A crucificação da Polícia

Há uma linha tênue entre a idolatria e a desmoralização de uma instituição. Um bom exemplo, inclusive atual, é a Polícia – em todas as suas esferas. Enquanto muitos aplaudem a Federal pelo rol de prisões e investigações bem sucedidas, outros setores cometem verdadeiros crimes por incrível falta de preparo – leia-se escassos investimentos dos estados. Uma criança inocente teve sua vida ceifada no Rio de Janeiro e sabe-se lá o que passava na cabeça dos policiais que efetuaram os disparos – provavelmente pensavam no belo salário que recebem para levar tiro de bandido naquelas favelas – escola do crime e do tráfico.

O problema aumenta quando as instituições não se entendem, como no recente caso da investigação Satiagraha (dezenas de figurões envolvidos em fraudes no mercado de capitais, lavagem de dinheiro, corrupção, formação de quadrilha e tráfico de influência). A Polícia Federal algemou alguns bonitões e causou desconforto ao presidente do Supremo Gilmar Mendes. Reclamou de abuso de poder e ainda teve um entra-e-sai da cadeia dos fraudulentos milionários que chega a descredenciar o Judiciário. Alguém notou a agilidade com que foi concedido o habeas corpus para os empresários e aquele ex-prefeito de São Paulo, a maior cidade do país? Nossa, a Justiça brasileira é mesmo rápida! O curioso foi o afastamento dos delegados responsáveis pela investigação, assim como aquela reunião do Tarso Genro para mostrar que estava tudo bem. Ah, então tá!

Viajando pelo país, aqui pelo Sul a PF também faz a sua parte como no caso do Detran – depois os deputados tentaram aparecer um pouco e estremeceram o Governo Yeda, muito mais pelas declarações do vice Paulo Feijó. Vai ser difícil dizer quem embolsou aqueles milhões, mas tudo sobrevoa acertos políticos, trocas de cargos e, claro, não dava para fiscalizar e encher o bolso ao mesmo tempo. Sobrou para quem? Dá-lhe, Polícia, que acaba sendo crucificada um dia e por erros inadmissíveis, mas beatizada três dias depois. Regionalizando ainda mais, Cachoeira do Sul também pode se orgulhar de seus policiais – notem o número de prisões noticiadas na mídia e o trabalho investigatório nos casos mais nebulosos. Porém, logicamente, os brigadianos sofrem e falham como qualquer ser humano. Também é um trabalho difícil correr atrás de bandidos em viaturas velhas enquanto eles fogem em uma Ferrari.