Pontos sobre drogas - 2ª parte

Respostas do volume 2 do curso de extensão da UNB: “Prevenção ao uso indevido de drogas.”

1 – Como fazer para que prevenção e repressão contribuam juntas para diminuir o uso indevido de drogas?

Prevenção e repressão não se diferenciam apenas pelo modo de ação, mas também pelo público a que se dirigem.

O objetivo da prevenção, que deve ser sempre a primeira a agir em uma comunidade, deve estar voltada para os usuários ou possíveis futuros usuários de drogas, não com objetivos punitivos, mas educativos. Sua meta não deve ser apenas evitar que a população-alvo se envolva com as drogas, mas que também não se envolva posteriormente com o tráfico, prostituição ou com a criminalidade em geral, fato corriqueiro entre usuários.

Ao mesmo tempo que a prevenção deve agir mostrando a esta população formas alternativas de divertir-se e de enfrentar os problemas – em resumo: viver – a repressão agiria punindo os criminosos com penas proporcionais à gravidade dos delitos (maiores para os grandes traficantes e menores para os “aviões”, a fim de desestimular a entrada nesse meio). O objetivo da repressão deve ser sempre diminuir o terreno dos traficantes, prendendo-os e, se possível, reeducando-os. O da prevenção é de evitar que o uso indevido de drogas e o tráfico ganhe novos adeptos (embora variáveis sócio-econômicas estejam firmemente arraigadas na entrada da maioria dos jovens no narcotráfico).

Essas duas formas de combate às drogas devem trabalhar em constante comunicação, juntas (enquanto uma trabalha, a outra também não deve parar, pois uma forma não exclui a outra), mas de forma separada. Por exemplo: se os jovens de determinada comunidade começam a se drogar, a repressão entra para coibir os traficantes, enquanto a prevenção age com a meta de evitar que os jovens se envolvam ainda mais com o problema.

Podemos também citar o exemplo de professores e padres que eventualmente morrem assassinados por traficantes, por promoverem campanhas anti-drogas em seus domínios.

Pessoas que trabalham nesse tipo de campanha devem ter acompanhamento informal da repressão, no sentido desta mostrar a elas indivíduos que trabalhem ou que tenham suspeita de trabalhar com o tráfico. Assim, seria mais difícil para o aluno que também é traficante entrar com uma arma no colégio. Os professores, no caso, também poderiam tentar uma reeducação com este aluno, evidentemente sem puni-lo nem expulsá-lo do colégio, mas tentando direcioná-lo para outras atividades. A repressão também deve ser responsável por oferecer proteção, na medida do possível, para as pessoas que promovem esse tipo de atividade, contrária aos interesses dos traficantes. Isso não quer dizer que um homem armado de fuzil deve estar nas salas onde se realizam palestras sobre drogas. Essa proteção deve aparecer na forma de um policiamento ostensivo afim de proteger todos os cidadãos de qualquer crime. Infelizmente, isso tem se mostrado uma utopia na sociedade. Contudo, quanto mais nos aproximarmos dessa forma, melhor.

Do mesmo modo, quando a repressão descobre um novo ponto de tráfico, ou um novo corredor de transporte das drogas, agentes preventivos deveriam entrar em ação para avaliar a participação da droga na vida daquela comunidade, procurando resgatá-la de sua influência.

2 – Como lidar com o dependente de drogas e qual lhe parece ser a melhor forma de tratamento para ele?

Quando um dependente de drogas aceita iniciar um tratamento, se costuma dizer que ele chegou ao fundo do poço. Isso porque sua auto-estima está seriamente comprometida, fazendo com que se sinta incapaz de guiar sua vida sozinho, sem ajuda especializada. Por conta disso, o dependente – ao menos de início - duvidaria também de que um dia conseguirá abandonar as drogas e voltar a uma vida normal.

De qualquer modo, provavelmente esta pessoa passou um bom número de anos com dedicação exclusiva às drogas. Foi um período em que não estudou e não trabalhou: um vazio de experiências. Mesmo que pense que conseguirá abandonar o vício, o dependente pode ter o medo de voltar a estaca zero quando se fizer a pergunta: “E depois?”.

Qualquer programa de apoio a toxicômanos deve, de início, resgatar a auto-confiança no doente, de forma individualizada, mesmo que se trate de uma clínica ou ambulatório com vários pacientes, isto porque apesar do problema ser o mesmo, a experiência de cada pessoa é única. Por isso, deve-se respeitar sempre o limite de cada um.

Evidentemente, ao mesmo tempo que se realiza essa reestruturação da auto-estima, ou seja, uma reorganização a nível psíquico, deve haver também uma reestruturação biológica (a desintoxicação) e familiar, pois a família do toxicômano, co-dependente do vício, deve aprender a lidar com esta nova pessoa que deve chegar, com suas dificuldades, anseios, e possíveis recaídas.

Conseguindo restabelecer uma boa relação com a família – nada mais do que uma fração da sociedade – o ex-dependente terá uma chance bem maior de conseguir também uma relação harmoniosa com as demais pessoas a sua volta.

Ao mesmo tempo que se promove esta reestruturação interna (com o objetivo de possibilitar ao indivíduo melhores condições de sair do vício e de se manter longe dele), os dependentes deveriam também passar por outros tipos de atividades: prática de esportes ( para restituir o cuidado com a saúde e a sociabilidade); cursos técnicos e profissionalizantes, como costura, culinária, artesanato, computação, desenho; e programas culturais, como discussão de livros e filmes. Tudo isso para reestruturar o indivíduo por inteiro, englobando vários aspectos humanos (social, intelectual, moral), todas desestruturadas pelo uso das drogas.

Após o indivíduo ter sua auto-estima novamente reequlibrada, ele vai ser capaz de andar sozinho. Neste ponto, uma boa opção seria o uso de clínicas semi-abertas. Os dependentes em recuperação passariam o dia na sociedade, estudando e trabalhando, e a noite voltariam para a clínica (ou hospital, ambulatório...) para compartilhar a experiência do dia, enumerando as vitórias e dificuldades do dia a dia. Seria uma reinserção social realizada aos poucos.

E, finalmente, quando se sentisse preparado, receberia alta. Conseguiria novamente a independência perdida pelas drogas. A motivação de encerrar o tratamento deve sempre partir do dependente, pois só ele tem reais e íntimas condições de se avaliar. Contudo, a equipe que o acompanha deve antes analisar o caso e dar possíveis outras orientações, não tendo a postura ingênua de liberar um paciente no início do tratamento, por exemplo, quando a dependência psico-biológica ainda está muito forte (embora muitos usuários tentem mostrar o contrário).

Glauber Vieira Ferreira
Enviado por Glauber Vieira Ferreira em 01/06/2008
Código do texto: T1015372
Classificação de conteúdo: seguro