Depressão - um outro Olhar

De acordo com a medicina depressão é "enquanto evento psiquiátrico [...] é uma doença como outra qualquer que exige tratamento." Ninguém discorda, e todos nós conhecemos pessoas depressivas, e muitas vezes tentamos ajudar com palavras amigas do tipo "levanta, sacode a poeira... da um sorriso".

A impressão que se tem é que o depressivo está triste porque quer e basta dar um giro pela cidade, pela balada ou sair às compras para voltar renovado.

Quisera fosse tão simples assim....

Em contrapartida, não é um bicho de sete cabeças como vemos a mídia frequentemente publicar. E nem toda crise de tristeza pode ser considerada depressão.

Estamos vivendo a era "Polliana", onde somos cobrados frequentemente a ser felizes. O mundo parece não ter lugar para que as pessoas sejam tristes, solitárias, etc... Existe uma cobrança por parte da sociedade, para que sejamos sempre felizes, estejamos sempre acompanhadas, com o peso abaixo da média, cabelos lisinhos, botox na testa, etc... ter ruga parece que virou pecado capital. Dentro de pouco tempo vão reescrever o Decálogo, mais ou menos nestes termos:

1. Adorará o Prozac e amá-lo sobre todas as coisas.

2. Não verterá lágrimas em vão.

3. Guardar o apetite aos domingos e festas (se possível não tenha apetite NUNCA)

4. Honrar academia.

5. Não matar terapia.

6. Não deixe as gordurinhas se acumularem ao redor de seu corpo para pecar contra a castidade.

7. Não comerás açúcar

8. Não seja solitário.

9. Não fique doente.

10. Não viva naturalmente. Aja sempre de acordo com os padrões de vida impostos pela mídia.

Porém, quando lemos o jornal e vemos que o índice de pobreza aumenta, fico me perguntando o que realmente faz com quma pessoa se sinta triste e deprimida: se é o fato de não ter companhia pra ir no jantar, ou não ter um copo de leite pra dar pros filhos?

Nâo estou desmerecendo a tristeza dos solitários, nem das garotas com sobrepeso. Toda frustação dói, não importa qual seja.

O que estou colocando é que existem pessoas que sofrem (de verdade) por motivos graves e nem por isso perdem a alegria de viver.

Por que será?

Será que essas pessoas, mais simplórias nunca ouviram falar que depressão é doença, portanto não sentem, e se sentem não sabem que sentem, e assim sendo, buscam formas mais práticas de aliviar seus sofrimentos?

Será que não estamos recebendo um bombardeio de informação da mídia, e assimilando seus mandamentos?

Falo isso porque hoje em dia é quase crime ser triste. Se alguém está triste por que perdeu um relacionamento, a sociedade, sugestiona a pessoa a procurar outro parceiro logo:

"Não fique aí chorando. Levanta a cabeça e procura outro".

Na internet é muito frequente nos depararmos com banners do tipo:

"Começe a namorar em 5 minutos". Como se fosse simples asssim; isso me soa como se a net fosse uma grande vitrine e as pessoas, mercadorias. O solitário entra num desses sites de relacionamentos, traça um perfil adequado, clica num botão e o resultado das buscas surge, em menos de 5 minutos.

Mas será que as pessoas não tem sentimentos? Será que o ser humano não pode simplesmente querer ficar sozinho, chorando num canto suas mágoas, curtindo sua depressão e vivenciando sua perda, seu luto? (luto no sentido de perda afetiva).

Porque existe essa imposição Polliana "Seja feliz ou não será aceito". "use uma máscara para esconder suas tristezas". "Pense sempre positivo, não pense em coisas ruins, enterre o passado"

Ocorre que enterrar a tristeza é a forma mais simples de ficar nela para sempre!!

São justamente os momentos de amargura, de choro, de sofrimento que nos trazem elucidações.

São justamente as lágrimas que nos trazem o alívio do sofrimento.

São justamente os momentos de solidão, que nos fazem refletir e encontrar a nós mesmos.

Pense nisso.

Com afeto

A.F.

Psicologa Maristela Vallim Botari
Enviado por Psicologa Maristela Vallim Botari em 22/06/2008
Reeditado em 22/06/2008
Código do texto: T1045757
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.