DESCONTRUÇÃO

O mundo tem questionado a violência e a perda de valores éticos e morais dos seres humanos. O cenário é cada vez mais assustador, imperando práticas que nos levam constantemente a temer o outro. Mas o que nos torna seres humanizados? Coisas simples da convivência cotidiana como carinho, dedicação, convivência, troca de emoções, contato físico. No entanto cada vez mais somos privados de desenvolver justamente esse comportamento que é o mais necessário para que se alcance uma sociedade harmoniosa, integrada e dedicada ao bem comum. Somos roubados de nós e dos outros na corrida pela aquisição de conhecimentos, que nos capacitem ao desempenho de alguma função no meio social. Somos preparados a todo tempo para nos tornarmos mão de obra no sistema. Somos apenas peças de uma grande fábrica. A valorização está em um saber que nos custa a privação de momentos significativos de convivência, onde se desenvolveria afetividade e um olhar menos individualista para o mundo que nos cerca. O progresso está fabricando cientistas, engenheiros, políticos, doutores, favelados, classes sociais distintas, fomes, guerras, descobertas e máquinas revestidas de carne, somos peças dessas fábricas.

Acordamos cedo ( ou tarde), saímos de casa sempre apressados, retornamos a ela exaustos ( nossas forças foram consumidas na "nossa fabricação", horas e horas de exaustivas tarefas que atendam ao sistema do qual fazemos parte). Trabalhei, estudei, dormi, trabalhei estudei dormi, trabalhei estudei dormi... Nas bordas dessa imensa panela de pressão estão os excluídos, os que com muito pouco são destinados somente a produção para sua sobrevivência. E dentro da panela de pressão estão todos que irão fazê-la explodir. Ela ferve no conformismo de que assim deve ser, assim deve ser, assim deve ser, assim deve ser....

A propaganda alimenta a violência urbana? Veja bem, dizem que distração de pobre é TV. Que povo alienado gosta de programinhas e novelas. Observo que os que menos estudam, são os que mais tempo possuem para assistirem tv e mais comerciais lhes são empurrados durante a programação. São comerciais de famílias felizes comprando a casa nova, famílias felizes adquirindo uma novidade tecnológica, jovens livres com carros novos, produtos de beleza, conforto, status. Felicidade que é adquirida com a aquisição de bens. Creio que principalmente para os que vivem às bordas de uma panela de pressão, isso gera o desejo do alcance de melhor situação. Justificaria assaltos, latrocínios? Sequestros? Não! Claro que não justifica!!!! Que ideia absurda de ser considerada! Mas como eu disse no principio do texto, cada vez mais somos máquinas e perdemos nossa humanidade, pois o sistema que nos escraviza nos rouba o tempo de convivência com a família, com o outro e marca, para quase todos, uma linha de permanência que ele dificilmente conseguira ultrapassar.

Dentro da panela de pressão, a diferença é que o produto humano mecanizado não está quase nunca com o estômago a gritar de fome. Nada justifica a violência, mas o modo de viver de uma sociedade gera seres violentos e quando o mundo perceber isso uns estarão devorando os outros de forma inimaginável. A linha do tempo mostra a diferença de nossos ancestrais, e por dominarmos o fogo e termos saído das cavernas nos julgamos evoluídos, mas que evolução é essa ? Vencemos doenças e criamos doentes, saímos das cavernas e destruímos a natureza, aprendemos a ler e escrever e desaprendemos a comunicação mais simples (a que se faz no cotidiano e pessoalmente). O homem evoluiu! Tornou-se máquina.

Simone Stone
Enviado por Simone Stone em 14/10/2013
Reeditado em 14/10/2013
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