Extensão rural: aprendizado pulsante no universo holístico do campo

Nísia M. de Sousa Cordeiro

Pedagoga / Extensionista Rural

Quem espera ingressar nas fileiras da extensão rural com uma ótica centrada na praticidade do profissionalismo não consegue perceber nesse todo e complexo mundo campesino a riqueza multifacetada de suas particularidades. Ouve-se falar em sacerdócio, em ação missionária, em altruísmo, porém nada disso expressa de forma condigna o que significa "ser" extensionista. Vai além dessa conjuntura, e a magia adentra na magnífica forma com a qual o aprendizado acontece. Não é um aprendizado unilateral, nem tampouco há mestre e discípulo, todavia o que acontece é uma interação simbiótica entre o extensionista e o agricultor familiar.

Nas relações com o homem do campo a técnica atrelada ao conhecimento acadêmico é realçada pela maneira meticulosa e "desconfiada", que o agricultor em sua sabedoria peculiar, recebe as orientações e, em contrapartida, nos brinda com um manancial de "verdades" revestidas de mitos e obumbradas no empirismo sem a constatação científica, entretanto experimentada, que nos aguça a curiosidade e nos faz enveredar pela dinâmica da realidade que suscita a investigação científica. Esse conhecimento que ouso chamar "in natura" possui a força vital da sobrevivência, independente do registro escrito, alcançando, portanto, sem distinção, os sujeitos ágrafos ou não. É através da oralidade que se constrói sua gama de conhecimentos; é pela experiência que sua técnica é absorvida; é pela perseverança e habilidade que o saber popular se afirma; é finalmente pela observação meticulosa que suas "leis" são elaboradas e é ainda pela força dos laços familiares de respeito e zelo pelos mais velhos que sua prática assume contornos de consciência do fazer.

É interessante perceber a mudança de atitude do agricultor familiar diante do novo, com suas nuanças científicas que passam a ocupar seus espaços, quando o extensionista consegue conquistar sua confiança e com habilidade miscigena os conhecimentos e a prática acadêmica ao conhecimento local. A face sisuda e desconfiada abre-se em largo sorriso ao perceber a melhoria da produção e até mesmo da qualidade de vida alcançados nesse processo de amálgama perfeito. A pureza das reações e o encanto diante dos resultados são apaixonantes. Qual extensionista não se sente plenamente satisfeito quando se percebe agente dessa transformação construída sem os efeitos avassaladores da antropofagia?

Há um novo rural sendo questionado, discutido, formulado e reformulado nas rodas formadas pela plêiade científica e é notória a necessidade de uma nova caracterização do espaço rural não mais visto como uma "antagonia" do urbano. Entretanto há uma característica inata nesse espaço de infinitas descobertas: o homem não se descaracteriza de suas raízes, de sua intimidade com o ser supremo nas suas relações quotidianas com a natureza que lhe conferem um acurado senso de reflexão o qual, por conseguinte, lhe permite a sensatez em ser feliz na realidade em que vive e com a qual convive.

Participar desse universo mágico, de seus sabores e aromas assaz inebriantes só nos é permitido quando assumimos a verdadeira identidade da extensão rural como um apaixonado adepto das relações homem/mundo na simplicidade de seus ensinamentos, na pureza de suas intenções e na fantástica intimidade de sua sabedoria característica. É compreender a simbologia que as atividades campesinas exalam. É se reconhecer girassol em sua "teimosia para estar voltado sempre para a luz"; é ouvir o canto de um bem-te-vi e interpretá-lo como uma jovial saudação; é ter em si a ambição de ser sol na fraternidade igualitária das relações interpessoais; é saber sorrir com a alma diante da alegria indescritível em oportunizar mudanças, em ser agente de transformação e promoção do desenvolvimento sustentável. "Ser" extensionista é muito mais do que isso.. Defini-la com perfeição e lisura vai ser o meu eterno desafio! Oxalá um dia consiga tal proeza.