Motocicleta, o transporte versátil

Motocicleta. Podemos dizer com todas as letras da palavra certeza, que o motociclista é o único condutor que utiliza o veículo motorizado mais versátil e ágil que já se concebeu até os dias de hoje para circular nas nossas vias públicas num tráfego de qualquer espécie e que também se entende que expressa uma larga sensação de plena liberdade, isto, no seu mais largo espectro de liberdade, inclusive para desempenhar manobras arriscadas e se sair relativamente bem. Senão vejamos. Por ter porte médio pode estacionar em muitos lugares, inclusive o poder público reserva nas cidades pátios de estacionamento para motocicletas sem ônus para o condutor, muito privilégio mesmo, pois ocupar particularmente um lugar público e nada dever ao estado, além de reduzir a capacidade de tráfego na via em que estacionam gratuitamente, mas isto os consumidores pagam a conta.

Quando em tráfego, o motociclista sempre procura ocupar a frente de qualquer fluxo de veículo como se fosse um serviço de batedor policial. Se o trânsito parar por congestionamento ou o que for a moto ainda circula entre veículos e vai em frente sem nenhum obstáculo para mantê-la parada. Nos sinais, enquanto fechados (vermelhos), logo se avolumam dezenas de motocicletas fazendo uma verdadeira comissão de frente, como fossem abrir o trânsito, às vezes até um espetáculo bonito. Em trânsito no mesmo sentido sempre circulam entre dois fluxos de veículos, imprensando-se num espaço que apenas garante a segurança necessária para as correntes de veículos que seguem paralelamente para uma mesma direção. Mesmo estando assim quase imprensado entre dois fluxos e veloz, o motociclista ainda dispõe da ponta de um pé para chutar o veículo que mais possa se aproximar da sua lateral, por vezes o espaço é tão estreito que os retrovisores das motos batem nos retrovisores dos automóveis e ainda seguem xingando ou soltando impropérios terríveis quando não se dão ao trabalho de parar o automóvel para causar agressão. Verdadeiramente o transporte é mesmo versátil. Em circulação, nenhuma moto ficas atrás dos veículos, normalmente passam à frente de todos sempre em zig-zag.

Também, nada impede de subitamente, estando numa faixa à esquerda dobrar à direita e vice-versa, sem que ninguém possa reclamar e se o fizer poderá até ser gravemente molestado, pois logo se avolumam dezenas de motociclistas imbuídos do mesmo sentimento de rancor. Se um motociclista resolver parar bruscamente, quem estiver atrás que se lixe e tudo faça para não colidir.

Além de todas estas facilidades para o tráfego de motocicletas, os motociclistas ainda ultrapassam pela direita como fosse isso um protocolo normal para esta perigosa manobra, e, se a via for rodoviária é comum ultrapassar utilizando o acostamento da estrada, surpreendendo os motoristas nas rodovias sem levar em conta os riscos que se submetem utilizando inesperadamente o acostamento para fazer ultrapassagens. Nas vias de mão única repetidamente trafegam na contra mão de tráfego (sentido único) pois na contra mão de direção (mão dupla) é simplesmente uma alternativa sempre imprudentemente viável, recorrente. Assim, podemos dizer que transporte mais versátil do que uma motocicleta ainda não inventaram. Parar sobre a faixa de pedestre é uma atitude flagrante em quase todos os cruzamentos que dispõem de semáforos. A velocidade nas vias urbanas vai de acordo com a disposição de cada condutor de moto e nunca em observação à velocidade regulamentada pelo poder público.

Com relação à segurança muitos usuários de motocicletas mais precavidos protegem muito seus cotovelos, considerando que vários sequer levam seus capacetes atrelados em suas motos enquanto outros não utilizam de forma alguma, abdicando da segurança que o capacete pode oferecer na hipótese de um acidente qualquer. A motocicleta é tão versátil que é comum, no cotidiano, observar uma só moto conduzindo três, quatro ou mais usuários, sem contar que de tudo carregam sobre o esqueleto deste transporte, tais como TV, fogão, colchão, lavadora, animais de grande porte, longas tubulações, botijões de gás butano, garrafões de água mineral, etc, apesar de tudo isto o condutor ainda dispõe de oportunidade para falar tranquilamente ao celular, demonstrando fácil domínio na trafegabilidade da moto, visto que utilizar apenas uma mão quer demonstrar muita perícia, a despeito da segurança no tráfego. Outros até empurram com a ponta do pé uma outra moto em pane ao seu lado. Se um pneu furar a moto continua a trafegar e o seu guiador vai mais à frente ou atrás, quase em pé até uma borracharia que nem sempre é tão próximo do local. Será que existe algum transporte mais versátil do que uma motocicleta. Quanto a liberdade, esta não pode existir ao ponto de prejudicar outros usuários das vias públicas, pois se assim for não se trata de liberdade, porém de um comportamento anárquico. Se por qualquer motivo, até pelos sucessivos congestionamentos, prontamente a moto habilmente sobe às calçadas expulsando os pedestres e vão em frente deixando todos pra trás. Haja versatilidade nisso. Isso também compromete os serviços nos hospitais de urgência e deixa muitos inativados por longos períodos, que pena. Ainda bem que não são todos. Enquanto isso, a fiscalização pede carona para correr atrás dessa tal liberdade. Que cheguem logo para minimizar os danos à sociedade que paga todo esse prejuízo causado pela liberdade e pela versatilidade de quem usa motocicleta tão imprudentemente.