, em seguida, por imponentes arranha-céus. Consequência do progresso e da especulação imobiliária, definidamente a avenida se convergia para o alto. Na Paulista, tudo é exagerado: calçadas largas, trânsito intermitente, estações de metrô, empresas, bancos, consulados; sem contar as dezenas de salas de cinemas, teatros, restaurantes multiculturais que entretêm os mais de 1,5 milhão transeuntes que por ela transitam diariamente. As estatísticas corroboram para fazer da capital paulista uma das mais importantes, transculturais e populosas metrópoles do planeta.

A mais paulista das avenidas – Formado na Alemanha, foi no Velho Continente que Joaquim Eugênio de Lima buscou inspiração para seu projeto. Entretanto, ele não trabalhou sozinho. Além de dois sócios – José Borges de Figueiredo e João Augusto Garcia –, que investiram na aquisição do terreno, também fazia parte de sua equipe o agrimensor Tarquinio Antônio Tarant. Entre outros feitos, o técnico aterrou um enorme vale – algumas décadas depois o mesmo local aterrado seria perfurado para servir de passagem à Avenida Nove de Julho –, uma vez que lhe foi exigido que a via fosse absolutamente plana. Era apenas o princípio da “exploração” subterrânea, e atualmente a avenida se desenvolve tanto para cima como para debaixo do solo paulistano.

Palco de diversas comemorações e manifestações, como a tradicional Corrida de São Silvestre e o Réveillon, a Avenida Paulista parece ter uma vocação natural para a diversidade. Aliada à importância histórica e à topografia, a própria localização geográfica, praticamente dividindo as zonas sul e oeste da região central, colaboraram para fazer dela o grande eixo de movimentos populares, sejam de festejos ou reivindicações. Nesse sentido, o chamado “vão livre” do MASP – Museu de Arte de São Paulo, fundado pelo jornalista Assis Chateaubriand em 1947 e reinaugurado pela rainha Elizabeth II em 1968, é geralmente onde as manifestações têm início e os ânimos dos participantes mais se afloram.

Agora, uma das responsabilidades das autoridades públicas e de instituições filantrópicas é preservar e melhorar a qualidade de vida de todos que trabalham ou simplesmente frequentam a mais famosa via pública da cidade. É o caso da Associação Paulista Viva, criada na década de 1980 a partir de um movimento perpetrado por empresários da região. Nas comemorações do 120º aniversário, a entidade promoveu um concerto musical ao som da bateria da tradicional Camisa Verde e Branco. No tema, A Paulista Viva Veste a Camisa, a mais Paulista das Avenidas, com o qual a escola de samba retornou ao grupo de elite do Carnaval de São Paulo no ano passado.

O SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo não somente parabeniza, como também agradece à Avenida Paulista pelo que ela representa a todos os paulistanos e brasileiros. Resgatar a importância de símbolos e fatos de grande representatividade e repercussão histórica tem sido, e continuará sendo, uma das metas do sindicato. Afinal, como disse certa vez o filósofo e historiador francês Joseph Ernest Renan (1823-1892), “os verdadeiros progressistas são os que partem de um profundo respeito ao passado”.

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 152

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 16/05/2012
Reeditado em 16/05/2012
Código do texto: T3671226
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