FAZENDA DA ESPERANÇA, POR FREI

HANS STAPEL


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Fazenda Nova Esperança,Guaratinguetá,SP


Entrevista: Hans Stapel, frei franciscano, fundador da Fazenda Esperança
A GAZETA



Frei Hans(Fundador da Fazenda da Esperança)
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Amor é a melhor arma contra droga


O frei franciscano Hans Stapel é uma daquelas pessoas chamadas trabalho. Do tipo incansável, atua numa batalha árdua, desde 1983, quando inspirou um dos projetos mais respeitados de recuperação de dependentes de drogas, com unidades no Brasil e em outros 11 países do mundo. Em 2010, duas unidades da Fazenda da Esperança do frei Hans serão instaladas no Espírito Santo, em Guaçuí e Alegre.

Na última quarta-feira, ele esteve no auditório da Rede Gazeta, a convite do jornal A GAZETA, para falar sobre o projeto que já recuperou 15 mil pessoas.

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Fazenda da Esperança Santa Rosa, Garanhuns-PE


O senhor desenvolve um trabalho de recuperação de dependentes químicos em 11 países. Nessa área, quais são as diferenças e as similaridades desses países?

As culturas são muito diferentes, mas uma coisa todos temos em comum: nascemos para amar, e esperamos esse amor dos nossos pais. Onde não tiver esse amor, tanto faz o país, começam os problemas. O desamor faz com que os jovens se desequilibrem, não se encontrem consigo mesmos, não encontrem sentido na vida. Então buscam sexo, buscam dinheiro, buscam tudo.

A droga é uma forma de tentar o encher o coração, mas isso ela não garante, porque nosso coração é feito para a eternidade. Uma coisa que passa não pode enchê-lo. E assim os jovens se frustram e até destroem suas vidas. Muitos respondem, quando lhes pergunto se não têm medo de morrer: "Não tenho nada a perder". É porque não encontraram razão de viver.

Mesmo com 26 anos de experiência na Fazenda da Esperança, assusta ao senhor a realidade atual, que registra uma verdadeira epidemia de uso de drogas, principalmente de crack?

Claro que sim. E volto a dizer: isso acontece porque nós não vivemos o amor. As escolas não têm mais ensino religioso. Quando falo com algumas autoridades sobre o nosso
projeto "Viver de cara limpa", que tem livros dirigidos a alunos, professores e pais, elas logo me perguntam se os livros têm conteúdo religioso. E eu respondo: "Se tivesse, seria ruim?"

Parece que têm medo de falar de Deus, medo de falar do amor. O resultado é o que vemos. Depois, muitas pessoas tentam encontrar culpados. O papa, por exemplo, que assume uma posição firme em relação à camisinha e outras tantas coisas. Querem colocar nele a culpa pela existência de muitos caos de Aids... O papa assume o Evangelho, é o representante de Jesus e não pode mudar os mandamentos. E a gente sabe que quem segue o Evangelho torna-se feliz.

O senhor enxerga alternativas no campo da prevenção que possam tocar os jovens, afastando-os das drogas?


Sim, com os livros "Viver de cara limpa". Algumas escolas já adotaram, mas é preciso que isso aconteça em massa. Todos devem discutir esse assunto, que precisamos enfrentar, porque temos uma epidemia. Enfrentar juntos, e ter coragem de mudar algumas coisas, como as leis que são muito bonitas, mas não correspondem à realidade.

Por exemplo...
As que impedem o trabalho do jovem aos 14 anos. Lá na fazenda não podemos incluir os jovens em determinadas atividades, porque tudo é visto como ilegal, como exploração.

Com que idade o senhor começou a trabalhar na Alemanha?

Com nove, dez anos, já ajudava meu pai na horta, plantando, brincando, e isso me dava muita alegria. Com 14 anos entrei numa fábrica - sou gráfico formado -, aprendi a profissão e isso me fez muito bem. Porque, como todo jovem, eu era curioso. Aquele trabalho me deu um dinheirinho, e contribuiu para a minha estruturação. Hoje existem no Brasil exigências legais que dificultam tudo nessa área. E muitos jovens chegam aos 18 anos sem ter aprendido nada.

Existem muitas comunidades terapêuticas com trabalho pautado na espiritualidade. Mas o que faz a Fazenda da Esperança ter uma performance tão boa, chegando a recuperar até 80% dos dependentes químicos nela atendidos?

Todos os responsáveis da fazenda são pessoas consagradas, doam suas vidas para esse trabalho. Não estão lá para ganhar dinheiro, estão lá para amar. Na fazenda vivemos o amor. Pela manhã todos fazem a meditação, pegam uma frase do Evangelho e a colocam em prática. Depois, no final do dia, comunicam como viveram. Quando a gente vive o amor acontece um processo interno que é preciso experimentar para entender. Os consagrados, os internos, todos trabalham e são felizes, vivendo do que produzem.

Quantas pessoas as fazendas comportam?
Depende da região. Há fazendas com 150. Há as que têm fábrica, outras que têm plantio de culturas.


Vocês não recebem verba pública?
Aceitamos doação para a construção de casas, para criação de estrutura para o trabalho, mas não recebemos verba per capita mensal, nem mesmo das famílias. Isso é dependência. Nós queremos que os internos fiquem livres das drogas e de qualquer outra dependência, para descobrir que são capazes de viver do seu próprio trabalho. Senão, serão eternos dependentes do governo, e isso não é bom.

A presença de mulheres dependentes químicas na Fazenda da Esperança tem crescido?
Muito, infelizmente. E
as meninas parecem sofrer mais do que os homens. Muitas chegam grávidas ou trazem as crianças junto. As mulheres ficam mais machucadas, principalmente as que já fizeram aborto. Nós temos um trabalho de Abordagem Direta ao Inconsciente, que ajuda muito. É bonito ver, depois, as meninas redescobrirem sua capacidade de amar, sua vocação de ser mulher.

O que faz com que algumas pessoas não consigam se recuperar da dependência química?
Cada pessoa é livre para agir. Algumas saem da fazenda e entram de novo no consumismo, no jogo do mundo. Às vezes as famílias não colaboram, não participam do programa. Nem todos conseguem ser rígidos consigo mesmos. Há os que recaem, e a gente dá mais chances se quiserem se recuperar.


É preciso ser católico para ser aceito numa das fazendas e se tratar?

Não, mas é preciso amar. Nem precisa acreditar em Jesus, em Cristo, mas precisa querer bem ao outro. Quando fazemos outros felizes somos felizes. Quem ama se torna uma pessoa capaz de se recuperar.

Quantos atuam como voluntários nas fazendas?
Temos 46 fazendas no Brasil. No mundo inteiro são 66, e mais de 500 os voluntários.

Na Rússia, onde vocês instalaram a última unidade, houve rejeição. Por quê?

Os vizinhos, com medo, começaram a fazer uma demonstração contrária. Mas estamos tentando, conquistando, e acho que logo o problema será superado. Aqui no Brasil e na Alemanha também tivemos pequenos problemas, mas menos complicados.

Aqui, o povo é mais acolhedor. Na Alemanha houve votação e a democracia ganhou. Na Russia o vice-governador disse que tínhamos direito de funcionar, mas o povo jogou pedra, pichou muro, uma reação infantil. Mas lá, um dia serão todos nossos amigos, se Deus quiser.

Ele está pronto para encarar o mundo de "cara limpa"

Foram exatos 12 meses de investimento em si mesmo, num grande esforço para libertar-se das drogas. Em maio deste ano, o capixaba Marcos Muniz, 38, finalmente deixou a Fazenda da Esperança em Guaratinguetá, São Paulo, pronto para encarar o mundo de "cara limpa".

E não pense que esse desafio é fácil. Afinal, o comerciário usou cocaína por 12 anos consecutivos. Depois, migrou para o crack. Fumou "pedra" durante três anos, até pedir ajuda à família. Corria risco de perda de emprego, já não assumia seus compromissos, estava fora de controle. Precisava de tratamento.

"Comecei a usar cocaína aos 23 anos. Achava, como todo jovem, que era capaz de tudo. No início, era só em fim de semana, com amigos. Mas, logo passei, a usar todo dia. O crack entrou na minha vida, quando a oferta de cocaína foi reduzida no mercado. Usava a droga com prostitutas - a maioria é viciada em crack", diz.


Além da compulsão por drogas, Marcos Muniz também buscou ajuda na Fazenda da Esperança para libertar-se da compulsão por sexo. Seis meses após ter saído da unidade terapêutica, que não usa remédios para tratar seus internos, coordena um grupo de ex-dependentes químicos e familiares na Igreja São José, em Maruípe, Vitória, estimulando a quem quer conquistar uma vida nova, como ele orgulha-se de ter conquistado.

"A fazenda me ensinou a buscar o que não passa: Deus. E a valorizar minha família. Lá, fiquei frente a frente, comigo mesmo, e isso não foi fácil", admite ele.

Fazenda da Esperança

Sede. O projeto de recuperação de dependentes químicos tem sede em Guaratinguetá, interior de São Paulo

Vontade. Para se candidatar a uma vaga em uma das fazendas do projeto, é necessário que o interessado envie uma carta escrita do próprio punho, manifestando esse desejo

Manutenção. As fazendas recebem pessoas com idade entre 15 e 45 anos. Elas permanecem em unidades que se autossustentam, principalmente com atividades agrícolas, durante 12 meses

Isolamento. Nos três primeiros meses, não é permitido que o dependente tenha contato externo nem mesmo com a sua família

Informação. Quem quiser obter maiores informações sobre a Fazenda da Esperança pode acessar o site www.fazenda.org.br


"Essa é uma causa que os dirigentes políticos e toda sociedade deveriam abraçar.
Toda minha admiração aos que fazem acontecer, ainda que a custa de muitos e inúmeros sacrifícios, ações desse nível e que resultam em benefícios extraodinários para as pessoas que ali permanecem em busca da "cura".
Ah, como eu gostaria de ser voluntária num trabalho como esse! Quem sabe, um dia..."

Isis Dumont
Da: Internet 
Aparecida Ramos e Da: Internet
Enviado por Aparecida Ramos em 21/05/2012
Reeditado em 03/08/2013
Código do texto: T3679943
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