Resquícios de paz

O cheiro de terra molhada pela manhã faz com que o dia pareça nascer com uma nostalgia diferente do comum – os ignorantes normalmente se perguntam sobre o que há de errado com as suas miseráveis e fantásticas vidas, mas jamais acabam obtendo amparo para seus tormentos. As ambigüidades vão ser comuns todos os dias, tanto nos textos quanto na correria frenética do dia-a-dia – e isso será o que irá diferir homens de monstros: suas ações. A grande questão que não merece ser respondida é a mesma que jamais deveria ser feita. Por quê? Sempre aparece alguém engajado em descobrir os porquês de o mundo não ser pacífico. É um verdadeiro desafio para mentes despreparadas entender tudo que acontece – ora falar em destino... Como pode uma situação estar predeterminada a acontecer e o cidadão não poder influir sobre ela, para o bem ou o mal?

A única resposta plausível para estes mistérios é que o mundo não passa de uma grande incógnita. De nada adianta buscar razões para as coisas interessantes e as fúteis que acontecem – só existe racionalidade dentro do pensamento de quem se preocupa e não se permite ficar inerte. Só encontra a paz quem transforma idéias em ações. Só prospera quem deixa de ter orgulho e expande sua capacidade de compreensão. Só cresce quem se agarra a uma ideologia e acredita - e luta - por ela até o fim de sua vida.

O vento e a brisa no final do dia dão uma sensação de paz, apesar de ela estar sempre presente, poucos a percebem e fazem deste momento um esconderijo para seus delírios. É quando tudo se acaba, não há razões nem força para seguir contrariando o que está escrito. Mas às vezes aquele velho sentimento arrebatador chega com força e derruba tudo aquilo que os anjos acreditavam ser a “coisa certa a fazer”. Assim nasce a verdadeira e distante paz, a única possível no mundo atual – a do pensamento,

Cedo ou tarde, todos vão perceber que não são livres para executar suas idéias e ações – vão se sentir tão impotentes quanto um líder militar sem poder mandar suas tropas para o ataque. E neste dia, se abrirá no horizonte aquela nuvem negra que desce todas as noites, silenciosa e espreitando os pesadelos dos pobres descamisados, que serão por ela levados ao aconchego eterno – longe do frio e da crueldade do mundo terreno. Então, pela primeira vez, todos irão perceber a forma ignorante com que têm conduzido suas vidas – vão se perguntar como foram acreditar em preceitos tão antiquados, mas será tarde. E não haverá respostas, o dinheiro já não poderá comprar tudo que existe no mundo, nem terá valor – real ou simbólico. No limbo, tudo será idêntico. E as pessoas vão deixar de ser mesquinhas e vão concordar em ouvir a opinião daquele rapaz que ficava quieto, estranho e perdido no fundo da sala de aula. Então, finalmente, o mundo terá um resquício de paz, quando os seres humanos esquecerem sentimentos assassinos como a inveja, a soberba e tantos outros que machucam somente por serem citados em linhas tortas de um texto sem sentido. Por alguma razão, as palavras passarão a ter um novo sentido. Amor não será simplesmente um sentimento, mas o combustível que irá levar o mundo à tão sonhada e nunca alcançada paz... E no final da noite, tudo que as pessoas vão desejar ouvir será uma voz chamando e dizendo aquelas três palavras que podem acabar com uma guerra.