Não sou Al-Qaeda, nem sou Charlie
Vivemos tempos de extremismos. Às vezes, parece que só podemos escolher entre duas opções. Se alguém se manifesta contrário a algum pensamento dominante, corre o risco de ser tido como intolerante, conservador, retrógrado, radical ou coisa parecida.
Quando terroristas invadiram a sede do jornal Charlie Hebdo, em Paris, matando vários cartunistas e policiais, uma compreensível onda de solidariedade aos membros do periódico se espalhou pelo mundo. Uma expressão foi, então, cunhada: “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie).
Como cristão, tenho uma posição. Repudio, com veemência, o covarde ataque dos terroristas islâmicos, que seriam membros do grupo Al-Qaeda. Todos PODEM se manifestar livremente, mesmo que isto ofenda o que amo. Contudo, não me identifico com o estilo sarcástico e blasfemo do jornal francês. Há coisas que PODEMOS fazer, mas não DEVEMOS. Zombar e ridicularizar publicamente a fé de outrem não me parece ser virtuoso: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém” (I-Cor. 6: 12).
Por isso, não sou AL-Qaeda, nem sou Charlie.
Não sou Al-Qaeda. Eles não toleram o diferente, não costumam perdoar quem os ofende ou à sua religião. São assassinos de seus inimigos declarados ou de “pretensos” adversários.
Não sou Al-Qaeda, pois não devo silenciar quem pensa diferente de mim. Sou chamado a amar o próximo, e este pode ser alguém que me odeie.
Não sou Al-Qaeda, porquanto não devo matar pessoas que fazem charges que ridicularizam o que mais amo. O meu Deus é amor e sua mensagem foi que devemos perdoar indefinidamente o que nos agridem.
Não sou Al-Qaeda, pois, embora o respeite, não tenho Maomé como profeta de Deus, nem o Alcorão como livro sagrado.
Também não sou Charlie. Não creio que devemos fazer humor com tudo e com todos. Há coisas sagradas e seremos sensatos se observarmos isto.
Não sou Charlie, porque entendo que o direito que tenho de livremente me manifestar, não me isenta de exercê-lo com amor e respeito.
Não sou Charlie. Meus princípios não estão fundamentados em uma “filosofia” moderna de mundo que apregoa liberdade sexual e desprezo pelo sagrado.