Já vai tarde.

Sem intenção de ser injusta com 2022, que certamente deixará algumas boas lembranças (especialmente se considerados os anos imediatamente anteriores), não posso me negar o prazer genuíno de uma virada de página. Mais que isso; de abertura de um livro novo. Porque aquele já vai tarde. A ansiedade de cruzar a linha, apontar o lápis, tomar um verdadeiro banho de luz, capaz de lavar e energizar a alma, expulsando para o ralo o resto dos miasmas que resistam é irrefreável.

2022, ainda que inclua e represente decisões e caminhos fundamentais, está atado a conjunturas tóxicas, e é preciso respirar. Não acredito em milagres. Tudo possui uma causa, um movimento próprio. 2023 carregará consigo muitos altos e baixos, próprios das reconstruções, dos recomeços; momentos que trarão euforia e outros, vários, de frustração. Mas é aí que a mágica acontece, de dentro para fora, dona de sua própria provocação. Porque a inspiração, nesse contexto, em que a respiração é leve e profunda, se torna possível.

O país está se movimentando, e não tão só se movendo. Mentes estão e estarão atuando, plasmando conceitos, novas perspectivas para as selvas, as cidades, as águas, as gentes. Gentes de todos os sóis e todas as luas; de todos os meios, mais e menos; de todas as marcas nos pés, mãos, faces... Gentes de todas as gentes estarão no radar. E isso não é pouca coisa.

Se eu fosse você, não apostaria no caos; arregimentaria sonhos, multiplicaria ideias e vontades, e arregaçaria as mangas para que seus braços, mãos e versos pessoais se entreguem e integrem 2023.