Oh céus, oh vida, oh azar!

“Por que tudo só está bem quando algo parece errado?”

Um dia chuvoso, segunda-feira, às 17h30min (aproximadamente) na estação da Luz.

Como de praxe na cidade de São Paulo, em dias de chuva, o transporte para. “A linha 11, sentido Guaianazes, está inoperante, por favor, utilizem o metro”, disse uma funcionaria da estação. Multidão sentido metro versus multidão sentido plataforma de “trens operantes”, em direções opostas, se amontoa pelos corredores da estação.

Imaginou? Construa essa cena em sua cabeça. Até aqui nada demais, afinal, vivemos isso constantemente, mas o que destoa nesse cenário caótico e desumano é justamente a reação do ser humano.

Misturados ao tumulto, aglomeração, e desespero de muitos, vemos algumas pessoas rindo, gritando como se comemorassem a desgraça alheia, filmando a multidão para mostrar nas redes sociais o sufoco do transporte público, e quando o trem chega à plataforma, antes mesmo de estacionar e abrir as portas, essas mesmas – ou outras pessoas – se penduram às portas para serem as primeiras a entrar no vagão, e ficam cheias de si por essa atitude.

Não estou aqui para criticar ou julgar ninguém, até por que, qual a atitude ou quem a manifesta não faz diferença. O que proponho é uma reflexão a cerca dos agentes motivadores desse comportamento. Não farei uma análise comportamental, conforme faria a psicologia, pois não tenho o conhecimento necessário para isso, ao contrário, exporei minha opinião a respeito.

Levando em consideração a constatação visual de que esse comportamento é, com mais frequência, praticado por homens, podemos supor, primeiramente, que essas atitudes são uma forma de flertar, uma maneira de chamar a atenção das mulheres mostrando que são imponentes, destemidos e debochados, que riem na cara do perigo, e mostrar aos outros homens que estão no controle da situação, que já “conquistaram” as mulheres; tudo isso usando o transtorno como pretexto. Ou seja, uma atitude machista e grosseira, onde “machos dominantes” mostram que estão ali para resolver o problema, e que se alguém não gostar que venha tirar satisfação.

Por outro lado, supondo que parta de um cidadão (independente do gênero) que esteja somente insatisfeito com a prestação do serviço público, podemos justificar que se trata de uma manifestação satírica de indignação. A evidente “felicidade” expressada por ele perante a situação desconfortável, na realidade, ironiza a má qualidade dos serviços que lhe são prestados, tentando, dessa forma, chamar a atenção das autoridades competentes.

Há uma terceira, e última, análise que podemos fazer justificando do ponto de vista de um ser humano dotado de sentimentos, fraquezas e necessidades, claro, livrando-o de qualquer distinção. Pode-se dizer que esse, em situação desfavorável, sente a necessidade de salientar que é inferior e impotente perante a situação, carecendo assim, de apoio e suporte de quem se dispuser a ajudá-lo; age como uma criança que, fazendo birra, se esperneia para ganhar da mãe o que quer.

Independente de qual suposição tome como verdade – mesmo que não tome nenhuma -, podemos notar, nas três possíveis justificativas, que o ser humano faz uso de uma dificuldade sofrida para buscar o que deseja, mesmo que não obtenha nada.

Imagine agora que uma dessas pessoas, ao invés de estar amontoada fazendo algazarra em uma estação de trem lotada, esteja indo ao seu destino em um helicóptero particular, tomando uma dose da bebida que mais gosta, ouvindo uma boa música, enfim, do jeito que sempre sonhou. Será que estaria 100% satisfeita ou buscaria algum motivo para reclamar? Eu acredito na segunda opção. Dirá que a bebida está sem gelo, que o ar condicionado está muito frio, enfim, duvido que não arrume motivos para dizer que algo está errado. Não estou esperando que diga “amém” a tudo, ou estampe um sorrido forçado no rosto dizendo “Obrigado! Volte sempre!” a todos que passar, mas quero dizer que um pouco de otimismo e agradecimento não faz mal a ninguém e reclamar, pode ser tornar um hábito.

Podemos notar que muitos por aí – talvez até eu e você - tem o mau costume de se inferiorizar perante pessoas e situações para que se torne, assim, mais fácil conquistar o que desejam; uns contam vantagens enfatizando as dificuldades da vida e o quanto tiveram de sofrer para superá-las, outros se mostram impotentes e fragilizados para que sintam, deles, compaixão; enfim, há inúmeros motivos e interesses, mas o fato é que gostam de mostrar ao mundo que ninguém tem mais problemas na vida do que eles. Se você já se pegou assim, ou conhece alguém que faça, digo que procure sempre enaltecer os pontos positivos da situação, ou ao menos identifique com seriedade qual sua condição e possibilidade de obter êxito. Não se menospreze ao ponto de ser notado somente enquanto “anda sobre a carne seca”, mostre-se bem e capaz de superar-se a cada dia. Caso deixe que as pessoas ao seu redor ajam dessa forma tome cuidado, você pode estar agindo igual.

Ayron Barsan
Enviado por Ayron Barsan em 07/05/2015
Código do texto: T5233502
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.