A ERA MEDIEVAL MODERNA

Os castelos, fortaleza, atalaias a palácios começaram a ser construídos por volta de 800 d.C., a partir das ruínas romanas e da decadência desse império. Apesar de rústicos, tinham um “que” de sofisticação e não deixam, até hoje, de impressionar com sua grandiosidade. Imaginar como foram feitas construções tão incríveis num tempo de decadência e escuridão na história da humanidade é incendiar a imaginação. Força animal, humana e moinhos de água, madeiras e pedras... Seria uma grande viagem no tempo. Apesar das grandes construções, a Era Medieval não é chamada de Idade das Trevas em vão. Após uma era de crescimento e desenvolvimento a humanidade entrou numa fase de deterioração cultural, econômica e a ciência caminhou ladeira a baixo em um enorme retrocesso, a religião alienou as pessoas e começou a matar em nome de Deus. O sexo foi estereotipado como pecado e a homossexualidade era punida na fogueira. Os livros foram confiscados e trancafiados em mosteiros, livros “proibidos” tinham suas páginas impregnadas com veneno e o velho hábito de passar os dedos na língua para virar as páginas se tornou fatal, assim todo conhecimento foi enterrado. A Igreja substituiu o Império Romano e seus néscios dogmas governaram a Europa às sombras da evolução. O progresso empacou.

Veio o Renascimento e a humanidade voltou a brilhar, mas algo aconteceu no meio do caminho, pois no século em que vivemos a Idade das Trevas ressuscitou. Vivemos um tempo de ódio, de pessoas que vomitam opiniões impensadas e maculam o espírito humano com tanto veneno.

Hoje os castelos majestosos são construídos pela nossa ignorância, indiferença e falta de empatia, os construímos em volta de nos mesmos e limitamos o nosso horizonte. E apesar de saber que a Terra não é plana, mas nossa visão e raciocínio têm medo de seguir além dos horizontes e descobrir novos mundos, não expandimos por medo de deixar para trás conceitos ultrapassados. O apego ao orgulho e a zona de conforto são um dos maiores males de nosso tempo.

Poderia dizer que a música, as artes involuíram do mesmo modo. Não é preciso saber cantar, harmonizar notas e criar melodias agradáveis e bem elaboradas, basta combinar três ou quatro notas e sacolejar freneticamente as ancas num apelo sexual desmoderado para que se faça sucesso e vire um milionário. Aliás, os apelos sexuais cresceram tanto que a sexualidade está completamente desequilibrada, dos tempos medievais extremamente recatados e o sexo como pecado a liberdade veio mais como libertinagem e depravação, ao invés de peste negra temos DSTs, a AIDS voltou com tudo e silenciosamente vai destruindo vidas, jovens e anciãos, quebrando qualquer fronteira de credo, raça ou classe social.

Onde antes não era possível falar ou emitir opiniões que não fossem de acordo com a lei de Deus, hoje o excesso de informação cerceou a capacidade de raciocínio e de crivo, os indivíduos parecem incapazes de ponderar tudo o que recebem e opinar de forma racional, coerente e civilizada. As liberdades conquistadas ao longo dos séculos parecem ter vindo como um tsunami de amotinação e desordem, virando todos os conceitos às avessas imoderadamente, ao invés de um ponto de equilíbrio encontraram os extremos.

A ciência migrou das restritas amarras para a falta de ética e respeito à vida; não existe a preocupação com a vida ou o bem estar do paciente, a indústria farmacêutica não está interessada em descobrir a cura para qualquer doença que seja se vender remédio lucra muito mais; o dinheiro não é mais um facilitador de trocas e sim o objetivo de vida das pessoas.

Se antes houve o berço da democracia, liberdade, igualdade, fraternidade ou qualquer ideologia genuína na busca de uma política que almeje o equilíbrio do convívio social de forma a amenizar as diferenças, em nosso tempo, assim como na Idade das Trevas, concede-se a uma minoria procrastinada e sem a menor virtude o poder de manipulação e domínio das massas, concentrando nas mãos de uma minoria a maior quantidade de privilégios possíveis enquanto o povo vive a míngua e ainda idolatra seu verdugo e opressor.

O povo ainda vive servil, alimentando a nobreza e o clero vítima das amarras que ele mesmo se ateve, as amarras da ignorância - ignorância em todas as suas formas. O monopólio do que estão no poder persiste ao longo dos tempos e povo aprendeu a viver na inércia das lutas novamente. As mordomias que os antigos reis concediam aos burgueses tornando-os condes, duques, etc., hoje são tomadas com o nome dos famosos “cabides de emprego”.

O Estado permanece reprimindo e controlando a vida do cidadão, bebendo na fonte dos impostos; a religião em muitos casos perde sua elevação passando dízimos a prazo no cartão de crédito e continuam usando da boa-fé, simplicidade ou ignorância de seus fiéis em nome de Deus, o nome dEle sempre em vão. O velho embate entre religião e ciência continua atrasando os rumos do progresso, a própria ciência vulgarizada pela ambição perde seu espírito e significância, a sutileza das descobertas em nome de um bem maior.

Certas coisas fazem refletir se o mundo apenas não ficou mais televisivo. O pequeno, mas intenso brilho de progresso renasceu e faleceu em um curto espaço de tempo.

MariaLaura
Enviado por MariaLaura em 25/07/2018
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