FAZER O QUE CIDADÃO?

Eu queria que a paz fosse o tapete do chão que caminhamos. Qual é o valor da paz? Antigamente eu temia os animais selvagens, pois em minha mente infantil não havia no mundo nada mais aterrorizante do que ser perseguido por leões, como Sombra e Escuridão. Naquele tempo eu não sabia o que era a guerra ou a violência urbana, eu não sabia que um dia teria que caminhar com medo de seres humanos. Compreendi que animais selvagens estão limitados em uma determinada área, por isso hoje sei que o perigo de ser vítima de um ataque deles é infinitamente menor que o perigo de ser vítima de um humano.

Creio que um dia voltaremos a nos defender como no Velho Oeste, pois a todo tempo há pessoas "caçando" pessoas. Ainda assim a minha ideia dessa violência é vaga, por felizmente saber dela apenas pela mídia, mas sei o quanto são necessárias as medidas que mudem esse quadro. Eu apostaria em leis mais severas, com menos brechas e em um sistema carcerário que empenhasse a força de trabalho do condenado pela justiça. Milhares de pessoas desejam isso também, mas assim como eu, elas sabem que seria necessário um olhar mais atento dos nossos legisladores e um empenho compromissado com mudanças.

Como é possível essa estagnação dos nossos poderes constituídos, frente a essa situação na selva de pedras? A polícia prende, a justiça solta. A condenação é recheada de benefícios, como cumprir apenas um terço da pena e indultos. O sistema não recupera os condenados. Há conformismo e inércia por parte de todos nós, acostumados a escrevermos textos como esses, mas incapazes de ações. Poucos são os que saem de sua zona de conforto para "consertar" algo errado na sociedade. Eu por exemplo não saí, pois estou apenas digitando. Sempre acho que a massa não quer o poder de ir a luta. É como se todos desconsiderassem a força que possuem. Quando digo todos, consigo me imaginar indo até o meu portão, chegando às casas dos vizinhos e fazendo a seguinte pegunta: O que faremos para conter a violência no país?

Muito provavelmente conseguirei a atenção dos idosos, que adoram visitas e quase nunca estão apressados com prazos a cumprir em uma extensa agenda de estudos ou trabalho. As donas de casa estarão voltadas para os afazeres domésticos e que por sinal são desgastantes (sou uma delas). Os estudantes estarão envolvidos com as teorias de diversas disciplinas, entre elas a sociologia e a filosofia. São conduzidos à reflexão e isso é altamente significativo, mas raramente são conduzidos a projetos de intervenção.

A consciência do brasileiro nasce na coerção? Há pouco tempo, usar o cinto de segurança ou capacetes era raridade, por mais que fossem veiculadas informações sobre a gravidade de um acidente em que os envolvidos negligenciassem o uso. Multas geraram a consciência! Raramente nos deparamos com pessoas que não fazem uso dos equipamentos de segurança. Não há cintos ou capacetes que nos protejam da violência urbana, nem há multas (felizmente) que nos conduzam a movimentos em massa expressivos que reivindiquem leis mais rigorosas.

E ocupados com nossas tarefas diárias, continuamos assistindo passivamente os noticiários, como se fossem um entretenimento macabro de filme de terror, mexendo com o imaginário sem que possa nos atingir. Mas não se trata de produção cinematográfica! Nenhum de nós deixa de pertencer a lista de possíveis alvos. Quanto mais impunidade, mais violência. quanto mais passividade frente a essa questão, mais violência. É como se todos estivéssemos em nosso acampamento á mercê dos ataques dos leões Sombra e Escuridão.

Simone Stone
Enviado por Simone Stone em 05/11/2013
Reeditado em 05/11/2013
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