MEDO DE LADRÃO?

Tenho uma super arma contra ladrão e confio nela a tal ponto que não deixo de ativá-la sequer por uma noite. É incrível o poder da lâmpada acesa! Pior ainda é quando imagino quantas pessoas fazem o uso dessa arma, elegem um dos cômodos da casa e acionam o interruptor. Uau! Esse é o gatilho que garantirá a segurança e total proteção. Desproteção total é quando a fornecedora de energia deixa de fazer o seu papel e faz a casa cair na escuridão, isso é quase que um acionamento de ladrão. É gritar a ele que a poderosa arma de 100w foi desativada. Imagino o quanto esse bandido se importa com essa preciosa informação! É claro que tenho uma segunda potente arma, mas essa é presente da natureza que nem sempre está disponível, é a tempestade. Quando cai uma tempestade à noite, fica garantida a segurança contra ladrão, contra desabamento nem tanto, mas ladrão não sai na tempestade. Até ele tem noção do quanto é desconfortável ficar ensopado. É claro que há uma terceira arma poderosa, que é a madrugada extremamente fria, nela até ladrão permanece debaixo da coberta. Que bicho é esse que nos assombra? E quem é mesmo o pai do ladrão? Dizem que a mãe é a miséria, a falta de oportunidades ou a exclusão. Seria o sistema o pai do ladrão? E como nasce um ladrão? Indo mais a fundo , é melhor que eu me pergunte como é gerado um ladrão? No útero creio que não é. Depois disso vem a primeira infância, posso até ver e ouvir as brincadeiras e gargalhadas nesta idade, os sonhos, as fantasias. Posso até ouvir as respostas do que será quando crescer: bombeiro, padre, caminhoneiro, piloto, médico, artista. Creio que essas respostas saem de todo tipo de paisagem na qual habita um ser da primeira infância. Tendo muito ou nada, a inocência ainda não gerou o ladrão. Então posso pensar agora, que talvez a mãe dele não seja apenas a miséria, mas também a violência. As duas mães unidas alimentando um ser durante o seu desenvolvimento e deixando um rastro principalmente da falta de calor humano. Creio que ainda não é gerado especificamente o ladrão, porque o pai dele não é apenas o sistema, seria necessário mais um pai para as duas mães: o abandono social e afetivo (nome e sobrenome). Tenho pavor desse ser, chego a desejar a morte dele, sei que ele vaga por ai como fantasma, sei que é capaz de representar o inferno na terra, sei que ele também mata e sei que ele e eu pertencemos à mesma raça. Ele não é um leão, eu não sou um coelho. Eu poderia ser o leão? Qual de nós é o animal selvagem? Começo a pensar agora no endereço do ladrão. Onde moram os ladrões? Posso até imaginar um cenário pobre, mas isso seria admitir que todos os ladrões são miseráveis abandonados. Uma inverdade! Hum, palavra estranha essa! Pensando mais, o ladrão miserável é aquele que pula muros e janelas, rouba e mata, violenta. No entanto estamos em um mundo onde esse não é o único ladrão que deve nos levar a ter uma arma de 100 w acesa no teto da cozinha. Há mais uma luz necessária que precisa ficar acesa dia e noite, essa sim, tem eficiência, a luz da consciência de tudo que está a nossa volta. É claro que a minha lâmpada de cozinha é só uma crença tola, quase infantil, fantasiosa, mas ainda assim, luz é sempre melhor que escuridão. Acionar a luz da consciência é dar um grande passo para sair do individual ao coletivo, para sair da casa para o mundo, é ir além de conceitos elaborados erroneamente, aceitos como verdades absolutas. Mas isso é trabalhoso, necessita que arregace as mangas, que abra a mente, que abandone poltronas, que formule perguntas e que busque respostas, que lute, que não aceite ser dirigido por falta de habilitação. Quando penso no possível ladrão que poderá desistir de invadir minha casa por ela ter uma lâmpada acesa, começo a rir mesmo quando faço disso um ritual. Mas quando penso no ladrão que enfrentará a luz da consciência de um povo, isso sim é estar venerando a maior e mais potente arma da civilização.

Simone Stone
Enviado por Simone Stone em 31/03/2015
Reeditado em 31/03/2015
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