CENSURA E CRIATIVIDADE

“O povo gosta mesmo é “mela cueca””.

“Fiquei famoso por um livro que ninguém leu. Viva a censura!”.

“Se eu quiser um best-seller escrevo o óbvio”.

“A unanimidade é burra.”

Frases de escritores brasileiros.

Trazem à baila a dúvida: O que devemos escrever?

Escrever para nós ou para os outros?

Muitos escritores como, p.ex. Wilde, Rimbaud eram pessoas “censuráveis”.

Wilde, o crítico mordaz da sociedade britânica do século XIX foi condenado a trabalhos forçados pelo crime de sodomia.

Dorian Gray está mais vivo que nunca.

Neste livro, há uma pergunta feita a Dorian bem ilustrativa a respeito quanto a escrever para os outros ou aquilo que pensamos: “Qual o proveito de um homem que ganha o mundo inteiro, mas perde sua própria alma?”.

Àqueles que escrevem “melado” e acreditam que o mundo é realmente doce, não há o que se fazer. Estão a serviço da estagnação.

Aos que sabem da amargura e tentam adoçar, parabéns por tentar tornar alegre as tristezas. São paliativos.

Aos que revelam os fatos nus e crus, vamos em frente.

É preciso registrar-se as rudezas, nem que seja como ponto de partida para modificar-se a causa do amargo.

A arte vem, muitas vezes, antes da vida. Chega a prever acontecimentos.

1984.

Não verás país nenhum.

É muito fácil montar-se uma religião.

“Dai-me cinco minutos de concessão, eu monto uma religião”.

Porque religião?

Porque é um dos meios mais fáceis de vender produtos.

Água do Rio Jordão, Cds, livros com biografias de santos, como vencer o demônio, como enriquecer.

Diz a lenda, que a religião é a maior concorrente da auto-ajuda, sua sucessora que veio para ocupar o espaço perdido com o crescente ateísmo.

Ah! A auto-ajuda? Ajuda, na maioria das vezes, financeiramente, ao autor da obra, muito embora existam algumas obras fundamentadas sobre o processo de mentalizar, organizar-se e conquistar objetivos.

O segredo para o sucesso?

Em ambas as situações estão na outra ponta milhares de pessoas à busca de bálsamo para seus problemas. Sedentas de uma palavra de esperança e buscando encontrar externamente solução para suas questões.

De minha parte, sei apenas que devo escrever.

Psicografar o que as ondas cerebrais emanam.

Tempestade de idéias sobre tudo e todos os fatos que passam ao meu redor.

Felizmente, sou um quase ignorante aprendiz diário dessa arte.

Lia muito e de tudo, quando tinha maior capacidade de atenção.

Inclusive autores malditos, censuráveis pelos padrões culturais vigentes às suas épocas.

Versejei na poesia de abertura de meu livro “Falando de amor e outras coisas mais”: “Eu quero ser um poeta torto”.

Ser censurado, até, mas deixando, sempre, fluir a criatividade.

Mesmo sendo, vez ou outra, processado, ameaçado ou censurado.

Não importa muito quantos lerão o texto.

Ou concordarão.

Errar muito, ciente que um pequeno acerto é a soma da correção de muitos erros.

Às vezes, tenho a leve impressão que estou no caminho certo.

É só seguir em frente.

Aí, aparece uma pedra no caminho, machuco o pé e tenho que ir tateando novamente no escuro.

Buscando uma luz que está lá longe e sei que existe.

Pode ser que pelo menos alguém acredite na luz e, por ser melhor, descubra um caminho mais rapidamente.

Ou no mínimo, sabendo que há gosto para tudo.

Só não vale a censura.

Externa ou interna.

Afinal, é proibido proibir.

Ou não...

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http://apostolosdepedro.blogspot.com

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 17/06/2008
Reeditado em 18/06/2008
Código do texto: T1037809
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