DINHEIRO DO LADRÃO

DINHEIRO DO LADRÃO

Por Eldes Ivan de Souza

A onda de violência que grassa no Estado da Bahia levou o site da Secretaria de Segurança Pública do Estado a orientar moradores e visitantes no sentido de carregar um pouco de dinheiro, apenas o suficiente para satisfazer o ladrão; e poucos cartões (in site do Terra, de 13/03). Diz a reportagem que essa mensagem, após protestos na Assembleia Legislativa, foi retirada do ar.

A mensagem saiu do ar no site, mas ressoou como séria e verdadeira advertência, cuja realidade se pretende esconder. A realidade, convenhamos, é dura, mas é verdadeira, e a orientação é uma triste realidade que mostra a que ponto todos nós chegamos : ao sair de casa você não pode esquecer de levar, no bolso ou carteira, o dinheiro do ladrão . É melhor assim do que nada no bolso, e com isso você ainda “agrada” o ladrão, evitando que um mal maior lhe aconteça. Na realidade, todos sabemos que, na grande maioria, esse tipo de ladrão não passa de usuários de drogas que querem, a todo custo, um dinheiro para o sustento do seu vício, e que, por mínima coisa, como por exemplo, um simples movimento (colocar as mãos no bolso, na cintura e na bolsa), muitas vezes acabam matando de forma irresponsável, impiedosa e covardemente.

Conheci, há muito tempo atrás, um conceituado industrial da região do sudeste que visitava a nossa Capital, e nessa oportunidade ele me contou que lá no seu Estado o empresariado foi orientado, ao sair com seu veículo, a carregar no seu interior , carteira contendo ao menos R$ 100,00 (cem reais). Essa carteira ficava num lugar de fácil acesso e era o dinheiro do ladrão. Se assaltado, o ladrão levava a carteira. Vendo o dinheiro, ele se dava por satisfeito e ia embora. Não tendo nada para dar para o ladrão, corre-se o risco de você levar um tiro, me dizia ele.

Além do dinheiro no bolso, a orientação do site da SSP da Bahia recomendava, ainda, aparência de calma e obediência às ordens do ladrão.

Veja que essa onda de violência não ocorre apenas na Bahia, mas se propaga por esse país afora assombrando e quebrando a tranquilidade e a segurança de todas as pessoas, moradores e turistas.

Bem sei que o combate à violência leva tempo e planejamento, e não se muda de uma ora para outra. Sei, também, que a gloriosa policia militar - em todos os estados da federação- luta contra a falta de mais policiais, viaturas (muitas delas necessitando de consertos e recuperação), combustíveis, melhores condições de trabalho e de salários dignos, e muitas coisas mais que não depende só dela, mas de seus superiores, os quais, por sua vez, dependem de outros superiores.

Mas, sinceramente, o que está faltando é mais ação policial, e a culpa não é da polícia militar mas da ausência de uma política de segurança pública mais eficiente e comprometida em garantir segurança e proteção à sociedade e aos seus cidadãos, de um modo geral; cabendo aos nossos governantes essa ingente e urgente responsabilidade diante dessa grave situação porque passa a sociedade, que ora vive com a sensação de que as nossas cidades estão abandonadas e que a “bandidagem” corre solta e está fora de controle, gerando uma sensação de insegurança que precisa urgentemente ser contida.

A ação policial, portanto, precisa ser mais ostensiva. O muito que a PM vem fazendo ainda é pouco diante da onda crescente de violência que campeia solta por todas as cidades de todos os Estados. Volto a repetir, é preciso mais vontade política e mais verbas que possibilitem, entre outros, o aumento de mais policiais nas ruas, principalmente nos locais próximos aos bares e restaurantes, e onde mais haja qualquer tipo de aglomeração de pessoas, como shows e espetáculos, os mais diversos, cuja realização exige a prévia autorização da autoridade competente .

É preciso que se entenda uma coisa muito importante : a presença dos policiais nas ruas ou em locais próximos de bancos, lojas, supermercados, igrejas, bares, restaurantes, boates e congêneres, por si só, impõe respeito, dá sensação de segurança e proteção, e, por outro lado, afasta os bandidos e demais marginais, inibindo-os da ação violenta .

O discurso da falta de recursos, que sempre se ouve em casos tais, é absolutamente incompatível com o momento de violência com o qual todos estamos ora convivendo. Está na hora de os nossos governantes agirem com mais vigor e determinação, dando respostas mais rápidas à bandidagem através de uma ação policial mais eficiente e concreta. Afinal, a política é a arte de bem governar os povos, exigindo dos governantes a habilidade e a capacidade de bem gerir e de bem saber transformar os graves problemas em soluções.

Só assim, e a partir do momento em que sentirmos a eficiência da garantia e da proteção policial, é que, por certo, passaremos a superar o medo de ser assaltado, sequestrado ou morto; mas, até que esse dia chegue, não se esqueça, ao sair (seja de casa, do trabalho ou do hotel), do dinheiro do ladrão .

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eldes@terra.com.br