Roubo de carga em tráfego

O roubo de carga desafia a todos; enquanto se traça o perfil desses assaltantes, é necessário identificar na estrutura, tudo que concorre para que se perpetre cada crime: a omissão da autoridade, a natureza da estrada, do veículo, da carga e a compatibilidade destes elementos entre si, sobretudo, um informante infiltrado e acreditado nos dois concertos, empresarial e delituoso.

Não é fácil estabelecer um sistema efetivo, eficiente e confiável de segurança para o transporte de carga, dada a sua complexidade e as peculiaridades do serviço e do meio, mesmo que as medidas sejam adotadas pelo poder público ou que se originem da própria iniciativa privada. Se o empresário tem a necessidade de preservar a integridade do seu patrimônio, o Estado tem a obrigação para com a incolumidade pública, a quem compete a responsabilidade final. Por extensão, padecem da mesma insegurança, os transportes de passageiro, urbano, intermunicipal e interestadual. Ninguém está isento, mas, também não se pode cruzar os braços e nem deixar de acreditar numa solução breve e satisfatória. Todos estão tomados pela onda de insegurança, vivendo na fronteira da resistência e da tolerância. A cada dia multiplicam-se os casos de assalto, e, a todo instante surge um novo bandido, uma nova tática audaciosa, formando outras quadrilhas, estabelecendo o crime como uma atividade rentável, intimidativa e organizada, ampliando e fortalecendo a conexão pelas ramificações nacionais e internacionais; aliás, o roubo de carga não reconhece fronteiras, o que torna de difícil controle.

Os transportes de carga e outros que utilizam a malha rodoviária, a maioria das suas rotas e percursos é feita através de rodovias e estradas pouco patrulhadas, atravessando quilômetros e regiões extensas, percorrendo horas a fio por trechos plenamente desabitados, portanto, expostos a toda sorte de perigo e elevado risco de ocorrência, quando muito, contam apenas com a singela solidariedade de outros colegas caminhoneiros em certas ocasiões. Na verdade, o transporte de carga trafega com um insignificante esquema de apoio, onde muitos não contam com qualquer sistema de prevenção e defesa, e, quando da ocorrência de um infortúnio, não têm a quem recorrer nos imediatos momentos amargos. A dispersão entre os centros produtivos e consumidores gera um vácuo lúgubre para quem se aventura romper a inércia catastrófica do percurso.

A despeito de qualquer adversidade, o transporte tem que ser feito, as cargas e os passageiros devem ser transportados pelas vias terrestres, porém, os que têm a obrigação de assegurar a proteção durante o tráfego, que se determinem a exercitar suas atividades, suas técnicas e que reajam contra a velocidade da delinquência já sem freio no asfalto, sem medo de derrapar mesmo que não haja atrito e sem nunca ser ultrapassada, pois o crime parece que viaja sempre à frente de todos. Como é sabido, o País é de dimensões continentais, predominando uma vocação rodoviária nos meios de transporte em todo o território; esta tendência tem que resistir, mas o crime veloz pode impedir ou dificultar bastante. Quanto às cargas, independente de qualquer origem que possa estabelecer sua vulnerabilidade aos assaltos, alguma coisa tem que ser feita urgente e constante, quer pelo governo, quer pela polícia, quer pelos empresários do setor e também pelas seguradoras, antes que essa atividade se inviabilize, inclusive, a tripulação fazendo sua parte ao volante e com os devidos cuidados na estrada, não expondo a si, a carga e o veículo ao perigo.

A segurança do transporte de carga vai continuar sendo um grande desafio. Toda carga, por mais simples que seja, mostra um grande valor financeiro, portanto, desperta um elevado fascínio entre os diversos bandidos, cada vez mais insaciáveis e audaciosos, com muita habilidade nestes tipos de delito, até porque percebem que muita gente recua, com medo de enfrentá-los ou esperando que as soluções cheguem com a tecnologia, enquanto isto, todos ficam muito à vontade para agir. Tem que ser extraído o emprego desses assaltantes. Existe um infinito número de produtos, que vão desde o papel descartado ao papel moeda, que diante da audácia, os prejuízos deixados contra qualquer artigo, também são contra a segurança e contra o Estado Brasileiro, gerando o pavor, inflacionando o produto, conturbando, alimentando a criminalidade como um todo, desacreditando as instituições e agravando ainda mais o quadro social, portanto, as conseqüências são incalculáveis, o que faz exigir urgentes providências, antes que desapareça este tipo de transporte das nossas estradas e das nossas vidas. Todos têm que agir e reagir, igualmente, insistir e resistir contra a ação dos marginais, pois, mesmo ”organizado”, o crime não pode vencer o poder da sociedade e a força do Estado. A liberdade de qualquer bandido é sempre provisória, a sua vida é sem objetivos, o seu “poder” é ilícito, oculto e efêmero e não é capaz de enganar a todos o tempo todo. A violência também não resiste a verdade e a unidade de muitos com boa vontade. Tem muita gente acordada e preocupada com esta situação, sempre a procura de medidas que evidenciem os caminhos da certeza, mas tem que ser pra já.

O transporte rodoviário vai continuar sendo o mais indicado meio de locomoção das cargas e do progresso através dessas estradas longínquas, atravessando caminhos e quilômetros quase sem qualquer apoio, o que torna a atividade mais vulnerável, o que constitui um risco constante para os profissionais do volante, para os indefesos passageiros, despertando cada vez mais apetite nos insaciáveis e nocivos delinquentes. Parece-nos que este filme já foi rodado em preto e branco no antigo faroeste; hoje, com uma versão a cores entre nós e o transporte motorizado das nossas cargas em muitas estradas brasileiras.

Muito já fizeram e até minimizaram as estatísticas da insegurança no transporte rodoviário, porém, em razão do volume dos fatos e da pouca demanda operacional, o que se tem feito, quase nada representa em relação aos números que continuam assustadores em todo o País, inclusive, já mobilizando o poder legislativo. À carga, some-se o valor do veículo transportador, o qual, como alvo importante na ação dos assaltantes sempre tem mercado garantido, além de colocar em jogo, a preciosa vida dos sofridos motoristas. As empresas envolvidas neste tipo de atividade muito têm participado para o aperfeiçoamento das medidas que buscam uma solução, como também, várias têm negligenciado, permitindo que os bandidos despertem e atuem onde observam certas falhas e a inobservância aos padrões de técnica e disciplina operacionais, alguns erros administrativos de órgãos públicos e privados, enquanto isso, excessivo número de motorista tem pago um altíssimo preço por um descaso que ninguém quer corrigir e nem admitir a silenciosa omissão quanto às agressões infinitas de toda ordem.

Nenhuma carga está isenta da ação dos marginais. Se o produto se movimenta, é porque existe uma procura e uma importância para algum segmento da população, portanto, também interessa aos assaltantes e aos receptadores. Os produtos de maior popularidade no consumo são também aqueles que mais estão sujeitos a ação dos marginais; tudo isto se alimenta em razão de existir ao mesmo tempo a figura do receptador que é muito motivadora na consumação do delito, como igualmente é estimulado pelo valor e natureza dos produtos transportados. Se houver um golpe na receptação, a carga rodará fora da faixa do crime. É comum a oferta de produtos nas vias públicas e noutros lugares, sem que tenham procedência e nem qualquer documento que revele sua licitude, portanto, isto e decisivo para o crescente número de assalto às cargas rodoviárias, sobretudo.

Não existe uma fórmula matemática para resolver qualquer problema relacionado com o desvio criminoso de carga, nem com a solução da segurança como um todo. Os problemas têm que ser enfrentados todos ao mesmo tempo e atacado cada um individualmente. Isto varia de acordo com a concepção de normas de segurança pelas transportadoras, com o tipo de veículo usado, com a carroceria e seu trancamento eficiente, com exposição ou não dos produtos transportados, com a natureza da carga, com o vazamento das informações, com a quantidade e valor dos produtos, com a frequência na mesma rota, com a quebra do sigilo na corrente da operação de embarque, com o desempenho do veículo e do condutor, com a falta de informação confiável, com a qualidade das diligências policiais e a existência de planos para este fim; ainda depende da natureza da via e sua conservação, dos trechos por onde a via atravessa, dos meios de comunicação existentes ao longo do percurso e sua integração com os centros operacionais de apoio e segurança, dos locais escolhidos para suprimento do veículo e do condutor e outros ocupantes; exercem bastante influência, o desempenho da polícia local, os horários, turnos e dias para trafegar com as mercadorias, a intensidade e o volume do tráfego, a disciplina do motorista, e, ainda, a indiferença de tantos, talvez, em razão do aumento da procura de interessados para segurar suas cargas, para se despreocuparem com a segurança, como se o seguro resolvesse tudo, embora saibamos que isto tem seu lado positivo e supostamente necessário, até porque, além dos assaltos, os veículos e suas cargas estão sujeitos aos acidentes e a outros sinistros.

Avaliando cada possibilidade e circunstância que possam concorrer para alimentar ou estimular a prática de um assalto às cargas transportadas em veículos em cada trecho da estrada, e como não existem conseqüências sem causas, uma vez identificado esse ponto crítico, e, comparando este vetor com o jogo dos delinquentes, é possível indicar as possíveis origens e identificar a quem compete reparar as falhas. Sabendo onde reside a inércia e a quem pode ser atribuída a responsabilidade, aí se torna mais viável aplicar uma medida contra a ação dos bandidos, se for o caso, reclamar e reclamar de todos. Digamos, se num trecho que ocorre roubo a carga com certa frequência a via apresentar seu leito carroçável muito danificado ou em obras intermináveis, implicando numa redução de velocidade no trânsito e que ainda possa causar danos com possibilidade de uma pane no local ou mais à frente, logo se pode concluir que ali, a princípio, a responsabilidade tem relação com o órgão rodoviário e com a qualidade da prevenção policial. Se o assalto ocorre após uma parada de ordem técnica ou não, quer para abastecimento, manutenção ou refeições, pode-se presumir uma relação com a inobservância de um código de procedimento operacional, quer pela empresa, quer pela tripulação do veículo, com flagrante indisciplina profissional; é comum, a prática de sucessivas paradas, afastando-se do veículo, perdendo a continuidade do controle e da visibilidade, procedimento este que concorre para que alguém possa especular a natureza da carga e concluir pela origem, destino, valor e outros dados capitais. Se a carga é visível e o produto é muito cobiçado e de elevado interesse comercial, somando-se a outros indicadores que tornam o crime factível, ainda que possam estabelecer qualquer relação com o papel da polícia, no entanto, a responsabilidade pode residir na falta de critério para o transporte de carga com aquela natureza. O que os olhos não veem, não causa tentação.

Se o crime é organizado ou se tem alguma forma mínima de organização, com certeza, esses inconsequentes bandidos só trabalham com informações, inclusive, quanto à posição da polícia; a surpresa e a truculência são suas maiores marcas. Quem já não sabe como se defender resta enfrenta-los, cada qual à sua forma pacífica, sempre com inteligência e sem qualquer outra violência. Violência gera mais violência. A cada assalto rodoviário ou qualquer outro é compulsório que se faça um minucioso levantamento e uma criteriosa análise; tudo feito resta comparar com o perfil bio-psico-social da média desses assaltantes, ao final, consignar-se-á uma conclusão lógica que possa servir de prevenção para outras operações de carga. Um diagrama que aos poucos vai sendo traçado, formando o mosaico da insegurança na rodovia, irá relacionando os componentes da cadeia do delito, identificando os problemas, as vulnerabilidades, as autorias, as pessoas e os fatos relacionados, além de indicar com precisão quais são as pessoas ou instituições que estão negligenciando quanto às suas responsabilidades. Ninguém pode desconhecer que o bandido sabe levar vantagem momentaneamente nas suas “paradas”, só delinque com base em informações seguras; é possível que existam informantes camuflados e infiltrados com agentes de confiança no sistema de transporte de carga ou cousa assim. Ninguém alcança seus objetivos sem informações, logo, tudo inicia com o conhecimento dos fatos, principalmente para prevenir ou combater a violência. Um assalto a um transporte de carga não é só um assalto, tem muita coisa antes, durante e depois; Para conhecer o crime é sempre bom percorrer o caminho inverso da rota do transporte assaltado, a partir do local do fato.

Comparativamente, a qualidade da segurança quanto aos assaltos aos transportes de carga é muito mais frágil do que se pode imaginar e do que é divulgado, pois este crime alimenta uma grande cadeia delituosa de porte nacional, desde os pequenos receptadores de mercadorias roubadas, até às grandes encomendas de veículo de grande porte, bem assim, estabelecendo o pavor junto a todos para quebrar resistências às ações destes e de outros delinquentes, edificando a escola do crime ao lado do tráfico, como forma de ganhar espaço, anulando consideravelmente as reações de qualquer ordem, principalmente, para quem justifica a violência e a insegurança, sem fazer distinção entre os fatos, pela suposta deficiência dos chamados indicadores sociais. Considerando que é mais fácil o elemento ingressar para o espaço da inconsequência, da arbitrariedade, da ociosidade e da delinquência do que para o progresso, pois este requer muito esforço pessoal do próprio sujeito e isto sempre é muito lento, pois tem que passar por inúmeras etapas; e admitindo que aquele indivíduo que já tenha migrado para o mundo criminoso é um estado irreversível, para o qual ainda não existe nenhum tratamento e nem qualquer tecnologia eficiente que possam curá-lo ou erradicar ou inverter esta tendência, e, que nem mesmo, historicamente, as prisões se tornaram corretivas, visto que ainda cultivam métodos ancestrais que apenas enjaulam e o forte da política carcerária brasileira é ser demasiada paternalista, sobretudo, com os mais perigosos, portanto, ainda não conseguiram administrar e efetivar as correções e ressocializações a que se destinam na teoria: em razão de tudo, infelizmente, cumpre a quem tem imediato interesse e sofre todas as provocações possíveis, a princípio, previamente, conceber iniciativas e medidas para estabelecer sua defesa e a segurança de suas atividades, apesar de já contribuir profusamente para este mister, pois todos somos contribuintes compulsórios. Sabe-se que imaginar atividade de segurança é um tanto difícil para quem atua noutro ramo empresarial, como é o caso do setor de transporte de carga, no entanto, algo tem que ser feito, sobretudo, continuar cobrando das diversas autoridades. Até que as cousas se compatibilizem, é possível organizar um consórcio envolvendo empresas da área de transporte, seguradoras, grandes clientes, boa tecnologia e até contar com a colaboração do serviço público, tudo com a finalidade de estabelecer uma Vigilância Armada e Motorizada em favor do transporte de carga naqueles trechos estatisticamente considerados mais perigosos e noutros que irão se tornando. Na verdade, isto é uma missão complexa, mas não impossível, mesmo que não seja impossível, porém, algo tem que ser editado e que posa até servir de exemplo. Não se pode deixar o crime vencer a inteligência e nem abater a coragem, já que vem dominando o esforço. Esta vigilância motorizada pode ser constituída por patrulhas de segurança limitadas a alguns trechos das estradas definidas, com atuação conforme um programa e uma regulamentação específica. Este tipo de vigilância pode ser terceirizado, aproveitando as diversas empresas de segurança estabelecidas nas cidades por onde a malha rodoviária atravessa, agilizando, reduzindo despesas e evitando pesadas estruturas de apoio e outras burocracias, ainda que continue gerenciada a eficiência operacional dos transportes. Esta vigilância pode se constituir um trabalho promissor, considerando que não vai exigir aqueles conhecidos pontos de apoio e nem postos fixos ao longo das estradas, os quais só fazem dispersar as atenções e o efetivo engajamento nas missões. É possível que essa vigilância sempre possa estar visível e atuante, aqui, ali e acolá, o tempo todo ou conforme as convenções. A partir do consórcio, é igualmente importante experimentar outras disciplinas operacionais, como é o caso de não trafegar em certos horários noturnos e/ou que as saídas dos veículos com suas cargas sejam limitadas a certos dias da semana, ou quem sabe, para alguns tipos de mercadorias, o serviço de transporte de carga possa contar com a presença da pessoa de um segurança, bem selecionado e com boa qualificação profissional. Qualquer iniciativa bem administrada é capaz de produzir os melhores resultados, minimizando os efeitos; só não vale é ficar parado, continuar lamentando sem agir e ficar se justificando pela falta de efetivo e de outras condições.