O segredo do Dia das mães

Quando eu tinha uns 10 anos ainda na era vsh minha mãe alugou numa (extinta) locadora um filme daqueles horríveis da Sandra Bullock, mas que me marcou muito e que particularmente hoje pra mim se torna importante falar. O nome do filme é "Divinos segredos" e conta a história de uma mulher teatróloga que numa entrevista se mostra muito ressentida em relação a sua mãe e a infância sofrida que esta lhe proporcionou por inúmeros episódios de violências e abusos. Ao assistir a entrevista a mãe se sente extremamente injustiçada e agredida e as amigas dela tomam seu partido e pra fazer justiça a ela "sequestram" a filha para mostrar realmente a realidade sobre o comportamento da mãe através de histórias de sua juventude, antes de ser mãe ou ter se casado.

Na época esse filme me fez chorar bastante porque apresentava a vida da mãe como uma sucessão de infelicidades e frustrações que levaram-na a um casamento forçado e uma família indesejada, o que consequentemente resultou em inúmeros traumas e violências físicas e psicológicas a longuíssimo prazo para toda a família. Entretanto naquele momento (eu com 10, 11 anos) pensava de acordo com o filme que o importante era que na vida adulta a filha entendesse que a mãe tinha sido extremamente violenta mas ainda sim era:

1) Uma mulher que tinha sua individualidade anterior ao casamento e a maternidade e foi frustrada por muitas situações da vida

2) Mãe, sagrada e deve ser preservada acima das nossas dores e traumas.

Hoje, praticamente 13 anos depois das minhas primeiras reflexões feministas sobre esse filme desconhecido e sem importância, percebi que ainda não aprendi (aprendemos) que dia das mãe é também dia de mulher e que essa mulher que chegou a maternidade a maternidade a contragosto e causou todas essas feridas ao filhos também estava machucada.

Estou falando isso por experiência própria, estou falando de mim, da minha mãe, da minha avó, das minhas tias primas e amigas e de tantas outras mulheres que se sentem obrigadas (ou talvez não) a maternidade e ao casamento, mas que ao se situar nesse contexto se veem obrigadas a cumprir uma série de expectativas sociais e a pior delas a meu ver é essa do "instinto materno" de se doar sem pensar em si própria nunca e se colocar sempre como menos importante e ser culpada quando fazer.

A minha reflexão sobre o filme "Divinos segredos" e sobre o famigerado feriado de Dia das mães não é de parabéns as guerreiras que batalham pelas crias apenas, mas das mulheres acima das adversidades trazidas pelo patriarcado, das que tem se anulado em prol da maternidade compulsória, das mãe solo, aos filhos de mães tóxicas, das que nãos desejaram ser mães, dos que cresceram sendo filhos de mães. As mães são mulheres, as mães são pessoas, humanas.

Ruana Castro
Enviado por Ruana Castro em 15/05/2017
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