Brasil dengoso!

Nísia M. de Sousa Cordeiro

Pedagoga e Extensionista Rural

Em 13/04/1831 foi realizada a primeira execução do Hino Nacional Brasileiro. Data esta que se consolida como o dia do Hino Nacional. Foi interessante descobrir isso. Sem ser minha pretensão criticar um dos mais belos hinos pátrios, este verso sempre me causou certa rebeldia. Um país que se deita em berço esplêndido não se encoraja frente às adversidades e as absorve como inevitável ou vai se passando a bola de mão em mão na busca infrutífera por culpados.

Desta fraude remanescente da letargia do brasileiro advêm situações complexas e essencialmente violentas contra a dignidade, a qualidade de vida e a sobrevivência humana nesse país. Atitudes cidadãs simples são encaminhadas ao poder público e vice-versa. É imprescindível que o povo brasileiro desperte desse sono secular e detenha em suas mãos as possibilidades de mudanças, transformações e realizações pujantes que lhes recobrem a dignidade perdida.

Essa sintomática avassaladora do sono brasileiro tem início no voto. Quem elege os majoritários e os legisladores é o povo Quem permite que se estabeleça o caos e feito ovelha diante do lobo se submete aos desmandos públicos continua sendo o povo. E agora essa epidemia de dengue? Nem parece estarmos no, tão ansiosamente esperado, século XXI. As ações de combate à infestação do mosquito devem partir do povo. São duas as frentes de trabalho árduo, que nos convida o momento, a enfrentar: Uma, é cobrar do poder público aquilo que lhe é de competência; a outra é cumprir com seu dever de cidadão nas condições higiene, organização e educação.

Parece que tudo se manifesta de maneira ilusionista. Tudo fica mascarado entre o direito e o dever por ambas as partes. O governo finge que combate a epidemia e monta barracas tal campo de batalha, digna de uma guerra sangrenta, com direito a inauguração. Vale ressaltar que os "dengosos" realmente têm pano de fundo suficiente para sentirem-se num campo de batalha, estiveram ameaçados por um verdadeiro fogo cruzado. Claro que não estavam ameaçados pelas operações bélicas, o paciente (descobri agora porque esta denominação de pacientes às pessoas sob tratamento médico no Brasil) há de convir que entre uma bala perdida e o tratamento de hidratação não há muitas opções. Tem é que ter paciência mesmo.

E os postos da Polícia Rodoviária Federal que mais parecem sucatas de ferro velho. Imagino a festa das "mosquitas" diante de tantos berçários para por seus maravilhosos ovinhos. Dizem que a lei permite a permanência dos carros apreendidos e destruídos em acidentes devem permanecer por três meses nessas unidades e postos a seguir em leilão. E porque eles passam um tempo infinito ao sabor do sol e mais preocupante ainda, da chuva? Passo diariamente num desses postos da PRF no trajeto para o trabalho e meu exercício mental quotidiano para estimular meu cérebro na tentativa de não ser acometida pelo mal de alzheimer é jogar o joguinho da memória, observando se foi retirado e/ou acrescentado algum bólide daqueles ao lote. Já até desenvolvi afeição por esse ou aquele modelo ali funestamente depositado, uns tão novinhos...

E o povo, que diante de tudo o que é veiculado pela mídia; pela saúde através dos agentes comunitários e outros profissionais da área envolvidos com a causa da vida; através do esforço em verdadeiros mutirões realizados pelas escolas, teima em garantir, aos endiabrados mosquitinhos, um habitat favorável? São ações simples de cobrança justa e de atitudes que podem mudar essa realidade. É a velha história do esforço conjunto que traz o sucesso, o êxito em qualquer empreitada. São tantos os brasileiros que usam sua mente brilhante na busca de soluções simples: armadilhas para o mosquito reutilizando as garrafas pet; soluções caseiras como o vinagre; educação básica e consciência cidadã combatendo os criadouros.

Se cada um fizer a sua parte crianças e jovens não terão suas vidas ceifadas precocemente por um motivo tão fútil e primitivo como uma epidemia de dengue. Idosos não passarão mal pelo susto inevitável diante do cenário de guerra a que estão expostos.

Não será necessário armar tendas para que o mundo inteiro perceba o quão primitivos somos. É até uma questão de higiene básica o extermínio dos criadouros. Não vamos esperar uma lei ditadora que conduza aos presídios os recalcitrantes intimados a destruir seus criadouros e não o fazem O Aedes Aegypti não é "bichinho de estimação". Combate nele em todas as frentes é uma obrigação pública e de todo cidadão brasileiro, independente de ser criança, jovem, adulto ou idoso. Levanta do berço povo brasileiro, acorda Brasil!

Nísia Maria de Souza
Enviado por Nísia Maria de Souza em 01/06/2008
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