O ópio que leva à religião

O ópio que leva à religião

Desde que nos entendemos por seres livres, temos total direito de escolhermos a forma que gastaremos o nosso tempo. Algumas pessoas preferem gastá-lo com hobbies, outros já gostam de se envolverem com artes ou esportes e os sem opção, que são a maioria, buscam a religião.

Todo ser humano vive em busca de se superar cada vez mais. Se não fosse por isso, ninguém estaria ai cursando faculdades e pós-graduações ou tentando concursos públicos, sempre procurando estar um passo acima na escala sócio-evolutiva. Cada um enfrenta os desafios da vida de uma maneira, mas no fim todas levam ao mesmo lugar. Para aqueles que colecionam coisas, sempre existirá um item cada vez mais raro, para os drogados sempre haverá uma droga mais potente, para os médicos, sempre surgirão casos cada vez mais específicos, o que torna a rotina diversificada e prazerosa.

E nessa escala em busca da auto-superação entram aqueles que se dizem melhores do que todos porque são fiéis a Deus, afirmando que não podemos perder tempo com coisas mundanas, e que nossos pensamentos devem estar voltados exclusivamente para o Divino. Será que ao dizer essas palavras, eles não se dão conta do tamanho de sua ironia? Se não fossem as “coisas mundanas” com que o homem perdeu seu tempo, hoje não teríamos a roda, a energia elétrica os aviões, etc. Se os religiosos são realmente superiores, eles deveriam provar sua autoridade vivendo em uma vila isolada, sem luz, caminhando sem auxílio de nenhum veículo, fugindo ao máximo dos assuntos mundanos. Mas, como são mestres na arte da auto-enganação, eles apenas fogem da sua própria felicidade e ideais, fingindo esquecer aquilo que realmente querem encontrar, confiando em dogmas que mudam de acordo com suas necessidades.

Não consigo acreditar que uma freira nunca tenha sentido vontade de ir a um baile funk. Como já ouvi muitas garotas dizendo: “Se nada der certo na vida, vou para um convento”. Primeiramente, elas querem gozar dos pecados carnais. Na falta deles, erguem um muro e fogem, usando uma máscara de irmã bondosa e generosa que se abdicou de sua vida sexual por livre e espontânea vontade. Da mesma forma que não sei como alguém consegue ler a Bíblia, um livro chato e com uma linguagem arcaica, e dizer que sente prazer pela leitura.

Podemos comparar a auto-enganação através de dois exemplos: um soldado vive dos traumas de uma guerra, e, para amenizar a dor e espantar aquele sentimento que o tortura, ele utiliza algumas drogas ilegais. Durante aquele momento, curto ou longo, ele atribui ao produto a sua liberdade e a sua segurança de vida. Mesmo sendo contra os seus princípios, ele não quer sentir aquela dor novamente, e continuará repetindo a dosagem, optando por ficar anestesiado, trancado em seu mundo particular. O mesmo caso aplica-se durante a conversão religiosa. Suponhamos que você sofra um acidente automobilístico, e por um triz escape da morte. Se fosse um físico, bastaria um cálculo de aceleração para entender o que te fez sobreviver, mas como a física é uma disciplina complexa, você dedica a sua sobrevivência a Deus, e a partir daí começa acreditar em milagres, abrindo a sua mente para receber todo e qualquer tipo de pregação, que faz com que Deus pareça a coisa mais simples do universo, mas que nem mesmo os pregadores sabem explicar.

Comparando esses dois exemplos, eu quis mostrar que a mesma mente fraca que leva uma pessoa às drogas, pode levar a pessoa também para a religião. Definir o que é a verdadeira salvação, e se a pessoa quer ser (e se precisa ser) salva, fica a cargo do indivíduo “problemático”. Cada ser humano trilha um caminho diferente. Respeitar as suas escolhas é dever fundamental para o bom esclarecimento pessoal e para aprender a viver em sociedade, mas dizer que são os únicos donos da verdade, e que o resto do mundo não presta e está condenado ao inferno, é um pensamento muito insignificante e primitivo, que deveria ser revisto.

Conheço diversas pessoas que são adeptas a alguma religião, mas permanecem em silencio e respeitam a todos. Essas sim, são pessoas esclarecidas. Acho que da mesma forma que um padeiro não dá palpites no trabalho de um médico, os que crêem em alguma religião deveriam respeitar mais as escolhas das pessoas comuns.

Lalinho
Enviado por Lalinho em 24/06/2008
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