É a leitura um fator crucial de inclusão social ?

É a leitura um fator crucial de inclusão social ?

Falar de inclusão social nos remete a diversas reflexões. Reflexões que geralmente partem da crítica ao Estado e fluem até tomadas de consciência individuais – afinal somos todos indivíduos, parte do todo. Entretanto, na grossa maioria das vezes em que somos convidados a reflexões deste tipo, conformamo-nos em apenas refletir (quando encontramos tempo para tal), ou ainda fazemo-nos de rogados e simplesmente desconsideramos o tema de nossa lista de prioridades: o social é um problema público, logo..., assim ninguém (ou pouquíssimos) fazem sua efetiva parte.

No livro “Educação, Cidadania e Direitos Humanos” , (Vozes, 2004), somos convidados a participar da dialética da inclusão social pela sua porta da frente: a questão educacional. A participação do docente é enaltecida pelos pensadores que co-assinam a obra, sempre vista por diversos ângulos diferentes mas todas enfocando um único alvo: como pode o professor auxiliar seu público a tornar-se cidadão definitivamente incluso na sociedade em que vivemos, garantindo e preservando as premissas naturais dos Direitos Humanos. Sugestões, reflexões agudas e filosóficas nos são oferecidas – precisamos então digeri-las, analisá-las e agir, todos, indivíduos, grupos e comunidades: a população; pois nos é mostrado, sempre sob o amparo de pesquisas, fontes seguras e raciocínio lógico que há soluções e pasmem, não são soluções evidenciadas pelo campo da utopia ou da ideologia, mas do cotidiano e da prática.

Dos diversos temas ali apresentados, um em específico parece bastante plausível e de fácil aplicação metodológica, chama-se “O direito à literatura” de Antonio Candido de Mello e Souza. Neste texto, o autor nos fala de quanto pode uma pessoa ampliar seus horizontes partindo da literatura; e este é também o enfoque deste artigo.

É sabido pela classe docente que o aluno que lê, abre sua mente para um mundo maior, logo direciona seu imaginário para fronteiras cada vez mais longínquas e toma posse de conhecimentos que quotidianamente o leva a reflexões, pensamentos e desejos transcendentes à categoria de excluído (a qual faz-se presente para mais de dois terços do contingente de alunos das escolas dos países da periferia do mundo). Então, como implementar processos pedagógicos onde a leitura adquiriria caráter fundamental para a formação de cidadãos completos? Três etapas prévias deveriam ser percorridas:

Requalificação dos professores, não só de Língua Portuguesa, mas de todas disciplinas da área de humanas, no intuito de atualizá-los frente ao mercado editorial emergente, novos autores e novos temas, assim como prepará-los para ministrar temas já consolidados tal qual a literatura clássica;

Implantação de Oficinas de Leitura em todas escolas, capitaneadas por um docente específico da área de Literatura, onde dinâmicas de leitura, tal qual a produção de textos fizessem-se práticas constantes e obrigatórias do currículo escolar do ensino fundamental e médio;

Revisão e auditoria junto às bibliotecas escolares, visando a compra de títulos pertinentes ao programa, em quantidade satisfatória e de abordagens diversas, incluindo além de livros de literatura obrigatórios, títulos destinados ao entretenimento de qualidade, filosofia, sociologia, ciências políticas e religião.

O primeiro dos três tópicos foi sugerido porque atualmente, é mister a dificuldade e talvez o desinteresse do professor na averiguação de novas leituras, novos textos e renovações de todo tipo junto ao tema, tal qual o desencantamento pelo mesmo, uma vez que a grande maioria da população de alunos não pode adquirir livros em função do preço nem tampouco conta com uma retaguarda pública eficiente dentro das escolas. É fato também o despreparo percebido no que diz respeito aos processos de leitura junto aos candidatos ao professorado, alunos das universidades particulares (inclusive Letras). Portanto, cabe uma atitude paralela, seja do Estado, seja da iniciativa privada na requalificação do corpo docente em função desta necessidade.

A implantação de Oficinas de Leitura é no mínimo imprescindível; imagine o leitor, alunos tendo contato com textos clássicos da literatura universal e adquirindo meios para compreendê-los, interpretá-los e aplicar suas mensagens no mundo micro em que vivem. Crê-se que o senso de mundo, de humanização, de iluminismo e de cultura, pelos livros e só por eles, far-se-á real assim que seus olhos captarem as mensagens explícitas nas tantas histórias que a literatura nos oferece. Imaginem nossos adolescentes argumentando sobre a ética humana através das mensagens de Fausto ou Crime e Castigo, destrinchando a mitologia e valorizando o poder do homem através da Ilíada ou da Odisséia, revendo valores sociais nas linhas de Os Maias e Primo Basílio , podendo sonhar ao redor do mundo em Volta ao mundo em 80 dias, fantasiar as mais belos romances nas Mil e Uma Noites, viver o valor do índio brasileiro em O Guarani ou Iracema... Como diria Jorge Luís Borges: “o homem é aquilo que ele lê”.

Lendo, o aluno além de se incluir num mundo macro, sem fronteiras e verdadeiramente infinito, conseguirá obter seu credenciamento para uma cidadania ativa, versátil e ampla. Lendo ele também poderá adquirir uma linguagem e um vocabulário mais vasto, mais eficiente, ter mais assunto. Sem dúvida diferenciar-se-á como indivíduo e aspirará aos degraus mais altos e mais elaborados da existência humana. Precisará trabalhar menos fisicamente no futuro para receber mais, enfim, será livre.

Para que a implantação desta ou de qualquer outra idéia que fomente a qualidade de ensino no nosso país dê certo, é mister a necessidade de averiguação e auditoria dos órgãos e serviços ligados à iniciativa e sua implementação: não podemos mais permitir que sejamos “roubados”, “enganados” e “ludibriados” por organismos, pessoas e administradores da coisa pública que certamente não conheceram na sua época de alunos, definições claras para as palavras ética e integridade.

Concluindo, é claro que a idéia apresentada é apenas mais uma sugestão, e sugestões podem ou não ser acatadas pelos nossos representantes junto aos parlamentos, entretanto, não podemos esperar mais. Nossa população tem sede de liberdade e de inclusão social, façamos então nosso papel humanístico individual: levemos às nossas salas de aula, conceitos éticos eficientes, incluamos nossos alunos num perfil cidadão, leiamos mais e sempre, levemos aos nossos alunos leituras clássicas, leituras novas, leituras, leituras e mais leituras para, quem sabe desta forma, obter num futuro próximo uma sociedade mais culta, mais sábia, mais lingüística e mais humana.

Rodrigo Augusto Prado

Rodrigo Augusto Fiedler
Enviado por Rodrigo Augusto Fiedler em 03/07/2008
Código do texto: T1062566