Fome e insegurança alimentar

 

          Recentemente, a ministra Marina Silva causou polêmica nas redes sociais ao afirmar ao afirmar que mais de 120 milhões de brasileiros passam fome. Foram acusações várias sobre espalhar fake news, apresentar ao mundo uma condição falsa, piorada do país, inclusive de fazê-lo no intuito de prejudicar ainda mais a imagem do ex-presidente. Bolsonaro.

          Marina muito provavelmente se baseava em dados de pesquisa coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022 a partir de um inquérito de insegurança alimentar. Como indica a imagem acima, cuja origem e contexto podem ser localizados no endereço virtual ao final deste artigo, a conclusão é que 125,2 milhões de brasileiros foram, então, identificados como sofrendo algum grau de insegurança alimentar.

          Surpreendente que a ministra tenha causado tal burburinho ou - por que não dizer? - revolta. A falta de acesso regular e permanente a alimento, condição básica de sobrevivência, para dizer o mínimo, e, inclusive, a precariedade na ingestão dos nutrientes necessários deveria se chamar FOME, desde sempre. Marina Silva nada mais fez do que expor a sua provável e pertinente leitura do que significa um ser humano não se alimentar dignamente. É fome. Como é fome de dignidade o que faz alguém se condoer da angústia de um semelhante que não sabe se poderá servir aos seus e a si mesmo uma refeição que minimamente os sustente ao cair da noite ou no dia seguinte.

          Sim, sempre é importante que os dados sejam precisos, delimitados, corretos, e por isso mesmo a ministra os corrigiu posteriormente. Mas a questão é muito mais profunda, e a patrulha nervosa nas redes, diante de tantas outras coisas fundamentais, como a própria urgência de compreensão e atitude diante da gravidade do tema, evidenciou isso. O mundo já se surpreendeu demais com o Brasil nos últimos quatro anos de pária de que esta nação se vestiu. Sermos apresentados a ele como aquela em que metade dos seus, dos nossos não têm acesso ao mínimo necessário para seguir deveria, antes de envergonhar-nos, encorajar-nos a trabalhar para transformar essa história. Ou, em outras palavras, sem a admissão de fracasso da metade que faz três, quatros, cinco refeições por dia sem o medo de que nos falte o necessário de imediato, não haverá chance de sucesso para ninguém de nós. Sucesso aqui entendido como vitória humana. Porque se temos 120 ou 30 milhões de brasileiros vivendo indignamente nesta terra, isso nos compromete e avassala, enquanto nação.

 

Dados obtidos em

https://olheparaafome.com.br/