Quem cria dragões, Cria fantasmas.

Quando o canudo aponta para sua cabeça, coberta por um capelo. A academia do conhecimento criou seus dragões, e agora seus membros se veem atacados pelos seus próprios fantasmas. Cortes financeiros resultam em cortes professorais e intelectuais. Não são mais os magistrais, os catedráticos que um dia dominaram uma cadeira. Um dia, muitos sozinhos, dominaram uma cátedra, eram exclusivos em um conhecimento.

Com o tempo criaram uma escalada. Criaram as oportunidades, foram solidários e democratas. Chegaram a ser denominados de auxiliares, assistentes e titulares. O argumento de que qualquer um poderia chegar ao topo, era só escalar. Mas havia obstáculos e desvios, atalhos e perigos no caminho, para que poucos no alto pudessem chegar.

O governo federal vem promovendo cortes financeiros nas agências de pesquisa e desenvolvimento. As mesmas agencias que tanto incentivaram os estudos, as pesquisas e a formação de pesquisadores. A pátria educadora, ainda não definiu os destinos criteriosos da educação. Aponta para um lado e dispara cortes financeiros, vira-se e repete petardos. O poder de quem tem o controle do dinheiro e um canudo na mão. O poder de quem foi diplomado como presidente, junto com outros parlamentares diplomados. O antigo presidente faz coleção de doutorados.

Cada vez mais os alunos e os professores vão se distanciando dos ambientes universitários. O ensino superior está decadente e falido, por falta de professores e por falta de recursos financeiros que incentivem as pesquisas. Não há comportamentos motivacionais. E as faculdades vão migrando para um novo modelo de educação, que se adequem as novas situações. Com a falta de recursos que justifiquem e garantam as instalações, ganha força a educação à distância. O distanciamento entre alunos e professores. Um dia os alunos foram separados com os sistemas de créditos, quando se passou a frequentar diversas salas de aulas, espalhadas pela universidade.

O primeiro dominó da fila já foi derrubado. Monta-se novamente os dominós enfileirados, e novamente são derrubados. O eterno desejo de ver tudo arrumado. Reações em cadeias, ou efeitos dominós, estão estampados nos noticiários. Cortes de orçamentos e cortes de financiamentos; demissões de corpos docentes, afetando os corpos discentes. Falta de professores e alunos, derivam em extinção de alguns cursos universitários. Faltas de mercados, e falta de profissionais qualificados. Entre docentes e discentes a indecência implantada, a jurisprudência do errado.

Eram um grupo de formados, quando terminavam uma faculdade, dirigidas por diretores e coordenadores; das faculdades surgiram as universidades dominadas e controladas por reitores e pró-reitores, formavam-se em bacharéis, ao invés de simples formados. Construíase um castelo de conhecimento onde o reitor era o rei. Criaram as licenciaturas e bacharelados, uns para um lado e outros para o outro. Médicos se apoderaram do título de doutor para serem respeitados.

Criaram um lato sensu e um stricto sensu. Foram construindo separações e distinções, criaram seus grupos legais e restritos. A pós-graduação separando os melhores e os menos preparados. Uma guerra de canudos, entre certificados e diplomados, títulos e certificados de avaliações. A dominação de um poder, em avaliar e determinar o conhecimento do outro. O poder de um dizer e confirmar, sobre um papel enrolado, a capacidade e o tamanho conhecimento do outro, com o respaldo de uma instituição. Escaladas de poder e distinção. Os títulos nobres vão se tornando pobres pela população educacional inflacionada, em seus diversos seguimentos disputados.

Especialistas, mestres, doutores e pós doutores. Criaram grupos de restrições e dominações. Com separações fizeram as discriminações, estre os que eram, e os que não eram titulados; os que eram ou não eram, simplesmente formados.

Com diplomas e certificados, enrolados em canudos fizeram suas disputas e distinções. Apresentam-se em seminários e conferencias como se apresentam em duelos, com canudos obtidos lá e acolá, canudos daqui e de lá. Cada qual na busca de um canudo diferenciado. Formaram guetos de conhecimento, com critérios de avaliação e permanências. Para manter suas posições, tonou-se necessário o que ficou como combinado, uma produção científica.

Aplicaram estratégias econômicas para o controle do capital intelectual. Os professores subdesenvolvidos, professores em desenvolvimento e professores desenvolvidos. Os professores do terceiro mundo, do "segundo mundo" e do primeiro mundo. Foram denominados de auxiliares, assistentes e titulares; outros foram denominados de associados.

Agora a estratégia da dominação atingiu a elite do ensino. Um corpo docente que estuda a dominação simbólica se viu atingido, pelas suas estratégias estudadas e criadas. Criaram seus dragões e seus fantasmas. Foram vítimas de suas teorias e seus estudos. Tornam-se discente, como sempre, diante do primeiro mundo, o velho mundo, mais antigo e mais experiente. O mundo das estratégias, o mundo da dominação econômica e política, física e militar, o mundo da dominação simbólica. O mundo que está localizado no Norte, o mundo que norteia ideias, pesquisas e intenções.

RN, 11/07/15

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Roberto Cardoso (Maracajá)
Enviado por Roberto Cardoso (Maracajá) em 02/09/2015
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