AS MÁSCARAS SOCIAIS x VIRTUALIDADE
(teoria de Nietzsche relacionada às redes digitais, ciberespaços)
 

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Indubitavelmente, ao longo da história da humanidade, os avanços tecnológicos sempre foram um eixo propulsor de transformações nos mais diversos campos de atividades humanas, processando mudanças de pensamentos, atitudes, comportamentos. Em linhas gerais, na atualidade, o desenvolvimento informacional e técnico está modificando a sociedade sob diversos ângulos, e não poderia ser diferente na  educação. As novas tecnologias da informação e da comunicação vêm desafiando a humanidade pelas transformações econômicas, sociais e políticas globalizadas, em um processo irreversível e cada vez mais acelerado nas interrelações desse mundo globalizado.
   Dentro dessa realidade, trazendo para os dias atuais a teoria de Nietzsche, a moral tradicional (principalmente a esboçada por Kant), a religião e a política são como máscaras, fundamentos destinados a esconder uma realidade inquietante e ameaçadora, cuja visão (como refletida diante de um espelho acusador) é difícil de suportar. Nesse contexto, a moral, seja ela kantiana ou hegeliana (e até a catharsis aristotélica) são caminhos mais fáceis de serem trilhados para se subtrair à plena visão autêntica da vida.
   Nietzsche criticou violentamente essa moral simplista e procurou arrancar e rasgar as mais idolatradas máscaras, mesmo sabendo que estas máscaras  tornam-se inevitáveis pelas próprias exigências e dinâmica e vida, que é explosão de forças desordenadas e violentas e, por isso, é sempre cercada de incerteza e perigo. Enfocando o pensamento desse pensador, dentro de sua teoria, a vida é vontade de poder ou de domínio ou de potência. Vontade que não conhece pausas e, por isso, está sempre criando novas máscaras para esconder do apelo constante  da  vida; pois, a seu ver, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana, numa dinâmica de transitoriedade e substituições. As máscaras, dentro desse contexto, assumem papel importante, uma vez que tornam a vida mais suportável, embora, ao mesmo tempo em a deformem, por fornecerem verdades 'aceitáveis', porém não reais.
     Mas alguém pode se indagar: o que tem a ver o pensamento de Nietzsche
 com as questões relacionadas às redes digitais, ciberespaços, utilização da internet, etc. e tal? Em princípio pode-se dizer que quase nada, mas neste artigo  pretende-se realizar um paralelo entre o pensamento filosófico de Friederich Nietzsche,  sobre sua teoria de construção de máscaras a serem utilizadas na vida real e a realidade desse novo mundo virtual que tanto fascina às crianças, aos jovens e muitos adultos nesse tempo de desenvolvimento tecnológico rápido e dinâmico.
  Propõe-se aqui, para melhor visualizar os impactos na cultura contemporânea, dirigir o olhar para a educação como um processo complexo, inacabado e em permanente evolução, com indagações que levem a novas e dinâmicas, verdades e informações, que se sucedem no tempo e no espaço, portanto, não há como se apoiar em verdades absolutas e estáveis. Logo, o desvendar, o "desnudar-se das máscaras", dos preconceitos, do falso moralismo, etc., não é, para o ser humano, uma coisa fácil de ser realizada, uma vez que este, acostumado, por razões do sub ou inconsciente em autodefesa a criar subterfúgios, desculpas, que resolvem seus conflitos e expliquem seus 'porquês', ... dialogando com esta questão da virtualidade, de ciberespaços, de internet. Essa nudez  que nos propõe Friederich Nietzsche, o qual escreveu vários textos críticos sobre a religião, a moral, a cultura contemporânea, filosofia e ciência, exibindo uma predileção por metáforas, ironia e aforismos será focalizada na análise dos tipos de indivíduos que utilizam essas novas tecnologias. A questão é que muitas vezes, ao desnudar-se, não se suporta o que se vê refletido no espelho ou nos olhos do outro (nosso próximo, interlocutor). Precisa-se, segundo Nietzsche, de máscaras, para não enlouquecer ou definitivamente subverter as verdades tidas ideologicamente como absolutas (quiçá, as máscaras sejam, definitivamente, um mal necessário).  
   Em primeiro lugar, há que se entender (conforme a teoria de Nietzshe), que verdades absolutas o são até que outras a superem e revoguem sua permanência, sua instabilidade. Por exemplo, quando a ciência não tinha como explicar determinados fenômenos, estes eram atribuídos aos deuses (ou, em uma comunidade teocêntrica, à um único deus), e qualquer que subvertia essas teorias, era visto como bruxo, ateu, pagão. Sempre, em toda a existência humana, o desconhecido encontrou barreiras e foi até certo ponto, temido e/ou combatido. O homem veste a máscara da religiosidade para se defender de suas vontades, taras, suas imperfeições 'pecaminosas'. Inventa os discursos religiosos e políticos, com explicações que justificam suas necessidades junto a uma sociedade com tênues linhas divisórias entre o que é ético/moral e o que é imoral e indevido, principalmente em nossos dias atuais, com a grande inversão de valores. Isto, inegavelmente,  perpassa por todos os níveis de convivência e de intercomunicação. Logo, neste artigo, pretende-se focalizar e defender a tese sobre redes sociais digitais, ciberespaços, cibertempo, ciberculturas, virtualidade X realidade; realidade esta em que os indivíduos constroem máscaras para se auto protegerem de si mesmos e dos outros.

     
 
 Dentro destes processos de redes sociais virtuais/digitais que movimentam, que aproximam o ser humano do mundo e o afastam de si mesmo e de quem está próximo dele, algo assim como criar pontes com o estado-nação-planeta, portas, janelas com o seu semelhante distante em relação ao espaço/tempo geográfico, abertas numa rede virtual, "navegando nessa infomaré" (Gilberto Gil); e muralhas em relação aos indivíduos próximo, tais como famílias, amigos, parentes.
  Neste contexto, há aqueles elementos, por exemplo, que utilizam este ambiente virtual para a prática do mal. O estar escondido por trás de uma tela e um teclado de computador, notebook e/ou similares, faz com que muitas pessoas criem personagens, máscaras para si e, fazendo uso dessas máscaras, ultrapassam o tênue linear de uma conduta ético/moral, vivênciando uma real sensação de liberdade para fazer o que bem entende, experimentando a falsa ideia de impunidade que as máscaras disfarces lhes trazem mediante a não revelação de sua verdadeira identidade. Neste âmbito de falsas identidades, de criações de personagens, de seres mascarados e dissimulados, encontram-se aqueles que fazem uso das redes sociais para aliciar menores para a prostituição, que cometem a pedofilia virtual, que disseminam a violência e estimulam o comércio de coisas e/ou práticas ilegais. Vestem determinadas máscaras, que não condizem com a realidade, com  finalidades escusas, que esbarram nos direitos e liberdade das outras pessoas.
  Por um outro lado, há também aqueles que utilizam as redes sociais e se 'desnudam das máscaras' da timidez, dos complexos existências, da solidão revelando o coração e a alma aos outros por se sentirem seguros em não estarem frente a frente com seu interlocutor, nesse caso, a distância aproxima e quebra barreiras que a proximidade evidenciaria, elimina paradigmas e tabus, preconceitos, e limitações são superados pela segurança que a ausência do olho no olho reduziria. Neste grupo de usuários das redes ou espaços virtuais, fortalecem-se amizades, cria-se vínculos entre pessoas de interesses e necessidades afins, que vivem geograficamente longe, muitas vezes, nunca tiveram um contato físico real, mas que se comunicam diariamente, seja pelo antigo orkut, por e-mail, pela webcam e fones  em salas de bate-papos, skiper, twitter, facebook, whatsapp, istagramm, etc.
   Enfim, muitas são  e a cada dia mais modernas e dinâmicas as formas de comunicação virtuais, em rede, das quais se lançam mãos para  efetivar a comunicação, a troca de informações, negociações profissionais, estudos, lazer.
  Uma coisa deve ser lembrada e ressaltada, a definição de redes sociais é histórica e perpassa pela construção da vida em comunidade no decorrer do tempo. Portanto, redes sociais são toda e quaisquer redes de convivência organizada em que os membros se aproximam por interesses, necessidades e emergências afins, são exemplos de redes sociais históricas e reais, a família, a escola, a religião, o esporte, os amigos...
  As redes sociais virtuais/digitais são um produto desses primeiros modelos de rede sociais reais e não existe sem eles. Dentro deste contexto, existem  aqueles que são Imigrantes e os que são Nativos dessas redes.
   Para Marc Prensky - Nativos digitais são aqueles que cresceram cercados por tecnologias digitais. Para eles, a tecnologia analógica do século 20 ­como câmeras de vídeo, telefones com fio, informação não conectada (livros, por exemplo), internet discada é velha. Os nativos digitais cresceram com a tecnologia digital e usaram isso brincando, por essa razão, não têm medo dela, a veem como um aliado. Já os Imigrantes digitais (grupo ao qual me incluo) são os que chegaram à tecnologia digital mais tarde  e, por isso, precisaram se adaptar, muitos têm dificuldade em deixar antigos métodos para trás. Exemplos disso são imprimir e-mails ou não usar a internet como primeira fonte de informação. A distinção entre Imigtantes e Nativos Digitais é, portanto,  mais cultural e de atitude, afirmam os especialistas.
   Logo, Nativos são todos aqueles que nasceram  de 1990 para cá, que cresceram juntos ao desenvolvimento da computação e das tecnologias virtuais, pessoas que cresceram em meio a tecnologia 100% conectados: Computador, Celular, iPod, Facebook,  TV,  Skype, Instagram, etc., e que portanto sabem, literalmente, tudo sobre as redes, que estão totalmente plugados a tudo o que diz respeito à virtualidade e navegação. A este grupo de usuários das redes digitais, está toda uma geração que absorve as informação melhor e que toma decisões mais rapidamente, são multitarefáveis e dinâmicos, processam informações em paralelo; enfim, é uma geração que pensa graficamente ao invés de textualmente, assume a conectividade e está acostumada a ver o mundo através das lentes dos jogos e da diversão, inseridos completamente nesse mundo virtual/digital.
    E Imigrantes são os que vieram antes desse período, e que portanto, têm dificuldades para utilizar seus recursos, mas se inserem neles, por uma necessidade profissional, ou educativa, ou, em algum momento, em menor escala, por lazer. Dentro deste enfoque, pode-se afirmar que os professores que atuam na escola e possuem mais de vinte anos são imigrantes no ciberespaço. Ou seja, nasceram em outro meio e aprenderam a construir conhecimento de forma diferente do que esta geração denominada de “nativos” o faz. (Prensky, 2007), apresentando competência, “condição de não apenas fazer, mas de saber fazer e sobretudo de refazer permanentemente nossa relação com a sociedade e a natureza, usando como instrumentação crucial o conhecimento inovador” ( Demo, 2002, p. 13). Mas, tudo isso, com uma certa restrição em termos de agilidade, rapidez e destreza na utilização desses recursos virtuais.  
  Dentro do contexto da Educação, entre professores (Imigrantes) e alunos (Nativos) cria-se um abismo na comunicação que pode se refletir no processo ensino/aprendizagem.
  A escola na realidade (em especial a Escola pública) não está, ainda, preparada para absorver a informatização. Algumas até possuel laboratórios de computação ou salas de informação, mas as criaças não têm acesso, os professores não sabem utilizar seus recursos. Os alunos por sua vez com seus celulares, iFones, iPods, Tablets revelam grande destreza na utilização dos mesmos. O diálogo entre esses indivíduos (professor/escola e aluno) apresenta um distanciamento que se revela, sob a visão do alunado, a ideia de que os profissionais da educação sejam analfabetos virtuais, e, em contrapartida, sob a óptica da escola, o aluno que passa a aula com o celular e fones no ouvido é um rebelde que não se enquadra nas regras do sistema. 
   Neste espaço dialógico, a falha na comunição toma propensões que podem caracterizar  as limitações de ambos os lados e, que consequentemente, trazem um impacto para os destinos da educação, revelam as máscaras assumidas pelos envolvidos, que servem de desculpas para as mesmas limitações. Ao professor, vestir a máscara de que 'não sabe mexer com computador e outras tecnologias' e se acomodar nisso sem procurar um curso preparatório, alegando que isso é para os jovens e crianças é muito fácil, eximindo-se da culpa por ser um imigrante digital e não um nativo. O alunado, por sua vez, mergulhado nas malhas da digitalidade, precisa sair da rede e absorver os aspectos da vida real.
    Os ciberespaços, o cibertempo, a Educação à Distância (EAD) por meio dos recursos desses espaços e redes virtuais são uma realidade e, querendo ou não a Educação Formal precisa assumir isso como algo que pode e deve ser utilizado para o desenvolvimento do processo Ensino/Aprendizagem. 
  É portanto, necessário aos educadores (Imigrantes) desnudarem-se das máscaras da incompetência virtual, e vestir a ideia de que as TICs estão a serviço do Educador em função do desenvolvimento dos alunos. Arrancar as máscaras de que os alunos que sabem utilizar esses recursos com destreza sejam rebeldes (quando com eles 'atrapalham a aula') ou 'nerds' das tecnologias. Vivemos em um mundo em que a digitalização e virtualidade são reais, e que as inovações se processam e se superam com uma rapidez incrível. Se a Educação não buscar se adaptar a esse fator continuará representando um lugar em que o aluno vai por se sentir obrigado pela família, vendo-se deslocado e incompreendido.
   Sendo, portanto, imperativa a necessidade de criação de políticas públicas para aumentar o desenvolvimento tecnológico e para promover a inclusão digital.
   Quanto às redes sociais digitais, as máscaras que os indivíduos utilizam para realização de seus intentos, dentro destes contextos de virtualidades são uma preocupação, não só em relação às crianças, adolescentes e jovens, mas em se tratando de quaisquer pessoas inseridas nestes ambientes, precisam ser cautelosos, terem comportamentos cautelosos de autodefesa, uma vez que, segundo fora discorrido no início deste artigo, há aqueles que aproveitando-se da facilidade de se disfarçarem com máscaras, que escondem sua identidade para a realização de fins escusos.
   Pais, educadores, família, indivíduos precisam se precaver em relação a isso. E ainda, a legislação deve ser  revista em defesa dos usuários destes ciberespaços, destas redes digitais que se incerem neste mundo virtual para estudarem, para se comunicarem, para buscarem informações, buscarem vículos de amizade, se divertirem. Quais forem as finalidades dos usuários, há verdades  comportamentos, atitudes que precisam ser revisadas pensando na dinâmica dos processos digitais e segurança dos usuários, lembrando-se que, segundo Friederich Nietzsche, "tudo evolui; não há realidades eternas: tal como não há verdades absolutas".
   E dentro da transitoriedade e rapidez com que as verdades do tempo contemporâneo se processam, se intercalam, se sucedem e se superam, é preciso, é de extrema necessidade, que a Educação vista-se dos recursos que tornem seus objetivos e metas mais  atuais, dinâmicos, interessantes, e acima de tudo, não obsoletos.


 
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(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 01/02/2014)
Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 02/02/2014
Reeditado em 03/02/2014
Código do texto: T4674517
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