Consciência Negra

Sigo numa rede social uma deputada por Minas Gerais, e esta semana ela fez uma postagem que mobilizou em mim emoções importantes. Ela falava dos seus muitos sonhos enquanto mulher preta.

Particularmente no mês de novembro, é bem comum, por razões óbvias, ouvirmos questionamentos a respeito da necessidade ou não, da importância ou não de haver uma data que proponha reflexões sobre esse racismo. Há quem diga que se trata de "besteira", que a consciência deve ser "humana", como afirmou recentemente um delegado da polícia civil das minhas Minas Gerais. O discurso é quase invariavelmente o mesmo: a esquerda usa a ideia do racismo para causar divisão na sociedade e se aproveitar disso. Não sei a idade do delegado, mas à altura dos meus 55 anos eu já vi e ouvi muita coisa para que me bastasse o "discurso da esquerda". Coincidentemente ou não, vivi uma situação há pouquíssimos dias, com alguém que eu havia acabado de conhecer, numa conversa trivial sobre cuidados domésticos. O racismo está vivo, é o que posso dizer do meu lugar de pessoa branca que ainda ouve outros brancos insinuarem, tão natural quanto inofensivamente, que pretos não são higiênicos ou caprichosos como nós para realizar tarefas cotidianas.

A deputada a que me referi anteriormente luta constantemente para que outras mulheres e homens pretos não precisem passar por situações semelhantes às que ela passou, e, assim como essa deputada muitas outras pessoas pretas não aceitam esse discurso de que o racismo não existe ou que é incentivado para causar divisão. É profundamente desrespeitoso para com elas, que sentiram na pele o julgamento vil, cruel ou simplesmente "besta" de alguém que se deixou convencer, um belo dia, de que os negros são de uma raça inferior, tentar diminuir a importância de sua luta.

Porque a consciência branca ainda é pálida e fria (quando não, morna); e a consciência humana em pouco superou a dos donos de senzalas, viva o dia, o mês da Consciência Negra brasileira. Especialmente se é a que norteia quem somos todos nós, conscientemente ou não.

Célia de Lima
Enviado por Célia de Lima em 20/11/2023
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