Via pública, o lugar da polícia

A cada crise na segurança pública surgem as teses para melhorar a atividade policial. Sem dúvida sugerir é muito fácil, difícil é minimizar a violência só conversando com a população. Entre essas opiniões destaca-se o tal do policiamento comunitário, aquele que é mandado para conversar com os moradores de cada jurisdição. Polícia comunitária, um conceito que não tem levado a nenhum resultado, senão, inativar frações do policiamento preventivo das corporações policiais militares por este Brasil continental, mais do que isto, apenas está estimulando a criminalidade pesada, pois seus autores conhecem o grau de envolvimento desta tal polícia de comunidades.

Essas teorias, as ideias ou sugestões expostas nas mídias que defendem ou indicam o papel público da polícia em polícia de visita domiciliar que uns até denominam de “polícia comunitária” isso não passa de mera ilusão, ou melhor, uma embromação. Essa coisa, sem finalidade alguma, são apenas tentativas e erros que no território nacional, algumas corporações implantaram e o resultado está aí, a multiplicação da violência em todas as cidades brasileiras, inclusive, algumas delas encabeçando a lista de cidades mais violentas no ranking mundial, lamentavelmente. Como insustentáveis que são, essas tais teorias, apesar do prolongado tempo de aplicação, ainda não existem procedimentos devidamente delineados e consolidados que indique um modelo de segurança mais aceitável, mesmo sabendo que é difícil a resolução da equação da segurança pública na sociedade brasileiras. Esta tática se mostra superada, é melhor mudar de paradigma. Vários são os entraves que anestesiam e dificultam a conquista da segurança necessária, então, o caminho que nos levará tranquilidade ainda é desconhecido. Existe sim um fosso, alguém tem que ocupar este vazio para melhorar a qualidade da segurança, talvez falte ordem interna como maior obstáculo ao equilíbrio da violência nos patamares aceitáveis.

O papel da polícia está provado, nunca será esse de fazer visitas inesperadas ou programadas às residências de cada cidadão, exceto quando exigida ou compulsória. A polícia brasileira já é reduzida em efetivo e em especialidades, agora imagine perder seu valioso tempo andando de casa em casa para atrapalhar a vida diária das pessoas. Isso não é tarefa para o cotidiano da polícia brasileira.

Enquanto o segmento policial irá se distrair com as tais visitas domiciliares dispensáveis e desnecessárias, os nefastos bandidos perambulam livremente para praticar toda sorte de delito, desafinado a todos, pois têm a certeza de que a polícia local está em outro plano, um patamar teórico ideológico, fora do contexto, cumprindo o interesse de alguém, dizendo-se pai da polícia comunitária, como se isso fosse a salvação para a inversão da curva que compõe a ascendência dos números das estatísticas da criminalidade. Seus defensores estão fora da realidade, o crime moderno é organizado, o delito não tem fronteiras, o modus operandi vem se mostrando cruel e os seus agentes pertencem aos mais diversos níveis sociais, econômicos e culturais. Hoje a maior arma da criminalidade é a informação e ela está disponível nos mais diversos canais, assim, a delinquência não dorme e nem dá trégua.

Designar uma polícia para bater um papo domiciliarmente é simplesmente um grande desperdício além de um desvio da sua finalidade; isso, panaronicamente é muito bonito, até simpático, como bonitas são igualmente todas suas teorias, mas na prática os resultados ficam sempre a desejar. A violência é tão aguda contra a segurança pública que o cerne da questão não indica esta inoperância como uma saída ou uma solução para os graves problemas da violência que se espraia por todos os recantos onde a segurança é lerda e ineficiente. A polícia, nos dias de hoje, tem que ser mesmo proativa e mais eficaz, não apenas só de corpo presente, pois os criminosos estão em todos os lugares, bem informados, adestrados, com boa logística e agem com precisão, rapidez e surpresa, além de obedecerem fielmente a comandos e planos bem articulados. Nenhum criminoso está só; se ele se encontrar sozinho, trata-se um elemento avançado fazendo parte de uma estratégia. As nossas polícias precisam aprender mais pelo aproveitamento das salas de aula existentes nas vias públicas e no cotidiano das ocorrências. Polícia boa é polícia preparada para prevenir e responder ao crime perpetrado; essa pode ser a policia da boa vizinhança, sem ser necessário andar de casa em casa sem causa.

Em situações absolutamente normais, o cidadão brasileiro não precisa de um aparato policial à porta da sua casa, onde os policiais apenas irão perder tempo útil, deixando de aproveitar para garantir o interesse da coletividade, que é a tranquilidade nas vias públicas e não desperdiça-lo com embromações em nome da segurança pública. Esse negócio de segurança comunitária ou algo assemelhado, ao longo dos tempos muito tem sido aproveitada para alguém obter dividendos eleitoreiros, infelizmente. Enquanto um contingente policial se dedica a dialogar nas residências, as ruas são dominadas pelo tráfico, pelos assaltantes, pela marginalidade como um todo. Quem já sofreu um assalto sabe muito bem a importância de um esquema de policiamento pois na sua falta, prevalece o crime.

Estas teorias cibernéticas estão indo na contramão da realidade de uma violência sem fronteiras e há muito já sem trincheiras.

A função predominante da polícia é a eficiência da segurança pública e isto já envolve o interesse de cada cidadão isoladamente. Ser polícia comunitária é trabalhar para sua comunidade como um todo e não divagar casa-a-casa com o fito de produzir manchetes. O espaço público se encontra repleto de indivíduos maléficos que buscam a ausência da polícia para consumar seus delitos contra os pedestres e diversas pessoas em outras formas de uso do espaço comum e em qualquer estabelecimento onde a segurança se mostre ineficiente. O criminoso sempre atua no vácuo formado pela ausência policial. Quando o espaço não é ocupado pela polícia passa ser tomado pelos delinquentes. Uma coisa é sempre certa, quando a polícia é ausente a criminalidade se faz presente e com insistência, recorrente mesmo.

Como a polícia também não é onipresente, isto é, não pode ocupar ao mesmo tempo todos os lugares, deve usar da inteligência para prever, presumir, prevenir, e, se for o caso, reprimir, enfrentando até com veemência, além de atender todos os chamados de urgência, com a maior presteza, assegurando às vítimas, ainda que em potencial, a certeza do atendimento e da resolução do conflito ou da ocorrência, a todo tempo e lugar, para que o fato não se amplie e as consequências não se multipliquem, pois o braço amigo da polícia é nessas horas de amargura que deve ser estendido onde se mostram as necessidades explícitamente, mesmo que tenha como missão precípua a prevenção da criminalidade. Apesar das ações preventivas, indiscutivelmente a violência ela se estabelece, pois toda violência está nas pessoas, e a maior lição está no antigo adágio popular que encerra tudo isto “A ocasião faz o ladrão”.

Em resumo, a polícia em si já é comunitária.

Admiro os autores, mas a defesa de polícia comunitária merece maior e melhor revisão.