Elas contam boas histórias...
Certa vez, o músico Ray Charles decidiu gravar uma música caipira americana, precussora da atual "country music" ianque.
O produtor, sabendo que Ray era uma virtuose do Jazz e do Blues, perguntou porque ele gostava daquela música cantada por caipiras, e Ray respondeu:
_ Elas contam boas histórias...
Eu confesso que não gosto de música sertaneja, esse negócio de Zezé de Camargo & Luciano, Leandro (in memorian) & Leonardo, Edson & Hudson, César Menotti & Fabiano, no meu entender, não é música sertaneja e passa longe de música caipira, tratando-se de meras criações, produtos da indústria fonográfica e radiofônica, que tocam a música vinte e quatro horas para grudarem nos ouvidos e mentes dos ouvintes e venderem bastante CD´s.
Mas eu gosto, admiro, ouço e recomendo a verdadeira música sertaneja, a música caipira ou de raiz, aquela que conta boas histórias.
O maior fenômeno (sou supeito para falar, pois sou fã) é o saudoso Tião Carreiro, já falecido violeiro e cantador, que tocava modas que ainda gelam a espinha quando o caboclo escuta.
Quando ouço as músicas (ótimas histórias), vejo que ele sempre discorre sobre o preconceito (racial e social), sobre os conflitos familiares, sobre a ambição e auto-destruição da raça humana, e cenas da vida cotidiana da época, como o agricultor de café, sujeito rico e almofadinha que tenta humilhar o cara mal-vestido e depois descobre que o tal cara "amarrava um boi para cada pé de café" do despeitado; ou do pai que mata um negro, pois o viu com sua filha (e pensou que este a bolinava), e depois descobre que a garota havia sido picada por uma cobra e o negro na verdade estava tratando de curá-la, e até do rapaz que por amor, enfrenta a ira de um pai cruel e seus capangas.
São histórias do passado, que se encaixam perfeitamente no cotidiano da vida atual e passa a sabedoria desse mineiro da região de Montes Claros, que juntamente com seu parceiro Pardinho, conquistou o Brasil com seus versos e seu toque de viola.