RESIDENCIAIS JARDINS DO CERRADO, UM BAIRRO PERIFÉRICO ESQUECIDO - PANORAMICO - PARTE I

Parte da paisagem antes tomada por árvores baixas, tronco retorcido, casca grossa, raízes profundas e solo revestido por um tapete verde, a perder de vistas, localizada no coração da pátria amada cedeu espaço para o que muitos consideram uma minicidade dentro de um gigante metropolitano em constante inchaço social.

Aos olhos humanos, a admiração primária da minicidade alude infinidade, mas ainda está muito longe de alcançar sua dimensão originalmente concebida pelo afoito criador.

Cortada ao meio, pela avenida principal, constituída por ruas curvilíneas, milhares de casebres arquitetonicamente padronizados, com faixas verticais, interrompidas pelas janelas frontais, multicoloridas para diferenciarem-se, uma das outras, dividida em etapas para facilitar a localização de endereços e quilometricamente distanciada do gigante metropolitano, principal centro urbano do Estado. Assim é essa área de expansão urbana. Assim é a minicidade, localizada no coração do bioma, mais precisamente no oeste da Capital. Em nada aparenta um oásis, porém é bela, encantadora, desejável, inconfundível, diferente, acolhedora, harmônica, às vezes, apaziguada, às vezes não, paradisíaca, talvez mágica, indescritível... Imaginada e desenvolvida com a melhor das intenções que o ser humano pode ter, entretanto, abrolhada com seus problemas difíceis, mas não impossíveis de serem resolvidos, para posteriores sujeitos públicos dotados de boa vontade e com olhares voltados para o cumprimento de direitos constituintes.

Milhares de humanos carentes habitam a minicidade, são momentaneamente dezenas de milhares de necessitados. Dentre eles, crianças, adolescentes e idosos muitas dos quais convivem com o descaso, com o abandono familiar, com a violência, com a fome e com as mais diversas formas de exploração do dia a dia.

Os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, localizados na região oeste da Capital goiana foram criados pelo Governo Municipal, em parceria com o Governo Federal, com recursos via Caixa Econômica Federal. O empreendimento possui ao todo 2. 378 casas e 1. 808 apartamentos. O conjunto habitacional recebeu seus primeiros moradores no dia 1º de outubro de 2009 e, há muito, se encontra 100% habitado.

Mas o bairro não foi entregue aos moradores com toda a infraestrutura necessária. As casas foram entregues somente no contrapiso, as ruas sem asfalto, sem rede de esgoto, escola e creche que não atende toda a demanda, uma linha de ônibus ineficiente, segurança precária e, lamentavelmente, excesso de descaso para com a população. É verdade que muitas famílias saíram do aluguel e ganharam mais dignidade, porém, até a presente data, pouquíssimas mudanças foram feitas, pouquíssimos benefícios chegaram ao empreendimento habitacional e o pouco que chegou não foi pela vontade das autoridades competentes, foram árduas as lutas dos moradores até a conquista.

A poeira, se na seca, ou a lama, no período chuvoso ainda continua tomando conta das ruas. Erosões ainda cobrem adultos e ofereciam riscos às crianças. Crianças que não tem nenhum ambiente para brincar, a não ser campos de chão batido, construídos com muito custo pela Associação dos Moradores. Quase sempre, o matagal das “ruas” e das “praças” praticamente cobrem as casas.

Como se não bastasse o fato de o bairro ter sido entregue aos moradores praticamente sem nenhuma infraestrutura (ruas sem asfalto, creche que não atende toda a demanda, uma linha de ônibus ineficiente e inexistência de escola estadual), passados quase seis anos de existência do bairro com todas as casas e apartamentos construídos já ocupados, os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, atualmente comportando quase 30 mil moradores de baixa renda vivem um dilema: moradores não contam com os direitos básicos garantidos pela Constituição Federal! Falta asfalto, rede de esgoto, segurança, educação, saúde, esporte, lazer etc.

É esse bairro que, como tantos outros, têm seus direitos sociais negados cotidianamente que vamos conhecê-lo mais afundo durante esta série: “Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido”.

Gilson Vasco

escritor

Gilson Vasco
Enviado por Gilson Vasco em 06/05/2015
Código do texto: T5232659
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