A Dinâmica da Erotização Precoce no Campo das Artes

De tempos em tempos, vivemos dias em que a busca pela pluralidade comportamental do ser humano nunca deixou de ser uma constante; quanto a isso, não há nada de novo. Uma vez que o espírito da humanidade reflete a arte e a arte em si reflete o estado do ser humano, logo a arte é insuprível, não é tão simples apartar a pratica sadia dos revezes prejudiciais: Afinal, o que é arte e o que é conceito da arte? São questões como essas que enganam facilmente, sobretudo no que abrange o contexto histórico da arte e estas influenciam invariavelmente a cultura, o saber e as angustias dos povos de cada época. Nesse sentido, a influência da arte num ponto incisivo da sociedade tende a causar uma ruptura irrecuperável. Sabe-se, no entanto, que essas rupturas estruturais na sociedade resultaram numa mudança drástica (boa ou má) sobre o comportamento existencial, mental e social de um povo.

A idade média já experimentou desse feito e provou que confundir adultos com crianças foi uma péssima ideia. Mas, tudo bem, afinal de contas a humanidade daquele tempo ainda estava gatinhando quanto a evolução do comportamento e do pensamento humano. Então, que houve? É certo afirmar que de lá pra cá houve uma evolução significativa, decerto que sim. Do mesmo modo que ainda não acertamos em cheio e estamos passando por maus bocados, pois, para os dias atuais, dizer que um jovem só tem discernimento para responder sobre seus atos somente após os 18 anos é-me de uma mentalidade boçal que beira à blasfêmia; uma ideia ultrapassada que só tem contribuído para uma geração de filhos vulgares e pais cada vez mais indulgentes. Para mim está mais do que claro o quanto é urgentemente necessário discutir (digamos) uma nova idade limiar para que a criança possa entrar na fase adulta com sabedoria e maior segurança.

Em que pese sobre os atos caritativo da vida civil e criminal, partindo aí da concepção de gerar (ou ser gerado) um ser vivo, da questão moral e da ética. A meu ver a maior idade atual há tempos foi deteriorada pelo tempo e, uma vez obsoleta, não atende sequer com precisão os preceitos de uma sociedade em plena crise moral e a cada dia mais decadente.

Ora, quanto à arte - movimento pelo qual as coisas se transformam a que chamamos de "devir" -, valha aqui uma passagem irretocável de Bessa-Luís: "Como artista, tenho que crer que não há ideias irrefutáveis. A Inteligência sempre se contradiz. O homem de espírito é um eterno devir, a negação das ideias irremovíveis. Se eu julgasse as minhas ideias nítidas e categóricas, faria testamento delas, e, depois, deitar-me-ia entre círios, para morrer". Noutras palavras, Bessa deixa claro que as impressões mais sensíveis do homem são cópias de nossas intenções mais vivas. Observo a mim mesmo em silêncio e com olhar de desconfiança: "Tudo bem que a arte contemplativa tem como propósito apelativo de sempre o de perturbar as expectativas tradicionais, mas, convenhamos, deixemos as crianças fora disso" - ou as chances são que elas expressaram a frase mais de uma vez "eu não sou mais uma criança".

Me espanta a ideia de uma sociedade à rigor do Bolsanarismo, sobretudo no campo cuja diferença de gênero e sexualidade ele pouco pondera, mas não recuso a ideia de delimitar uma sociedade com princípios e valores centrais. Para um ex-capitão reformado do Exército, o Bolsanaro é um cara que estreita princípios e sabe muito bem o quer para a sociedade cujo futuro pertence, mas sua fala, geralmente impulsionada no improviso pelo calor da emoção e pensamento curto o compromete seriamente de expressar melhor suas ideias.

A propósito, mais recentemente, assistimos um exemplo malfeitor de como a arte pode interferir negativamente sobre o comportamento da sociedade, e foi assim que a abordagem da erotização precoce ganhou uma personagem inesperada na personificação de uma tal Gabriella Abreu Severino, nascida em 2 de abril de 2007, mais conhecida como MC Melody, uma cantora e compositora mirim de pop e funk . Mc Melody se encaixa perfeitamente aqui como sendo o exemplo mais recente como um divisor de águas no que diz respeito ao contexto histórico e atual da arte contemporânea, pois sua influência no campo da erotização infantil tem um impacto de risco muito alto a se pagar depois e são os pais que caíram numa certa neutralidade fora de um padrão minimamente aceitável perante à família, à sociedade e às instituições. Vejo, portanto, como um insulto à introdução da criança na vida adulta que tende a tomar forma inconscientemente. No que percebo não estamos progredindo, nem na arte, nem com nada, estamos sim é assinando os mesmos erros dos velhos tempos.