NORMOSE

Tem uma nova doença na praça. É a Normose.

Antes de ser doença, é também uma palavra nova. Serve para definir a pessoa que está sofrendo de ser normal.

Vamos deixar claro. Quem está sofrendo de Normose, está padecendo da doença de ser normal.

Entendeu? Não? É complicado.

Temos que viver dentro de um padrão socialmente aceitável, de acordo com as evoluções humanas atuais. Isto é, dentro de padrões pré-estabelecidos pela sociedade tida como avançada.

Devemos nos encaixar num padrão que não é nada fácil de ser alcançado, pois eu, por exemplo, como sujeito integrante do sistema, para parecer normal, tem que manter uma constituição física sarada e mais, ser razoavelmente bem sucedido financeiramente.

A partir daí, já estou excluído da normosidade. Se esta variação da Normose não existia, anotem: direitos autorais para mim, por favor.

Atualmente parece que devemos viver mantendo uma enganação permanente.

Nos últimos dias foi promulgada a lei da tolerância zero para o álcool. Entre muitas brincadeiras que tripudiam a lei, que para mim é inócua porque não tenho esse hábito de consumo, ou padeço da doença do alcoolismo, como a medicina trata, mas, simplesmente para me encaixar dentro dos padrões da normosidade, caso contrário, sou doente simplesmente.

Aqui em casa estamos policiando o vinagre, ora de álcool, ora de vinho que usamos, porque um regiminho semanal a base de saladas poderá nos sujeitar perder a carteira de habilitação e pontuá-la negativamente, ser multado, e de repente ser preso protestando, porque até explicar para o guarda, o mesmo que provavelmente não sabe o que é Normose, ao ser informado do que é, poderá nos prender por desacato, ou ofensas morais, o que não seria nenhum absurdo quando se topa com despreparados para a função posando de poderoso cometendo abusos.

Como se não bastasse à depressão, tida como o principal gerador do mal do século, provocando uma imensidão de efeitos colaterais, agora inventam a Normose.

A Normose nos obriga a lembrar de ditaduras, e se perguntar quem são esses ditadores de comportamentos? Provavelmente são daqueles que não puderam contar com o apoio dos filhos, física e afetivamente.

A “santa inquisição” fez ligações malignas até para as parteiras que nos “aparavam” desde que o mundo é mundo, taxando-as de bruxas e condenando-as à fogueira.

A Normose não conta com aspectos etéreos como justificativa para se implantar no mundo. As mutações de palavras se mostram eficazes na hora de mudar de formas usuais, mas ficam devendo quanto ao conteúdo.

A ninguém é dado o direito de exigir que você se comporte dessa ou daquela forma, ou faça prova contra si mesmo de acordo com a Constituição Federal, como é o caso de assoprar no bafômetro para medir o teor alcoólico. Há duplicidade de lei. A primeira é tida como ideal. A segunda é mais um modismo do atual governo. O problema todo mundo sabe que é de educação simplesmente.

O que se espera da humanidade? Pobrezinha, já pagou preços altíssimos pelos seus próprios destemperos.

A Normose estimula a ânsia de querer o que não se precisa.

Consta que quem inventou a Normose é aliado das adjacentes das neurociências. Consagrada ela vai fazer em pouco tempo você pagar terapeutas para ter com quem conversar.

A Normose é uma fraude. Leva a pessoa para hábitos inconscientes além de estar na base de uma crença da separatividade gerando distorções básicas na percepção da realidade, prática da corrupção e a produção de autômatos na vida cotidiana, considerando-a descartável, especificamente com ausência de valores éticos, onde o sujeito isento de sentimentos desaparece.

Voltando a “santa inquisição” igual à ditadura – que a terra lhes seja pesada - foi pensando normosamente que surgiram as guerras justas, as guerras santas e as vitórias militares.

Conhecido educador e psicólogo francês residente no Brasil, Pierre Weil, numa brincadeira com palavras indicou, na inflação de produtos no mercado, o estímulo à consumatose, que é a compulsão de comprar. A normose na educação via informática que submetida à consumatose, leva à informose. E não pára por aí...

Noves fora, penso que deveríamos nos preocupar um pouco mais com a energia do amor e da compaixão com alteridade, fazendo da vida íntegra mais um ato de solidariedade evitando equívocos que a Normose pode provocar, e em vez de uma vida, salvar duas.

O entendimento de tudo que nos acontece, assim como de todas as coisas, se dá por etapas.

O percurso da inquietude de cada experiência são sentimentos que não podem ser divididos com ninguém porque são únicos, indivisíveis. Suas formas não podem ser alcançadas por ninguém.

Nilton Salvador
Enviado por Nilton Salvador em 23/07/2008
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