NO LIMIAR DA CAVERNA

Lastimavelmente o homem está perdendo aos poucos os sensíveis traços da sua humanidade. Nestes tempos sombrios o ódio tenta de todos os modos gritar mais alto que o amor, não porque o amor não tenha voz, mas simplesmente porque fizeram com que os ouvidos se acostumassem com o seu silêncio. O amor iguala os homens aos olhos de Deus, e para alguns isso é inadmissível. Afinal não conseguem entender que para Deus, um raquítico negro da África subsaariana, um esquelético palestino na faixa de Gaza, ou qualquer genótipo branco de olhos azuis de Wall Street, todos, absolutamente todos, têm a mesma importância.

Inconformados, e impotentes diante de algo maior, devotam-se a odiar. Não é o que lhes resta, mas é o que lhes fazem acreditar. O ódio faz da força e da violência a sua razão. E muitos seguem por esse caminho pois é o caminho mais amplo onde não se exige nenhum sacrifício, a não ser a disposição franca de mentir e de recusar a enxergar as coisas como são na sua verdadeira essência, somos todos construídos e constituídos por uma energia única manipulada pelas mãos fascinantes do Criador.

É certo que muitos homens aprenderam a amar e finalmente ultrapassaram o limiar das cavernas; porém, outros tantos ainda permanecem nus, recusam-se a sair de perto do fogo, do abrigo e do alimento. E por isso brigam, por isso odeiam e guerreiam sem parar. Imersos nesse clima deletério vão perdendo todo resquício de empatia e já não querem mais ao menos sentir de longe a dor do próximo porque o próximo é o inimigo que lhes disseram ser necessário odiar para ser livre; só não se dão conta que o ódio os mantém livres dentro de uma grande gruta vazia. Iludidos, ainda creem que quanto mais lágrimas e sangue do inimigo forem derramados, quanto mais do inimigo restar destroçado, mais se sentirão seguros e justificados. Mas, até quando?

O ódio é o verdadeiro líder das massas, tem por alicerce a mentira, o instrumento mais eficaz dos arautos maléficos travestidos de cordeiros, verdadeiros prestidigitadores da fé, os quais dominam com tamanha maestria a capacidade de iludir que conseguem transformar facilmente algozes cruéis em vítimas inocentes e vice-versa. Separam irmãos, amigos e famílias, prometem um paraíso inexistente, e com os mesmos requintes um inferno e arrependimento para quem desistir do ódio ou lhes venha turbar os seus desígnios cúpidos. Tornam-se senhores das mentes, almas e corações dos fracos que se entregam ao ódio medido e desmedido que escraviza.

Jungidos pela força da indução as pessoas cerram fileiras para defender o ódio de todas as formas e modos possíveis. Para elas não há humilhação que diminua, nem vergonha que core a face, nem covardia que tisne a alma quando o direito de odiar é questionado. Tudo vale à pena. Se preciso negar, negar-se-á não três vezes, mas quantas forem necessárias. Se preciso trair, trair-se-á. Se for útil fingir, que se finja então. Se oportuno chorar, que se chore para convencer. Se necessário ofender ou matar, que se ofenda, que se mate. O ódio para essa gente é o bezerro de ouro sagrado e em torno dele se aglutinam enrolados em bandeiras.

Deste modo, aqui no ocidente, vemos nos dias de hoje que Jesus Cristo, a antítese do ódio, por simples incompatibilidade jamais estará presente em nenhuma imagem, em nenhum pavilhão, nem mesmo em uma simples estampa de cartolina dessa gente que toma as ruas em passeatas de ódio. Jamais estará vivo quando seu nome é jogado ao vento por bocas contaminadas de ódio. O mesmo ódio que o matou quando, há mais de dois mil anos, Ele afirmou que o amor aos inimigos também é uma expressão de amor a Deus, um Deus que abriga e ama a todos e espera ansioso que todos saiam da caverna um dia.

Adolfo Kaleb
Enviado por Adolfo Kaleb em 26/02/2024
Reeditado em 27/02/2024
Código do texto: T8007674
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