A busca insana pela felicidade!

Nísia M. de Sousa Cordeiro

Pedagoga / Extensionista Rural

O maior sonho de um ser humano é a felicidade. E se busca este sonho de qualquer maneira, em qualquer situação e sob qualquer preço. Quando qualquer coisa se interpõe entre esse desejo e sua realização gera desordem, tanto no plano físico quanto mental.

Entretanto, se perguntarmos a qualquer pessoa que transite inadvertidamente nas ruas, de forma súbita, o que ela chama de felicidade, não raras vezes o traseunte nos surpreende com respostas altruístas e sem convicção sob o seu significado. Tenta espelhar uma realidade infantil e até medíocre sobre sua existência. Os mais pessimistas ousariam dizer que ela não existe.

Mas, o que é mesmo a felicidade? Seria tudo o que traz satisfação ao corpo, à alma e/ou ao espírito? Nossa existência é calcada nesse princípio e quando qualquer evento, por mais passageiro que seja, desvia ou macula essa busca, desestrutura essa intrincada cadeia funcional e o ser humano desmorona em suas bases. Entretanto, quando em um outro momento a esperança renasce, toda a busca volta na mesma intensidade. Quando isto não acontece e a fragilidade do espírito assume o comando, o vazio preenche a alma cansada, a vida perde o seu sentido maior e isto traz a desistência, a falência da energia vital, passando a morte a ser a esperança única e verdadeira. Seria esta a explicação para o suicídio sem explicação?

É mister que o ser humano detenha vários fios de expressão de felicidade. O medíocre "jogo do contente" da protagonista Poliana do livro de mesmo título, é um bom ensaio para vencer os desafios que nos incitam no dia a dia. Mas, o verdadeiro jogo centra-se na fé, na certeza de uma energia superior Onipotente, Onisciente e Onipresente. Como conciliar esta força suprema aos ensaios de uma mente privilegiada que prima e se exaure na razão? Quando a mente viaja pelos meandros da introspecção, da reflexão profunda e do mergulho nas essências mais complexas depara-se com o nada e este nada é o limiar das grandes e profícuas descobertas.

Entretanto quando chega a esse nada o mundo das idéias se confunde com a possível e frustrante realidade do nada e o desespero apodera-se de suas entranhas e percorre todo o caminho da circularidade do ser.

Por analogia ao deparar-se com o nada é como se fizéssemos a descoberta do disco de Newton em evolução invertida. Primeiro a ausência total da luz, símbolo da cor preta, até a descoberta do branco, o ofuscar da luz representando um vazio iluminado, radioso, brilhante, mas que é o nada, se a busca termina por aí perde-se o encontro com a magia multifacetada da vida. Quando o disco pára de girar e continuamos a fixar nosso olhar nele, vem o deslumbramento, a fragmentação do disco em muitas e variadas cores. Não importa em quantos cores o disco é pintado, ao girar vai nos mostrar a cor única que representa a luz. É então no instante em que o disco gira intensamente que podemos perder a ligação com o todo universal e absoluto. Todavia é na esperança oriunda da fé que o perseverante espera e tem a visão colorida do universo e suas leis fundamentais.

É também nessa descoberta que está a felicidade. No doce e inocente embalar quotidiano das coisas simples. É a absorção de pequenas coisas, pequeninas mesmo, que vai nos configurar a beleza estonteante da existência. São as aprendizagens pitorescas que somam verdades: é o canto dos pássaros; é o brilhar ofuscante do sol em sua fraterna aparição; é o movimento melancólico das ondas do mar; é a visão da dor; é o experimentar da alegria; é a preservação da história humana pela oralidade; é a inteligência; o amor; o perdão... É nessas nuanças corriqueiras que finalmente se descortina à nossa frente a felicidade, esta, nada mais é que um estado de espírito e quando perdemos tempo em buscá-la fora do nosso próprio EU, perdemos a oportunidade de cantar sob o manto das lágrimas inevitáveis que fertilizam o solo da emoção e garantem a safra da experiência!

Nísia Maria de Souza
Enviado por Nísia Maria de Souza em 31/05/2008
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