A OCUPAÇÃO DO CERRADO BRASILEIRO: NOVO MOMENTO ECONÔMICO, NOVAS FORMAS DE OCUPAÇÕES TERRITORIAS

Aires José Pereira

Ao discutirmos a ocupação do cerrado brasileiro nesse novo cenário econômico que foi criado por políticas dirigidas pelo Estado Brasileiro, se faz necessário termos em mente que a economia do mundo passava por transformações nunca antes vistas na história da humanidade e que essas mudanças levavam em consideração a incorporação de novas áreas de produção ao seu modelo de apropriação capitalista do espaço. O espaço geográfico mundial se tornava cada vez menor. As distâncias geográficas e históricas ficavam cada vez menores, principalmente, pelo alto grau de tecnologia que era aplicada nessa nova organização espacial. O cerrado brasileiro ”cai como uma luva” nesse novo modelo de gerir e organizar o espaço geográfico. É claro, o sistema capitalista de produção só vê os resultados imediatos e com isso a questão social, ambiental e cultural da população que já habitava o lugar não foi levada em consideração.

Infelizmente a ocupação econômica dos Cerrados tem ocorrido sem um adequado planejamento: os Cerrados são vistos pelos planejadores, financiadores e agricultores apenas como chão a ser ocupado, isto é, só se aproveita no Cerrado enquanto substrato para as atividades agrícolas, como se não houvesse mais nada de aproveitável na região. DIAS apud MAROUELLI 2003. p. 14

Como já havíamos comentado anteriormente, a nova organização espacial do cerrado é eminentemente capitalista e como tal precisa se expandir de qualquer forma para aviltar cada vez mais seus lucros. Dessa forma, são construídas várias bases de sustentação a esse novo modelo. Novas tecnologias são implantadas no lugar e isso muda indiscutivelmente sua paisagem geográfica, além de possibilitar que se desfaçam todas as outras relações que as pessoas possuíam com o lugar e com seus semelhantes. A partir desse momento, as relações pré-capitalistas perdem espaço para as relações capitalistas e tudo passa a ser sinônimo de comércio. Com certeza, surgem vários tipos de ameaças ao sistema anterior.

Além da expansão da fronteira agropecuária, outros fatores ameaçam a integridade dos ecossistemas e recursos naturais renováveis dos Cerrados: construção de grandes barragens e estradas, mineração, agrotóxicos e a expansão urbana. MAROUELLI, 2003 p. 14.

A ocupação desordenada – do ponto de vista ambiental, social, cultural de quem já estava habitando o lugar – vem acarretando muitos problemas ao cerrado, uma vez que ela não atende as exigências naturais, culturais e sociais do lugar. Essa ocupação está atendendo a interesses econômicos bem distantes do lugar. Atende, dessa forma, interesses econômicos internacionais que nada tem a ver com a realidade local. Além disso, a paisagem do espaço geográfico do cerrado vai passar por uma metamorfose constante.

A relação entre paisagem e produção está em que cada forma produtiva necessita de um tipo de instrumento de trabalho. Se os instrumentos de trabalho estão ligados ao processo direto da produção, isto é, a produção propriamente dita também o está à circulação, distribuição e consumo. A paisagem se organiza segundo os níveis destes, na medida em que as exigências de espaço variam em função dos processos próprios a cada produção e ao nível de capital, tecnologia e organização correspondentes. Por essa razão, a paisagem urbana é mais heterogênea, já que a cidade abarca diversos tipos e níveis de produção. Cada instrumento de trabalho tem uma localização específica, que obedece à lógica da produção nesses quatros momentos acima mencionada, e é por isso que o espaço é usado de forma desordenada. SANTOS, 1997p. 66.

Essa desorganização espacial porque passa o cerrado é propositalmente dirigida, como já dissemos antes, por interesses externos ao lugar.

A ação antrópica, apresentada, sobretudo na forma de atividades econômicas, tem conduzido, ao longo dos anos, à ocupação desordenada da região de cerrado e, consequentemente, à sua rápida degradação ambiental. QUEIROZ 2003. p. 3.

É evidente também que esse processo de ocupação do cerrado brasileiro, principalmente a partir da implantação da Capital do Brasil no Planalto Central nos anos 60 e a inserção deste espaço geográfico ao modelo de produção capitalista totalmente tecnificado se deu com total apoio/ação do governo brasileiro.

*Observação: este artigo faz parte de artigo publicado em Revista Científica de Geografia, bem como, de minha tese de Doutorado intitulada: LEITURAS DE PAISAGENS URBANAS: Um Estudo de Araguaína - TO, defendida em 24 de abril de 2013 na Universidade Federal de Uberlândia.

Aires José Pereira é professor do curso de Geografia e do Mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis, é coautor do Hino Oficial de Rondonópolis, possui vários livros e artigos publicados. É membro efetivo da Academia Rondonopolitana de Letras e da Academia de Araguaína e Norte Tocantinense.

Aires José Pereira
Enviado por Aires José Pereira em 31/01/2024
Código do texto: T7988885
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