Conhecendo o TOC

Você já deve ter percebido que cada pessoa, por mais parecida que seja com alguém, mesmo que seja gêmeo, é diferente em seu modo de agir. Isto nos torna uma pessoa única. Desde muito cedo, antes mesmo de nascer, nós começamos a entrar em contato com as coisas que nos cercam. Passamos a ter contato com a nossa mãe, o temperamento dela, os ambientes que ela freqüenta, as sensações em nosso corpo como fome, sede, cólica, depois as visitas que chegam, o contato com outras crianças e assim por diante. Tudo o que se passa conosco passa a fazer parte de nossa vida, alterando nossa forma de ser e sendo modificado pelas nossas ações.

É tanta coisa que passa por nossa vida que fica difícil cada um descrever o porque de tudo o que faz. Muitas e muitas coisas que fazemos sequer percebemos. Andar, por exemplo, é um comportamento muito complexo que envolve um sistema de órgãos, músculos e ossos complicado e a maioria das pessoas anda, corre e faz as mais diversas acrobacias tão facilmente que nem percebem. Outras coisas parecem ser muito fáceis, tais como chorar. Os bebês choram assim que nascem e, num primeiro momento, qualquer pessoa pode chorar, até mesmo mudos, deficientes mentais e toda sorte de pessoa. Porém muitas pessoas mesmo diante de grande sofrimento e esforço não conseguem soltar uma lágrima que seja, ou mesmo ter a sensação tão natural que a maioria das pessoas têm quando sofrem.

Por estas coisas não é adequado comparar as habilidades e dificuldades das pessoas. Cada um tem as suas próprias e com elas a possibilidade de aumentar as habilidades e reduzir as dificuldades. Muitas pessoas passam anos de sua vida sofrendo com coisas que fazem ou não conseguem fazer, sem conseguir entender o porque ou mesmo como mudar isto. Uma coisa simples e cotidiana para um se torna um problema estressante e doloroso para outro.

Uma série de dificuldades vem de um distúrbio psicológico chamado transtorno obsessivo-compulsivo, ou simplesmente TOC. Hoje já é muito comum ouvir falar do TOC nas emissoras de rádio, TV, nas rodas de conversas e em todo lugar. Pessoas famosas como Roberto Carlos, Santos Dumont e tantos outros têm suas vidas expostas na mídia “diagnosticados” com o tal transtorno.

Geralmente, o TOC é apresentado como uma mera repetição sistemática de comportamentos ou, principalmente uma mania de limpeza e organização que chama a atenção das outras pessoas. Porém o TOC é muito mais do que isto. Não basta gostar de organizar e limpar as coisas para ter TOC, uma característica importante para identifica-lo é o exagero e a grande dificuldade de ir contra ele. Uma pessoa com TOC que apresenta compulsão (grande necessidade) de limpeza, não consegue facilmente comer numa vasilha que ele mesmo não tenha lavado várias e várias vezes, chegando a passar por situações constrangedoras e desagradáveis por isto.

Esta dificuldade vem, geralmente, de uma história de vida carregada de medo e sensação de desproteção, sendo necessário desenvolver formas de se sentir protegido ou proteger aqueles que ama. O próprio nome, já indica que ele é um transtorno, uma forma prejudicial de agir, acompanhada de obsessões, que são pensamentos pessimistas e catastróficos que persistem em passar pela cabeça daquele que sofre com o TOC, sendo acompanhado de compulsões, que são os rituais que a pessoa faz para se livrar das obsessões, agindo geralmente de forma descontrolada, como se não tivesse alternativa,

Estes rituais para a pessoa que sofre com o TOC são tão fundamentais para ela quanto respirar. Ela acredita que se não o fizer, algo de muito ruim pode acontecer a ela ou àqueles que ela ama, muitas vezes nem sequer conseguem compreender como outras pessoas conseguem sobreviver sem estes “cuidados”.

A princípio, este comportamento é bem aceito e até admirado pelas pessoas. Com o tempo os rituais passam a ser mais freqüentes e intensos e começam a incomodar os amigos e parentes. Depois começam a aparecer as situações constrangedoras, tais como demorar quatro horas no banho consumindo dois sabonetes por dia, ficar o dia inteiro com fome por não confiar na higiene do cozinheiro, deixar de entrar num recinto por não pisar nas linhas do piso ou lavar-se tão persistentemente que chega a ferir severamente a pele.

As compulsões mais comuns são:

De lavagem ou limpeza

Verificações ou controle

Repetições ou confirmações

Contagens

Ordem, simetria, seqüência ou alinhamento

Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis

(colecionismo), poupar ou economizar

Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números

Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos.

Estas dificuldades podem ser controladas através de tratamento adequado. Algumas pessoas conseguem deixar o TOC apenas forçando por elas mesmas o confronto com a compulsão e desenvolvimento de estratégias para quebrar o ritual e as obsessões. Outras pessoas precisam de acompanhamento com psicólogo e outros ainda, além do psicólogo, requerem uso de medicação com um psiquiatra. Sim, psiquiatra! Ao contrário do que as pessoas pensam, o psiquiatra é um médico especialista como qualquer outro, trabalhando pela saúde e bem estar dos pacientes e daqueles que convivem com eles. Qualquer pessoa pode precisar ou recorrer aos serviços destes profissionais para ajudar a solucionar dificuldades cotidianas.