FILHO MEU, AQUELE MUNDO É SÓ FANTASIA!

O ser humano desde sempre é impregnado de dualidades entre ética e moral. Quando começa a dar seus primeiros passos, a criança, tem contato com o mundo encantado das fábulas. Estas reúnem animais dotados de sentimentos e valores. Os três porquinhos, nos conduzem à compreensão de que é necessário trabalhar de forma dedicada para construir a sua moradia porque, lá fora há um lobo muito mau. Quando esse lobo sopra a casa do porquinho, a gente torce pela vida. Esperamos que o porquinho corra mais rápido e se abrigue na casinha de pedra. Todas as vezes que lemos a fábula criamos essa expectativa, mesmo sabendo que ele irá conseguir escapar. A casinha de pedra é então, o local exato de segurança e final feliz. Será mesmo? O ser humano mostra isso aos seus filhinhos, mas não conta que ele comerá o porquinho no almoço. E logo que a criança tiver dentinhos, ganhará pedaços do porquinho, frito ou cozido.

Assim vamos à fábula do Patinho Feio. Coitadinho do patinho abandonado por ser diferente! Então, isso nos entristece e torcemos para que ele encontre a verdadeira mamãe. A cada dificuldade que o Patinho Feio enfrenta, conduzimos a criança à compreensão de que haverá um final feliz. Creio que as crianças confiam que nós adultos temos essa certeza e por isso sabem que nas páginas seguintes coisas boas irão acontecer. Penso que dificilmente, uma criança, dotada de natural confiança, imaginaria que lhe contaríamos uma estorinha onde todos os bichinhos não foram felizes para sempre. Onde patinhos e porquinhos são criados em gaiolas com o único objetivo de servir de alimento ao ser humano. Os porquinhos nem podem se mexer, porque não há espaço nas gaiolas, já que isso favorece o ganho de peso deles e garante mais carne despedaçada nos açougues. Ei! Quanto está esse pé de porco? Ei moço, quanto custa a orelha de porco? E o focinho? E a banha? E o joelho? São essas as perguntas que um adulto humano fará a um açougueiro depois que conta a linda fábula dos três porquinhos aos seus filhos. E quanto ao patinho? Esse nem precisa fazer artes, comer jenipapo ou pular do poleiro no pé de um cavalo, para ter o mesmo fim de um porquinho. O patinho, basta existir que o final dele é ser cozido ou frito e ter seus pedaços nos pratos da família humana.

Mas se ainda há quem diga que nunca leu uma fábula para uma criança, não se iluda, é culpado também. Apresenta a ela passarinhos, gatinhos, cãezinhos, fazendo isso de forma tão meiga, como se esse sentimentalismo exagerado pelos bichinhos fizesse parte da postura do ser humano. Pode ser que alguém diga que nunca matou um desses. Será?

Creio que matou sim. Cada vez que você soube que cães abandonados são sacrificados aos montes, você apenas se lamentou, mas não deixou seu mundo particular para abraçar nenhuma causa de luta pela vida desses cães. Quando você reconhece de verdade o valor desses animaizinhos, não é normal que apenas se lamente ao ver noticiários que denunciam os sacrifícios. Esse cãozinho ou gatinho tem o mesmo encanto do que um dia foi apresentado por você a uma criança e no entanto, o seu destino é ser sacrificado. Algumas pessoas lutaram por um projeto que objetivava o acolhimento e o cuidado a eles. Faltou mais gente nessa luta. Falta mais gente nessa luta!

Hoje eu vi cães abandonados pelas ruas. Hoje eu comi carne de porco. Não parei para pensar na vida deles. Porque pensaria? São apenas seres destinados a isso. Hoje pensei em escrever um texto sobre abandono e crueldade, mas desisti porque não creio que eu saberia falar sobre o tema. Fiquei então apenas olhando demoradamente um pássaro livre que pousou na minha varanda... Um dia falarei sobre cães, porcos, humanos e sua atitudes e quem sabe sobre fábulas à mesa do jantar.

Simone Stone
Enviado por Simone Stone em 26/08/2013
Código do texto: T4452709
Classificação de conteúdo: seguro