Mãos de Rainha

A rigor, foram duas únicas vezes que vi aquelas régias mãos sem luvas. A nu. Bom que se esclareça. Alvas, um tanto para o róseo, o será só reflexo dos rubores do fotógrafo e meus?

Da cor do esmalte, se esmaltadas estavam as unhas em quaisquer dessas ocasiões, nada tampouco posso lhe afrimar eu. A visão mais recente, datada de 2010, ou 2011, é de uma fotografia, tirada no Palácio de Buckingham, em Londres, no momento exato em que Sua Majestade, a Rainha Elizabete recebia as cartas credenciais do então Embaixador do Brasil junto à Corte de Saint James: Roberto Jaguaribe Gomes de Mattos. A net é que me levou a este registro.

E a mais antiga visão? Esta foi quase não-visão. Mais sensação. E também se deu no referido Palácio de Buckingham, quando fiz parte da comitiva que acompanhava o Embaixador Sérgio Amaral, em parelha solenidade, em junho de 1999. No passado milênio, portanto.

Em cerimônias dessa natureza é facultado ao Embaixador a ser acreditado junto ao Soberano britânico levar um total de oito acompanhantes, normalmente escolhidos pela ordem de antiguidade na carreira ou no protocolo do país ali representado. Recém promovido a Conselheiro, eu era então o sétimo nessa ordem na Embaixada do Brasil

em Londres. Tanto a ida ao Palácio quanto o retorno, faziam-se a bordo de carruagens abertas. Os homens de fraque e as senhoras de longo.

Ao cabo da apresentação da carta presidencial que o credencia como representante do Governo brasileiro junto ao Governo de Sua Majestade, o Embaixador, cerimonialmente, apresenta uma a um de seus auxiliares. Há um aperto de mão. Nua, sem luvas e o ocupante do trono britânico faz então uma pergunta protocolar ao apresentado.

Pergunta e resposta foram bem protocolares, mas ao invés de fitar o azul dos olhos de Sua Majestade, olhei foi para a mão que me estendia. Nua, e sem pelo - ou apelo. Sem calor ou gelo. Mas nuas sim, nossas peles se tocaram naquele brevíssimo instante.

E, de lambuja, ao regressar à Residência Oficial do Senhor Embaixador, teria eu ainda meu lampejo de celebridade, quando o fotógrafo de Caras - que cobria o evento - disparou sua Nikkon. Pegou-me, contudo, de costas. Josta das jostas, ó fortuna, de mim não gostas...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 30/10/2016
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