Breve comentário acerca da greve dos policiais militares no Espírito Santo

Sem a mínima pretensão de criar polêmica nas redes sociais, e lamentado - de antemão, ter que adentrar, ainda que superficialmente -, no mérito de toda essa celeuma envolvendo policiais militares e o atual Governo do Espírito Santo, um fato jamais poderá ser esquecido: AUTORIDADES, sejam elas policiais ou governantes, são apenas alguns, exercem uma função temporária, limitada a um período pré-determinado. De outro lado, não podemos olvidar (e isso tem sido esquecido na grande maioria dos discursos), que todos nós, sem exceção, somos, acima de tudo, CIDADÃOS - muito embora, reprise-se, alguns exerçam o cargo de policiais ou de governantes. E esse status - o de CIDADÃO - ao contrário da “função pública” exercida momentaneamente, é definitivo, irrevogável, irretratável e, sobretudo, irrenunciável.

Partindo de tais premissas, não há que se cogitar - em um Estado que se diz “Democrático de Direito” (“Democrático” - pois todo o poder emana do povo -, e de “Direito” - porquanto submisso às leis criadas pelos representantes do verdadeiro detentor do poder), insurgências ao texto constitucional. E isso, infelizmente, no presente caso, tem ocorrido de ambos os lados.

Que as AUTORIDADES - Policiais Militares e Governantes - possam sentar-se à mesa, ainda que seja por alguns instantes, como CIDADÃOS, despidos de qualquer vaidade, rancor ou corporativismo, dispostos a dialogar e pôr, de uma vez por todas, um ponto final em tudo isso; lembrando apenas, por oportuno, que nesse cenário não há vencedores nem vencidos - perdemos todos.

Perde a Polícia Militar, por insurgência à Constituição Federal e à Constituição Estadual - as quais proíbem, explicitamente, a sindicalização e a greve do militar (art. 142, § 3.º, IV e art. 43, § 5.º, respectivamente). Ora, uma reivindicação que não observa o texto constitucional jamais será legítima. E nem se diga que os policiais estão “aquartelados” devido ao movimento de familiares e amigos, pois tal justificativa não convence nem mesmo àqueles que querem ser convencidos.

Perde o Governo, por negligenciar uma classe imprescindível - que arrisca a própria vida para defender os cidadãos de bem -, e, sobretudo, por manter-se inflexível (ou insensível) diante de um quadro caótico, capaz de trazer desdobramentos imprevisíveis.

Os Policiais Militares fazem jus a melhores condições de trabalho, e a um reajuste salarial, isso é inegável. Mais que isso: merecem ser vistos com “outros olhos” pelos governantes. Contudo, a sociedade civil - que arca com o fardo da carga tributária mais elevada do planeta para pagar os proventos dos policiais e também dos governantes (e nesse ponto, cabe uma singela dicotomia) - não pode permanecer, como está - mercê dos dois lados. E pior, amargando os prejuízos - patrimoniais e extrapatrimoniais - desse impasse.