A CRÍTICA DEMOLIDORA DE MONTEIRO LOBATO

Recém-chegada da Europa e dos Estados Unidos, onde foi estudar pintura, Anita Malfatti, resolveu, com o apoio dos amigos, organizar a sua exposição de pintura moderna nos meses de dezembro de 1917 e janeiro de 1918.

Ela e um grupo de vanguardistas de São Paulo acreditavam que havia chegado a hora da arte no Brasil abandonar os modelos tradicionais e buscar novos rumos.

No acanhado meio artístico paulistano, a exposição provocou comentários contra e a favor. No entanto um artigo do Jornal “O Estado de São Paulo”, de autoria de Monteiro Lobato, que também era crítico de arte, ultrapassou dos limites da sua conhecida lucidez.

Leia, abaixo, fragmentos do artigo denominado “Paranoia ou Mistificação?”, de autoria de Monteiro Lobato, sobre a Exposição de Anita Malfatti:

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas(..) A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...) Embora eles se deem como novos, precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e com a mistificação.(...) Essas considerações são provocadas pela exposição da senhora Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia”.

A reação da elite paulistana, que confiava cegamente nas opiniões e gostos pessoais do autor de Urupês, é imediata: escândalo, quadros devolvidos, uma tentativa de agressão à pintora, a mostra é fechada antes do tempo.

O artigo demolidor e as suas consequências serviram para que os jovens "vanguardistas" brasileiros, até então dispersos, isolados em pequenos agrupamentos, se unissem em torno de um ideal comum: destruir as manifestações artísticas que remontavam ao século XIX, especificamente, no caso da literatura, o parnasianismo poético, medíocre e superado.

Neste sentido, a exposição de Anita Malfatti funciona como estopim de um movimento que explodiria na Semana de Arte Moderna de 1922.

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 30/06/2008
Reeditado em 27/08/2018
Código do texto: T1058764
Classificação de conteúdo: seguro