Considerações sobre a Representação Social da velhice

A nossa subjetividade é atravessada constantemente pelos signos e valores da nossa cultura. Quando eu digo “a nossa subjetividade” estou tratando de um aspecto muito particular e intransferível que é a nossa subjetividade individual. Todavia, nossa subjetividade individual também pode ser expressada e reconhecida socialmente, e esse reconhecimento é indispensável para a constituição da nossa subjetividade individual. Essa expressão da nossa subjetividade ocorre tanto através do compartilhamento de signos cognoscíveis quanto de nossas Representações Sociais.

Representações Sociais são modalidades de conhecimento que permitem a comunicação e a compreensão do contexto social na qual estamos inseridos, a partir do compartilhamento de fenômenos materiais e ideativos em que somos capazes de perceber e expressar as nossas vivências pessoais e sociais.

A título de exemplo, usaremos a Representação Social da velhice. Não faz tanto tempo atrás quando a velhice era entendida como o ápice de um ciclo, onde o homem e a mulher, embora estivessem fisicamente debilitados, estavam no auge de sua sabedoria. Já dizia Nelson Rodrigues que o jovem tem todos os defeitos de um homem velho e um defeito ainda mais grave: o da imaturidade. Pois na velhice o homem teria sobrevivido a muita coisa e seria natural que sua experiência o tornasse mais sábio tanto pelo que viveu quanto pelo que viu ou ouviu falar.

Na atualidade, onde o narcisismo e o culto à juventude tornaram-se o sonho de consumo de grande parte da sociedade, a velhice é retratada como a decadência do homem ao invés do seu ápice intelectual ou moral. No lugar da sabedoria, é retratada a demência; no lugar da maturidade, é retratada a dependência para coisas elementares como urinar e se lavar. Ser velho hoje é quase uma ofensa, especialmente por lembrar a toda uma parcela populacional que nós não seremos belos e saudáveis eternamente e que mais dia ou menos dia iremos todos envelhecer.

Além disso, a velhice pode representar a aposentadoria, que é o fim de um ciclo importantíssimo, o ciclo da produtividade, da inserção no mercado de trabalho, da identidade laboral socialmente reconhecida. É claro que os planos de aposentadoria representam um expressivo avanço em termos civilizacionais e de saúde integral do homem, mas como fica a representação social do idoso aposentado? Será que aquela imagem de homem cansado, dependente, incapaz - um estorvo! - não inicia exatamente quando o homem deixa de ser representado socialmente como alguém produtivo?

As Representações Sociais podem ser cruéis, especialmente quando nos revelam verdades indesejáveis sobre nós mesmos. Gostemos ou não, na sociedade atual, o homem só adquire valor quando trabalha, é produtivo e é reconhecido socialmente por seu ofício: tudo o mais é lazer e contemplação!