Biocombustível, o bode expiatório!

O Brasil está se tornando um dos maiores produtores de etanol do mundo. Isso é uma conquista que devemos comemorar. Afinal quem diria que, o país do futebol e do carnaval, finalmente estaria destacando-se mundialmente na área de exportação de combustível? Mas para destacar-se e tornar-se o maior produtor de etanol do mundo, é preciso produzi-lo, e para isso, é preciso plantar muita cana-de-açúcar. É nesse ponto que surge a pergunta: Será que o aumento do preço dos alimentos tem a ver com a plantação de cana-de-açúcar para o fornecimento de biocombustível?

Deve-se levar em consideração que o aumento no preço dos alimentos não se dá por apenas um fator, esse aumento vem de relações muito complexas, incluem fatores como o aumento da demanda de economias que crescem rapidamente, queda nas colheitas devido a mudanças do clima, baixos estoques de alimentos, e claro o uso de alimentos para a produção de biocombustíveis, mas o tratamento pra essa questão está meio forçado ou, pelo menos, incompleto. As manifestações contra o etanol surgem em meio a grandes interesses comerciais.

O Brasil está despontando como potência mundial e isso desperta cobiça e reações naturais de seus concorrentes; não existe nenhum aumento substancial recente das plantações de cana por conta de novos acordos comerciais e exportações, o que leva a crer que o problema esteja centrado no etanol americano, que além de ocupar áreas muito mais extensas, vem sendo produto do milho, o que já provoca a diminuição da oferta de um importante insumo alimentar, além disso, o etanol dos EUA é, comprovadamente, pior do que o etanol brasileiro. Finalmente, o mais importante: toda monocultura é vilã, mas porque só falam da cana? Talvez por ser a única que envolva pequenos produtores, sempre atacam o elo mais fraco. O Brasil utiliza apenas 8% do seu potencial agrícola, sendo que apenas 1% é para a cana de açúcar, que é a principal matéria dos biocombustíveis brasileiros, e como nem a garapa, a rapadura ou o açúcar é a base da alimentação de nenhum país, o uso da cana para produzir combustível não inflaciona o preço dos alimentos, além disso alguns estudos comprovam que mesmo quando o etanol estiver no auge, serão utilizados apenas 5% do território agrícola para a produção de matéria para os biocombustíveis.

A pecuária extensiva, o eucalipto e a soja transgênica causam muito mais danos para a agricultura, para alimentação mundial e para a natureza, mas sobre essas produções, pouco se fala, porque envolvem grandes grupos econômicos, inclusive transnacionais. Assim, de repente, a cana passou a ser a vilã do mundo. Primeiro era a responsável pelo fim da Amazônia, agora, é a nova responsável pela crise mundial de alimentos, grandes falácias!

Se há fome no Brasil e no mundo, o biocombustível tem pouco haver com isso. Claro que não é por este motivo que o etanol e o biodiesel devem ser considerados “a salvação” para o quesito combustível. A muito chão pela frente antes de se resolverem estes problemas, a melhor solução inicial seria a redução da demanda, o que é muito difícil, porque para isso é necessária uma brusca mudança no estilo de vida da sociedade.

Ana Lisboa
Enviado por Ana Lisboa em 15/06/2008
Código do texto: T1036141
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