Facebook, o que você está fazendo?

Querias ser livre. Para essa liberdade, só há um caminho: o desprezo das coisas que não dependem de nós. – Epicteto

Nesse domingo (25), farto de ser controlado, decidi que desativaria a minha conta do Facebook depois de cerca de três anos de uma prazerosa e inconsciente dominação.

Como qualquer uma das partes de um relacionamento desgastado pelo tempo e pela monotonia do cotidiano, tornei-me insensível. Insensível às postagens irrelevantes que só demostravam a busca universal por um “prestígio hipertrivial” conseguido através de um demasiado número de curtidas

Depois que tomei consciência da vulgaridade dessa rede social, devolvi ao Facebook a pergunta que o sustenta: O que você esta fazendo? Só então, como se estivesse em um diálogo acalorado com o próprio criador do site, Mark Zuckerberg, notei que era dominado, observado, monitorado por entidades travestidas de entretenimento. Percebi que as pessoas estão se tornando, gradativamente, mais insatisfeitas, inseguras, imbecis, ignorantes e não percebem que estão sendo usadas para fins não somente comerciais, mas também políticos e ideológicos. Estamos sendo moldados de acordo com parâmetros preestabelecidos por uma sociedade superior cujos foco é, além da desconstrução do pensamento crítico global, o aproveitamento de uma maioria leiga visando a introdução de uma ideologia fundamentada no egocentrismo e no egoísmo. Nossa liberdade está sendo rompida. Tornamo-nos vítimas de uma solidão real preferida a uma inexpressiva e fugaz convivência virtual.

Decidido a abandonar aquilo que se pode chamar “mendigação de notoriedade”, eliminei cerca de mil daqueles que formavam o meu perfil na rede social. A atividade exigiu de mim muita perseverança e tempo uma vez que o Facebook não oferece nenhuma ferramenta que facilite o processo de exclusão daqueles que costumo identificar como usuários “neoindesejados”, isto é, aqueles que outrora pareceram interessantes, mas que acabaram poluindo a minha Linha do tempo com mensagens regadas por uma hipocrisia oriunda do irreal mundo preconizado pela rede, onde os habitantes são sinceros, humildes, bonitos, cultos e educados. Contudo, tive que excluir um por um, pacientemente.

O cansaço foi recompensado pelo prazer de sentir-se no comando. Fui um exímio ditador. O líder venerado que escolhe aqueles que podem fazer parte do seu seleto grupo de relacionamentos. Cada “cancelamento de amizade” era seguido por um solícito “apartai-vos de mim”. Recuperava aos poucos a minha autonomia intelectual.

Não satisfeito, fui às configurações e procurei acabar com tudo de uma única vez. Após alguns cliques e um breve questionário que me perguntava os motivos da minha atitude, estava livre. Desprezara aquilo que, depois de tudo, descobri não ser dependente, mas necessário ao crescimento de um sistema manipulador e ditatorial que subtrai a minha liberdade e a dos mais de um bilhão de usuários ao redor do mundo oferecendo em troca alguns momentos de um pseudoprazer.