A LICENÇA POÉTICA E A PERPETUAÇÃO DOS ERROS GRAMATICAIS

Prólogo

“Ensinar e aprender são tarefas difíceis. Digo isso por ser autodidata, eterno aprendiz e, por tentar, de modo intimorato e recalcitrante, sem pejo do ridículo, ensinar o que pouco sei.” – (Wilson Muniz Pereira).

"Eu não me envergonho de corrigir meus erros e mudar as opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender.". – (Alexandre Herculano).

"O verdadeiro significado das coisas é encontrado ao se dizer as mesmas coisas com outras palavras.". – (Charles Chaplin).

ADÁGIOS POPULARES E ERUDITOS MODIFICADOS

Em escritos anteriores afirmei que o povão, às vezes, sem querer ou querendo modifica refrões (também é aceito refrães) ou adágios populares e eruditos. Exemplo: “Quem não tem cão caça como gato”, isto é, sozinho. O povo modificou esse velho adágio por: “Quem não tem cão caça com gato”.

Outros três exemplos de mudanças que, salvo outro juízo, distorcem o significado do que se quis dizer:

"Quem tem boca vai à Roma". O correto é: "Quem tem boca vaia Roma". Quando se diz: "Cuspido e escarrado" (Esse dito é muito utilizado no meu Nordeste), referindo-se a alguém que é muito parecido com outra pessoa, o certo é dizer: "Esculpido em Carrara", (Carrara é um tipo de mármore muito caro). "Cor de burro quando foge". O correto é falar ou escrever: “Corro de burro quando foge”.

OBSERVAÇÃO OPORTUNA – Carrara é uma comuna italiana da região da Toscana, província de Massa-Carrara. O mármore de Carrara é famoso desde a Roma Antiga, quando foi utilizado para construir o Panteão. Muitas esculturas do Renascimento, como por exemplo, David de Michelangelo também foi esculpido em mármore de Carrara.

É claro que a maioria das pessoas mais simples não percebe as diferenças entre as máximas que se tornaram comuns no dia a dia. Todavia, existem intelectuais que mesmo sabendo que uma sua composição poética está errada, isto é, não seguindo os padrões da língua culta, batem o pé e defendem seus trabalhos a qualquer custo. Vejamos um exemplo dessa sandice:

O compositor e escritor brasileiro Chico Buarque admitiu ter mais habilidade como poeta do que como músico e falou sobre a liberdade a que se permite em relação ao uso da língua portuguesa. Em entrevista gravada, disponível apenas à imprensa, o músico citou o escritor português Camilo Castelo Branco ao dizer que, durante o momento de criação de suas letras, se dá o direito de cometer certos “erros” gramaticais, que, no entanto, são conscientes, mantidos por opção estilística.

RÉU CONFESSO EM DEFESA PRÓPRIA

Chico explica, por exemplo, que numa das canções do novo disco manteve um verso em que diz: “Não se atreve num país distante como o meu”, embora saiba que a regência adequada não seria esta. “Eu sei que quem se atreve não se atreve ‘numa’ coisa. Mas o meu atrever-se aí é intransitivo. Eu não me atrevo e ponto. É uma liberdade que eu estou tomando que algum gramático pode me contestar, mas eu vou discutir com ele”, explicou o compositor, que utilizou em seguida Camilo como referência da língua.

“Na parte literária eu conheço mais, entendo, posso discutir com qualquer um. Tá errado, mas é certo, é assim que eu quero. Se um gramático vier falar comigo eu vou discutir com ele. Não tem no Camilo Castelo Branco, mas eu estou inaugurando essa regência” – (SIC), declarou, ufanado e todo cheio de si, para em seguida dizer que não possui a mesma segurança com os acordes.

Eu gosto das composições do tio Chico já consagrado e todo-poderoso. Ele pode. Nós, simples mortais, não devemos, mas entendo que também, às vezes, podemos.

Djavan Caetano Viana nascido em Maceió-AL, em 27 de janeiro de 1949 é um cantor, compositor, produtor musical e violonista brasileiro. Em uma entrevista, ao lhe ser perguntado: Quais cuidados você toma com relação ao uso da língua ao compor? Djavan respondeu com muita segurança, humildade e tranquilidade:

“É óbvio que já cometi erros ao longo da carreira, como todos os outros compositores cometeram, e já passei pela saia justa dos pronomes, do porquê, junto ou separado. Ao fazer uma letra, não é possível deixar de observar a sonoridade e a adequação de cada nota e de cada sílaba. Há vezes em que cometi erros, como na música “Azedo e Amargo”, em que coloquei "Ela é chegada em azedo e amargo", quando o formal seria "Ela é chegada a azedo e amargo". – (SIC).

"(...) Com a melodia que eu tinha, não ia ficar bom. Mas é evidente que todo mundo quer escrever de maneira corretíssima, pois depois será julgado publicamente, e você vai aprendendo a escrever melhor ao longo do tempo. Minhas letras são muito usadas em teses de faculdades de todo o Brasil.(...)” – (SIC).

É claro que todos os poetas e letristas (Compositores) precisam dedicar à letra a mesma carpintaria que destinam à melodia. Ocorre que nem sempre isso é possível. Ademais, pelos compromissos assumidos e apertados, esses profissionais deixam passar lapsos gramaticais em seus trabalhos pela certeza de que o povão, adepto do “blablablá” e dos refrãos que pouco esclarecem ou nada significam, grita em grandes haustos: “Queremos mesmo é gritar e rebolar.” ou "Eu quero mais é beijar na boca e ser feliz daqui pra frente (...)". – (SIC).

ATUANDO EM DEFESA DOS POETAS COMPOSITORES

Vivemos em uma época na qual a gramática se encontra cada vez mais longe de ser executada dentre os meios de comunicação. Internet, televisão, músicas são fatores que contribuem para essa distância entre nós e a língua portuguesa em sua norma culta. A cada dia esses fatores vão ocupando o lugar do bom português, influenciando-nos ao afastamento da fala dentro da norma culta. Não compreendo, até hoje, o que faz uma pessoa digitar: "Naum", "Aki", "Vc" e outras bobeiras quando está em um bate-papo via algum Blog de relacionamento social.

Como exemplos, temos as músicas que, muitas vezes, apresentam erros gramaticais. No entanto, não podemos considerá-las erradas, pois além da licença com o aval da Lei de Registros, nos deparamos com questões linguísticas. A licença poética parece confusa, mas se analisarmos seu fundamento entenderemos. A linguagem coloquial é forte e sempre prevalece nos diálogos e na escrita.

Elas (a linguagem coloquial e a licença poética) protegem o que consideramos gramaticalmente errado em músicas, poemas e quaisquer demonstrações culturais. Esses erros são aceitos no intuito da musicalidade, rimas, sonoridade, entre outras finalidades existentes na arte musical.

Cristiana Gomes, para o site InfoEscola, explica: “Como o próprio nome já diz, a licença poética concede uma certa liberdade ao artista para que ele possa expressar toda a sua criatividade, sem estar preso às regras gramaticais ou métricas. Quando o artista faz uso da licença poética, nós leitores, podemos encontrar textos criativos, nos quais o autor pôde usar as palavras do seu jeito, sem seguir às regras (...)". – (SIC).

"(...) A licença poética está presente nas propagandas e também em textos literários. Assim, esses recursos utilizados na música não podem ser considerados errôneos, pois acontecem para que ela fique clara, para que as palavras entrem em sintonia com a melodia, embora cause transtornos aos ouvidos dos defensores da gramática normativa.(...)”. – (SIC).

UM EXEMPLO À GUISA DE BODE EXPIATÓRIO

A quarta temporada do "Big Brother" Brasil foi ao ar de 13 de janeiro a 6 de abril de 2004, e a vitória ficou com a babá Cida dos Santos. Na quarta edição do "Big Brother", o público escolheu um participante de cada sexo para entrar na casa. Os vitoriosos foram o atleta Zulu, líder nos quesitos simpatia e bom humor, e a frentista Solange, que soltaria algumas pérolas irresistíveis ao longo do programa. Chamou brócolis de “broco”, problema de "pobrema" e fez a versão “Iarnuou" para a excelente música e poema "We are the world".

Naquela ocasião, engaiolada em uma prova do "Reality Show" Solange soltou a língua e cantou: “Iarnuou, Iar nistilve, Iarnuou Ce simarake, so lesta silve” e divertiu ou chocou os outros jogadores. No programa do Faustão a Solange também, sem perceber, foi ridicularizada pelo apresentador e público presente ao repetir a malfada façanha da invenção “Iarnuou”. Claro que senso aguçado do ridículo não é próprio de quem ri de si. A tia Solange ria e cantava, cantava e ria.

E foi também a Solange que dividiu com Marcela a mais pesada troca de ofensas do programa até hoje, numa briga que ficaria conhecida como "O barraco do milênio". A mulata de Mogi-guaçu (Informe irrelevante: Usa-se hífen em palavras de origem tupi-guarani compostas com os sufixos açu e mirim.) ainda disse que não se sentiu ofendida com as brincadeiras dos demais "brothers" com a sua "falta de cultura".

"Não fiquei constrangida. Eu só tive menos oportunidade que eles. Eles é que deveriam ficar constrangidos" – (SIC), – afirmou, dizendo que vai entrar num cursinho de português. Isso é Brasil! Isso é ser povão!

OS "ERROS" COMETIDOS NAS MÚSICAS: UMA BREVE ANÁLISE

Após algumas considerações sobre o uso incorreto da língua portuguesa em sua norma culta, presentes na arte da música graças à licença poética, vale destacar algumas letras musicais apontando certos erros e apresentando sua forma correta. Podemos perceber erros de regência, concordância, entre outros, tais como apresento a seguir:

Na música "Malandragem", de Cazuza e Frejat, vemos que o verso "Quem sabe eu ainda sou uma garotinha" usa o verbo 'ser' de forma inadequada, pois a expressão 'quem sabe' aponta uma dúvida, uma hipótese, e 'sou' indica um fato, uma certeza, então essa indicação de dúvida feita pelo verbo ‘ser’ no tempo presente do modo subjuntivo seria conjugada como que eu seja. O correto então seria: “Quem sabe eu ainda seja uma garotinha.”.

Analisando também a música "Equalize", da cantora Pitty, encontramos o trecho que diz: "Quando tenta me convencer que eu só fiquei aqui...". Há a inadequação de regência verbal, já que para usarmos o verbo convencer devemos usar também a preposição de, pois quando convencemos alguém, convencemos alguém de algo.

Dizemos, por exemplo, vou convencê-la de que ela está errada, e não, vou convencê-la que ela está errada. Outro exemplo: Vou convencer Luzia de que ela está progredindo e se libertando de suas neuroses mais antigas.

Na música “Me chama” cantada por Lobão. Os versos Aonde está você / me telefona / me chama, me chama, me chama, possui três inadequações gramaticais:

1. O uso de 'onde', 'aonde' e 'de onde': Onde significa em algum lugar, por exemplo, "não sei onde meus óculos estão". O que indica que meus óculos estão em algum lugar fixo, um lugar determinado; aonde, a algum lugar, exemplo na frase, "aonde você está indo agora?", indica que alguém está indo a algum lugar, e de onde por sua vez, de algum lugar, "de onde você veio?" também indica movimento, a vinda de alguém a algum lugar. Como o cantor Lobão usa o verbo estar, ele se refere a algo ou alguém que está em algum lugar, então deveríamos dizer (Perguntar): "Onde está você?" e não como na música: "Me chama", isto é, 'Aonde está você'.

2. Não se inicia uma frase com um pronome oblíquo átono (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes). Nesta situação seria adequado então, telefona-me / chama-me, chama-me, chama-me. Claro que ouvimos o tempo todo alguém dizer errado: 'Me chama', 'Me liga', 'Me telefona', 'Me bate', 'Me xinga', 'Me beija', 'Me morde' etc.

3. Pedido, ordem ou conselho, através de verbo, fazem-se da seguinte forma: se o interlocutor for tratado pelo pronome tu, coloca-se o verbo diante da frase: Todos os dias tu... Retirando a letra ‘S’ no verbo. Todos os dias tu me telefonas; retirando a letra ‘S’: telefona-me tu. Todos os dias tu me chamas; retirando a letra ‘S’: chama-me tu.

Caso o interlocutor seja tratado pelo pronome você, coloca-se o verbo diante da frase: Espero que você..., sem retirar letra alguma: Espero que você me telefone: telefone-me você; Espero que você me chame: chame-me você. Acompanhando o raciocínio desta análise, podemos concluir que esse trecho da música de Lobão ficaria desta forma: Onde está você / telefone-me / chame-me, chame- me, chame-me.

ERROS QUE SE PERPETUAM AO ESCUTAR MÚSICAS

Às vezes, o sotaque do cantor é meio enrolado. Às vezes, a poesia é um tanto “obscura” e fica difícil entender o que ele está querendo dizer – “do nosso jeito”, assim como fez e ainda faz a Solange do BBB 4 e tantas outras pessoas mais simples (Por não terem tido oportunidade) faz bem mais sentido, principalmente, se a letra da música for em outro idioma diferente do português.

Daí a gente abstrai e canta errado mesmo. E há quem passe a vida toda cantando um verso, um trecho, ou até uma música inteira da forma errada, sem ao menos se dar conta. É quase um fenômeno antropológico. Exemplos:

1. “NOITE DO PRAZER”, de Cláudio Zoli. A letra correta: “Na madrugada / A vitrola rolando um blues / Tocando B.B. King sem parar”. Como o pessoal canta: “Na madrugada / A vitrola rolando um blues / Trocando de biquíni sem parar”;

2. “MELÔ DO MARINHEIRO”, dos Paralamas do Sucesso. A letra correta: “Entrei de gaiato no navio”. Como o pessoal canta: “Entrei de caiaque no navio”;

3. “COMO NOSSOS PAIS”, de Elis Regina. A letra correta: “Mas é você que ama o passado e que não vê / Que o novo sempre vem”. Como o pessoal canta: “Mas é você que é malpassado e que não vê / Que o novo sempre vem”. Atenção! A palavra 'Malpassado' está correta. Exemplo: Tia Conceição adora bife malpassado.

4. “OCEANO”, do Djavan. A letra correta: “Amar é um deserto e seus temores”. Como o pessoal canta: “Amarelo é um deserto e três tenores”;

5. “YOU KNOW I’M NO GOOD”, da Amy Winehouse. A letra correta: “I cheated myself” (“Eu traí a mim mesma”). Como o pessoal canta: “I shitted myself” (“Eu borrei as calças”). Em 2006, Amy apareceu cantando que tinha traído a si mesma. Mas a sonoridade do verbo “trair” no passado, em inglês, se aproxima muito de outro, que é ainda mais degradante. Fica fácil confundir. Mas, bem, a gente já viu a falecida Amy aprontando cada uma que, convenhamos, se a letra errada fosse factual, não seria lá grande tapa na cara da sociedade.

6. “TICKET TO RIDE”, dos Beatles. A letra correta: “She’s got a ticket to ride” (“Ela tem uma passagem para ir embora”). Como o pessoal canta: “She’s got a chicken to hide” (“Ela tem um frango para esconder”).

Ela vai deixar os Beatles tristes. E eles acham que é hoje. Mas é porque ela não se importa com eles e está indo embora – aparentemente, de trem. Não tem nada a ver com aves. No clássico de 1965, os ingleses colocaram a gente para cantar sobre um misterioso frango que, por algum motivo, tinha que desaparecer;

7. “ALEJANDRO”, da Lady Gaga. A letra correta: “She’s got both hands in her pockets” (“Ela está com as duas mãos dentro dos bolsos”). Como o pessoal canta: “She’s got Prozac in a bucket” (“Ela tem Prozac em um balde”). Ninguém se surpreende com Lady Gaga fazendo, vestindo ou cantando maluquices.

Será que em “Alejandro”, de 2009, a moça estava fazendo a antissocial, com as mãos nos bolsos, ou tentando sair de uma fossa danada, à base de baldes de antidepressivo? Quando o papo é sobre ela, não dá para ter muita certeza. Mas a gente acha que é a primeira opção.

CONCLUSÃO

No Brasil um dos maiores “micos” de interpretação de um poema foi cometido pela cantora sexagenária Vanusa. Refiro-me ao Hino Nacional:

HINO NACIONAL, na versão da Vanusa. A letra correta: “És belo, és forte, impávido colosso / E o teu futuro espelha essa grandeza”. Como a tia Vanusa cantou: “És belo, és forte, és risonho… E límpido / Se em teu formoso / Risonho e límpido… / A imagem do Cruzeiro…”. Claro que outros artistas já cometeram a mesmíssima gafe. Contudo, a mídia e a internet caíram de pau em cima da tia Vanusa nem mesmo sei o porquê dessa perseguição medonha.

O POVÃO PODE ERRAR! POR QUÊ? OS INTELECTUAIS TAMBÉM ERRAM!

Na música, ‘Eu Sei Que Vou Te Amar’ de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Quando há dois verbos, sendo que um deles está no infinitivo, ou seja, ainda não conjugado, no gerúndio (ando, endo, indo) ou no particípio (ado, ido), acontece a locução verbal.

"Eu Sei Que Vou Te Amar

(Composição: Antônio Carlos Jobim/Vinícius De Moraes)

Eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida eu vou te amar

Em cada despedida eu vou te amar

Desesperadamente

Eu sei que vou te amar (...)".

EXPLICANDO MELHOR A COLOCAÇÃO DO PRONOME OBLÍQUO

Com o verbo no infinitivo, há duas formas de se colocar o pronome oblíquo: junto do primeiro verbo, fazendo com que fique (vou te amar), ou então, depois do infinitivo, (vou amar-te). No belo poema dos notáveis e memoráveis compositores Antônio Carlos Jobim/Vinícius De Moraes, há uma impropriedade gramatical execrável já que como antes do primeiro verbo, há (existe) a conjunção 'que', que sempre atrai o pronome oblíquo para perto de si. As colocações possíveis do pronome 'te' são as seguintes: 1. Eu sei que te vou amar. 2. Eu sei que vou amar-te.

OUTROS EXEMPLOS DE ERROS EM COMPOSIÇÕES MUSICAIS

A dupla sertaneja Munhoz e Mariano cantam a música "Te Quero Bem". O erro gramatical já pode ser percebido no título da composição. Vejamos um trecho da música:

"Eu já falei e não vou repetir

Te quero bem, bem longe de mim

Vacilou, marcou bobeira

E agora fica aí com cara de segunda-feira(...)".

Apreciando a composição "Te Quero Pra Mim", cantada pela dupla Edson e Hudson também observamos o mesmíssimo erro gramatical no que diz respeito a colocação do pronome oblíquo no título do poema e no contexto da letra musical:

"(...) Pra te abraçar

Pra te beijar

Pra saciar

Essa louca paixão

Te quero pra mim

Viajar no seu prazer

No seu mar azul

Então acender ainda mais esse tesão

Eu nem quero dormir

Te quero pra mim. (...).

Veremos agora, em “Roda Viva”, de Chico Buarque de Holanda. Logo nos primeiros versos já observamos: “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”. Este é um erro extremamente comum nos dias de hoje, usar o verbo ter, no sentido de existir. Ora, sabemos que o único verbo que substitui existir, é haver e vice-versa. Então o correto seria, há (existem) dias, e não, “tem dias”. Vejamos outros exemplos errados e certos: "Teve festa na casa da Luzia?" (Errado). "Houve festa na casa da Luzia?" (Certo). "Tem alguém no banheiro?" (Errado). "Há alguém no banheiro?" (Certo). "Tem juiz honesto." (Errado). "Há/Existe juiz honesto." (Certo).

Outra inadequação é a falta da preposição ‘em’ antes de pronome relativo ‘que’. Ora, a gente se sente de algum modo em algumas vezes, em algumas horas. Após isto, podemos observar que o correto neste trecho seria: Há dias em que a gente se sente como quem partiu ou morreu.

RESUMO DA CONCLUSÃO

O que nos resta a fazer a partir daí? Nós como defensores de um bom português não poderemos ficar de mãos atadas e ver tudo que prezamos sendo diluído em um mar de erros. Não basta sabermos que a licença poética existe e está tudo bem. Todos sabem que a licença poética deixa as poesias e músicas deslumbrantes, se bem aplicada, porém não podemos deixá-la influenciar nossa comunicação escrita na norma culta.

Desse modo, como a ortografia foi atualizada recentemente para facilitar a escrita (Facilitou? Há controvérsias.), por que a licença poética não pode sofrer essa reciclagem e estabelecer parâmetros e limites na escrita? Desta maneira, as músicas hoje, supostamente erradas, realmente seriam apontadas como erradas e seus compositores se preocupariam mais em suas próximas composições, fazendo assim com que a música chegue num melhor estado ortográfico aos ouvidos das pessoas, que cometeriam menos erros em seu dia a dia.

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NOTAS REFERENCIADAS

– Wikipédia, a enciclopédia livre;

– A LICENÇA POÉTICA. Disponível em: http://www.webartigos.com - último cesso em 15 de maio de 2011. LICENÇA POÉTICA E A JUSTIFICATIVA DE DIFERENTES AUTORES publicado em 30/03/2011 por Fernanda Rizzo Sanchez cesso em 15 de maio de 2011.

– LETRAS LÍNGUA PORTUGUESA. www.infoescola.com/literatura/licenca-poetica/ Último acesso em 15 de maio de 2011

– LETRAS. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/ último acesso em 15 de maio de 2011

– A LICENÇA POÉTICA É ATITUDE CONSCIENTE - publicado em 16/06/2008 por Alexandre Tambelli;

– MÚSICAS EM LÍNGUA PORTUGUES. Músicas disponíveis no site www.vagalume.com.br;

– Blog Superinteressante publicado em http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/10-erros-ao-escutar-letras-de-musica/;

– Papéis avulsos e anotações diversas do Autor.