RODA GIGANTE

Quando penso o mundo sinto-o como um palco de todo tipo de violência. O ideal seria que meus pensamentos se voltassem ao cotidiano procurando os sabores das horas. Isso tornaria o tempo muito mais suave, permitindo voos apenas nas asas dos sonhos. Deixar de perceber e sentir a insanidade dos conflitos étnicos, religiosos ou de classes é quase impossível. Houve um tempo em que tudo que eu sabia da vida eram cantigas de roda, saltos na piscina, tarefas escolares, diário. Época em que as horas deveriam ser esticadas para que eu pudesse correr mais, para que pudesse brincar mais. Ainda bem que para a maioria das crianças o mundo dos adultos é desconhecido. Lamentável e dolorosamente milhões delas sentem os reflexos dessa forma adulta de sociedades. Milhares sobrevivem de restos de lixões e não sabem porque sobrevivem assim. Milhares vivem no submundo, no abandono, na exploração, na privação. Todos nós adultos sabemos disso e a maioria de nós se detem apenas na percepção desse quadro. Porque estamos sempre ocupados demais com nossa própria vida. O que gera a violência? A questão leva a um leque de afirmações onde todos tem uma opinião formada. Todos que estão sentados em suas salas aquecidas ou em suas mesas fartas. Depois de minutos o tema é tão abandonado quanto as crianças em situações de risco. Temos mil mundos em um só. Há lugares tão lindos que nunca serão vistos e há lugares tão miseráveis que nunca serão conhecidos. Esses são apenas dois dos mundos (no mundo), depende da posição social que ocupa o observador. Há grandes debates sobre a degradação da natureza e da exploração dos recursos naturais não renováveis. Mas e a degradação do ser humano, da ética e dos valores, é discutida na mesma proporção? Podemos encontrar soluções para o planeta. Duvido muito que possamos encontrar para a humanidade. A humanidade vai perdendo sua principal característica e estupidamente não percebe que vai cada vez mais se tornando uma máquina. Peças que se podem substituir, peças... peças. Somos programados para a produção, para a aquisição, para o individual e estupidamente vivemos na ilusão de coletividade. Estou farta da guerra dos mundos, da manipulação de massas e de fanatismos religiosos. Quem quiser me contrariar que tente me explicar porque as pessoas tem que sair de suas casas pela manhã e retornar apenas após exaustivas horas de trabalho. Porque elas morrem em filas de hospitais (se chegarem lá)? Porque povos matam em nome da religião ( temos decapitações de cristãos atualmente na Síria), o mesmo país que recentemente fez muito de nós chorarmos com a morte de tantas crianças). Porque tanta gente morrendo de fome? Quando escrevo fome, pode-se pensar na fome lá de longe, castigada, mas a fome é mundial. Porque milhares de crianças serão vítimas de exploração sexual durante a Copa do Mundo? Vão tentar me mostrar o país do futebol nas cores verde e amarelo, com um povo sorridente e acolhedor. Quero ver como vão esconder os crimes dos quais serão vítimas os estrangeiros desavisados que vierem para ver os jogos e as belezas desse país tropical. Como farão a varredura nas ruas onde dormem mendigos, usuários e crianças? Quanto a isso, creio que farão uma operação tapa buracos. Tipo as que se faz em período de chuvas, uma maquiagem. E quer saber? Assim que começar a copa, quem tiver sofá não vai pensar nessas coisas, apenas vai se fartar de cerveja gelada e gritar GOL!!!!

Simone Stone
Enviado por Simone Stone em 22/01/2014
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