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LUIZ CRUZ* OU A "BIBLIOTECA CIRCULANTE"
 

 
      Como disse o poeta: “Vida noves fora nada...”.
 
      Dei com o Luiz Cruz, sendo com ele comensal, no velho restaurante universitário, o famoso e “subversivo” C. E. U., ali quase esquina com a Reitoria da UFC.

      E nos sentávamos sempre à mesma mesa, além de um estudante de Jornalismo e outro de Medicina. Ele, funcionário da Universidade, tinha passe livre para fazer as refeições, penso que já pelo trabalho filantrópico que desenvolvia junto à sociedade.

      Já, então, aos fins dos anos 60, coordenava a sua “Biblioteca Circulante”, que, com o maior esforço de órgão de caridade, levava livros, revistas e jornais para doentes em hospitais e detentos, nos presídios, principalmente estes dois tipos de pessoas.

      Mas ele ia também às favelas, fábricas, sindicatos, escolas pobres, cidadezinhas do interior e periferias miseráveis de Fortaleza, distribuindo víveres e remédios, tudo oriundo de doações recebidas.

      Um abnegado, o Luiz gastava do próprio bolso para manter essa biblioteca, que, fora do emprego lá dele, era a sua vida.

      Uma vez, no “Recanto das Letras”, anos e anos sem o encontrar, fiz-lhe um artigo laudatório, destacando-lhe o espírito caridoso. E, tempos depois, ele descobriu o texto, fez lá do “Recanto” o seu agradecimento.

      Nas andanças do tempo, o Luiz virou jurado de televisão; aparecia em vários programas de auditório, tanto em rádio como em TV.

      Nunca mais eu o tinha visto. Dói, agora, vê-lo moribundo e cadavérico. E tanto que fez o “bem sem olhar a quem”. Hoje ao abandono de um leito hospitalar.

      Repito: o Luiz Cruz era um abnegado. Um altruísta. Homem desprendido de bens materiais, que não fazia política nem demagogia com fins interesseiros. Fazia o bem por ser um bom homem – e um homem bom.

      Deus o ilumine e que o levante e o faça sobreviver. Isto será difícil, consoante o estado em que o vemos na foto do jornal, acamado. Mas, para que serve a esperança?

      Quem puder, ajude-o, também, e pelas Mercês de Cima, que o Luiz só viveu para servir ao próximo e divulgar a cultura para os menores, os mais esquecidos e desprezados da sociedade: crianças pobres, enfermos e presidiários.

      Nem acredito no que vejo: o Luiz Cruz está cadavérico, a finar-se, meus amigos. Eu o conheci jovem, idealista, cheio de planos para ser útil aos outros. Alegre, sempre bonachão e com uma alma imensamente bondosa e grandiosa.

      Acreditem que foi assim que o conheci: caridoso, afável, sempre disposto a fazer o bem. Não o deixemos morrer à míngua.

 
Fort., 26/02/2014.
 
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(*) Raimundo Luiz Cruz, 76, nascido em Fortaleza. Há pouco mais de quarenta anos fundou a BIBLIOTECA CIRCULANTE, entidade subsidiada inteiramente às próprias expensas, claro que recebendo doações de editoras, jornais, livrarias e particulares. Por outro lado, ainda com doações do comércio e de amigos levava gêneros alimentícios, roupas, brinquedos para crianças e remédios às comunidades pobres e aos hospitais, creches, etc. e até para cidades do interior. Internado quase três meses em um leito de hospital, vitimado por uma parada cardíaca ao submerter-se a uma cirurgia de hérnia, ontem, 26, foi transferido para o lar de uma irmã, no Centro da cidade, porém em estado de coma. Luiz Cruz é aposentado como funcionário da Universidade Federal do Ceará (UFC) e, por último,  jurado de mais um programa de televisão. Radialista, em sua biblioteca possui fotos ao lado dos maiores nomes de artistas nacionais e até estrangeiros, indo de Roberto Carlos a Elis Regina, de Luiz Gonzaga a todo o pessoal da Jovem Guarda etc., etc. 
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 26/02/2014
Reeditado em 28/02/2014
Código do texto: T4706724
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