REVERÊNCIA À TRADIÇÃO - ROBERTA LESSA

REVERÊNCIA À TRADIÇÃO - UMA QUESTÃO DE PERTENCIMENTO!

Eis que a senhora tradição bate novamente à minha porta, adentra minha casa, faz morada em meu coração e então percebo que ela lá sempre esteve e sempre estará, apossou-se daquilo que sou; eis um truque que se sinaliza através dos símbolos. Neste exato momento, nutrindo ainda mais o respeito devido e sentido à toda essa riqueza e vivência que chega até mim de forma tão inovadora arrisco e ouso defender o livre pensar e a bandeira de defensora das manifestações tradicionais folclóricas e populares existentes.

Particularmente avessa à essa cultura instalada gradativa e eficazmente na sociedade, fruto talvez do usual aumento do consumo desenfreado estabelecido na sociedade e que automatiza os saberes, impelindo nossos sentidos ao reino da banalização: sinal dos tempos.

Mas sempre pergundo o que motiva essa banalização? A que preço? Será tão somente em benefício econômico, ou pela ascenção acadêmica ou então por um modismo social que absorve desenfreada e desrespeitosamente o objeto de interesse temporário e que por hora é a "bola da vez", a manifestação folclórico popular de tradição, e toda sua essência.

FICA A QUESTÃO

Onde nesse contexto cabe a devida e tão necessária reverência à ancestralidade que nos legou tal riqueza; à historicidade que nos refevencia a radição enquanto objeto de real interesse e importancia para estudo mais aprofundado da cultura manifesta de um local, por aqueles que nele habita?

Ou melhor, onde situamos-nos quando deparamo os saberes populares enquanto ato e fato à nos pertencentes e manifesto pelo simbólico local, seus significados e significantes que há milênios foram codificados em forma de mitos, ritos, lendas, parlendas, festejos, danças, musicalidade tudo mais inserido no contexto que por hora escrevo, e que é origem e originário de todo nosso existir, e que persiste, resiste, atravessando o tempo e o espaço e sobrevive ao que chamamos intempéries humana?

Esse consumo desenfreado de nossas tradições em função da apropriação indevida e até mesmo imoral e que alastra-se sem que nos damos conta, muitas vezes ocorre em função da falta de tempo, e como sabemos o tempo urge e apesar de eu não concordar, "time is money", e essa máxima se abastece nas maquiavélicas intencionalidades voltadas aos ganhos de determinado(s) indivíduos, grupos organizados ou não e que se travestem de títulos, se acobertam de boas falas, se revelam em sorrisos e pseudo honrarias; mas que na verdade são o que considero e abomino atravessadores culturais, e muitas vezes são legitimados enquanto defensores daquilo que na verdade destroem, usam, desconstroem: a cultura manifesta há séculos em determinados nichos local. Muitas vezes esses seres são equivocadamente considerados e diplomados mestres daquilo que nunca vivenciaram, daquilo que não faz parte de sua fé, daquilo que sequer sabem do que se trata.

Desta forma, repito, ouso escrever, sabendo da necessidade de um renovado olhar munido de diferenciado aprofundamento sobre a questão, sabendo também o quanto é preciso coibir a destruição das tradições manifestas através de ações de salvaguarda que certamente diminuirá o efeito destrutivo e destituidor de sua originalidade. Respeito sim o processo de um movimento próprio da evolução natural e existencial na fluidez contextual das tradições que segue adaptando-se, resistindo e sobrevivendo.

QUAL O "PAGAMENTO" DEVIDO À TRADIÇÃO?

Será que tão somente inúteis "espelhinhos e perfumarias" servem de câmbio às uma riquezas desprovidas de temporariedade e que habitam não somente um espaço físico determinado, mas também a memória afetiva de um local, o espaço etéreo que habita as múltiplas dimensões possíveis à tradição?

Pensemos: Vale a pena cambiar toda riqueza cultural de um povo por futilidades inorgânicas, ou falsas preciosidades que cegam-nos momentaneamente e depois a resultante é a tentativa do preenchimento do vazio que não mais se preencherá, será essa a condição que desejamos à nós humanos?

Pensemos ainda mais: Vale a pena cegar-se ao compromisso que assumimos sem necessidade de assinatura de contratos, e que temos que realizar por honra e glória da manutenção e continuidade do bem mais precioso de cada um de nós, as manifestações populares de tradição.

AH, QUÃO DOLORIDA SERÁ O RETORNO DE TAL IMPOSTURA!

Continuemos a reflexão: Será que não é chegada a hora de se estabelecer práticas e uso de efetivos de ações de salvaguarda de todo patrimônio imaterial e se considerar a dignificação, revalorização, manutenção e profundo respeito para com a parcela da arte humana que recebemos como legado e que ainda povoa nossa sociedade, nossos corações e mentes sem que sequer percebamos.

CUIDEMOS DE NOSSA CASA E ELA CUIDARÁ DE NÓS!

ENFIM...

"É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte" (C. Veloso - É Proibido Proibir)

Um beijo

(O^O)

Ainda bem que há pessoas que têm comprometimento devido e real para com a arte da terra...

Roberta Lessa
Enviado por Roberta Lessa em 09/12/2014
Código do texto: T5063603
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