Os jogos olímpicos não são para os pobres

*Por Herick Limoni

Um dos objetivos mais alardeados dos jogos olímpicos, além da divulgação e incentivo à prática esportiva, é a chamada integração entre os povos. Durante os jogos, espera-se que haja um contato, uma confraternização, um estreitamento dos laços entre as diversas nacionalidades representadas, não somente pelas delegações participantes, mas também pelas pessoas desses países que têm o privilégio de participar de um evento dessa natureza e magnitude. Mas, na realidade, a prática tem se mostrado bem diferente da teoria.

Nas olimpíadas Rio 2016, por exemplo, não era difícil perceber, através da televisão, muitos lugares vagos nas arenas onde aconteciam as disputas. Muito disso se pode explicar pela diversidade de esportes que compõem o rol olímpico – trinta e nove na Rio 2016 – dos quais muitos os brasileiros se quer conheciam como o badminton, a esgrima e o pentatlo moderno, só para ficar em três exemplos.

Outro motivo seria o fato de que as pessoas, e os brasileiros com maior destaque, tendem a acompanhar aqueles esportes nos quais seu país de origem é referência, possuindo real chance de conseguir medalhas. Afinal, ninguém gosta de perder! No caso brasileiro, incluem-se aí o futebol, o vôlei (de praia e de quadra), o judô e a ginástica, dentre alguns outros poucos esportes.

Mas, na realidade, o que afastou de fato a população mais carente das arenas foi o preço absurdo dos ingressos cobrados, lembrando-se que, neste caso, a culpa é do Comitê Olímpico Internacional (COI), entidade que controla e estipula o preço dos ingressos nos jogos olímpicos mundo afora. Na disputa pelo bronze no futebol masculino entre as seleções da Nigéria e Honduras, realizada no Estádio Governador Magalhães Pinto, o famoso Mineirão, pude constatar in loco o que já havia percebido pela tela da TV.

Em um estádio com capacidade para aproximadamente 60 mil pessoas, pouco mais de 10 mil lugares estavam ocupados, motivo pelo qual o anel superior, que possui a maior capacidade do estádio, sequer foi aberto pela organização, situação que se repetiu em oito dos dez jogos lá disputados.

Está certo que os dois países não têm muita tradição no cenário do futebol, mas se os preços dos ingressos fossem mais acessíveis à população brasileira, com certeza o evento teria sido melhor prestigiado. Não foi difícil encontrar pessoas que haviam adquirido ingressos por R$ 220,00, R$ 600,00, tentando vende-los por módicos R$ 50, sem sucesso. Muitos destes tiveram o nobre gesto de doar ingressos aos voluntários que trabalhavam do lado de fora.

Nada, qualquer que seja o argumento, justifica os preços dos ingressos estipulados pelo COI no Brasil. Um país em grave crise financeira e política, em que a maioria da população vive com R$ 1.000,00 ou menos. Há de se comentar, ainda, os preços abusivos dos produtos vendidos dentro das arenas, com uma água de 300 ml custando R$ 8,00, um saco de pipocas pequeno a R$ 12,00 e um salgado comum a R$ 10,00, fora outros abusos.

É realmente uma pena que, por essa razão, muitos brasileiros perderam talvez a única oportunidade de participar de um evento da grandiosidade de uma olimpíada pelos altos valores cobrados.

Se há tempos nossa população vem sendo tratada a pão e circo, dessa vez o circo não estava disponível.

Tendo-se em vista que no ano de 2015 metade da riqueza mundial estava concentrada nas mãos de apenas 1% da população – pessoas estas que devem ter se esbaldado nas arenas olímpicas com o dólar a quase R$ 4,00 e o Euro acima disso – chego à conclusão de que, ao contrário do que se fala, os jogos olímpicos não são para pobres. Pelo menos não o foram no Brasil.

*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas